Ensaios com Montaigne - Por que abrir os olhos?

“Não há nada tão grande nem tão agradável à primeira vista que aos poucos não nos cause menos admiração.”

Conta-nos Zygmunt Bauman que uma jovem menina, quando perguntada sobre o que era mais importante na sua vida, algo essencial, sem o qual ela não viveria, ela respondeu: meu celular.

O que é uma coisa banal? Aquilo que se tornou desvalorizado a tal ponto, que não desperta mais o nosso interesse. Com essa questão, Bauman pensa no caso do ar. Se ficássemos, pelo menos uns 3 minutos sem ele morreríamos. De nada valeria tudo o que somos e que temos sem ele.

Ora, podemos supor que a partir do momento em que uma pessoa não consegue mais enxergar riqueza na vida, mas somente naquilo que é exterior, consumível, a hipótese de que o sentido da vida seja esvaziado tal como viu Nietzsche, já no século 19, está comprovada. Uma forma simples de observar isso na prática é perguntar: o que você faria se ganhasse milhões da mega sena?

Se a vida vem passando por momentos de empobrecimento por aqueles que a negam em detrimento de avanços de concreto, onde caberá espaço para a filosofia? Se não vemos pessoas se perguntando o por quê da vida é porque não há razão para eles fazer essa questão, pois o conforto e suas distrações lhes são suficientes para continuarem suas viagens em direção à morte.

Qual criança, tendo em suas mãos seu brinquedo favorito, sua fonte de felicidade, iria se preocupar em trabalhar? Em se engajar com questões sociais? Sair de seu estado de ignorância?

Quem se prende a raízes dificilmente abandonará sua terra. "Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração". Talvez, aí, uma das causas das guerras. Disputa-se o que lhe pertencem ou o que desejam possuir. Lutar por aquilo que passa, que não levaremos para o túmulo, não estaria aí o sentido de erguer uma casa em cima da areia?

“Tudo é vento que passa”. Aqueles que acham que não passa, simplesmente dão voltas em uma linha reta, perdem o benefício de seguirem adiante, para serem arrastados pelo instante.

Não atoa vivemos em mundo avançado e de trevas pré-históricas e medievais, onde a abundância anda ao lado da fome e da miséria, sem vê-la. “Eu sou aquele que tudo nega”.

"Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: 'Cuide dele. Quando eu voltar, pagarei todas as despesas que você tiver'. "Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?" "Aquele que teve misericórdia dele", respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: "Vá e faça o mesmo".

“Não há nada de novo abaixo do sol."

“A ação deles reduz-se a saudosas rememorações. Imobilizaram-se na eternidade dos modelos, em que a vida se preserva timidamente na morte.”