Ensaios com Montaigne - Por que dizer o que ainda não foi dito?

“E estando a inquietação e a incerteza no fundo de todas as precauções que tomamos, mais vale preparar-se corajosamente para o que der e vier e tirar algum consolo daquilo que não temos certeza venha ocorrer”. (MONTAIGNE, ENSAIOS, Uma mesma linha de conduta pode levar a resultados diversos)

Se ousássemos dar um passo apenas com a condição de que soubéssemos previamente onde chegaríamos, certamente, bem pobre seria nossa vida. Estamos condenados à liberdade, bem disse Sartre, mas também, eu o digo, para a inevitabilidade e para a escravidão - por tempo limitado ou não -, de acordo com nossas escolhas. Daí a angústia da escolha, do trajeto, do destino. Muito mais fácil é adotarmos como guia as pegadas dos outros e até sermos conduzidos por um pastor. Não atoa vivemos a era do rebanho.

No passado, já fui em uma passagem pela vida, daqueles que nem optavam pelo rebanho, nem pela coragem de caminhar no escuro. Embora não conhecesse ainda os céticos pirrônicos, como eles, não sabendo o que era a Verdade, e nem a melhor forma de agir, levava a suspensão do juízo (epoké) ao extremo. Diante da incerteza, da insegurança, as vezes, contentava-me, arruinava-me e atormentava-me não me mexendo, não julgando, deixando que as circunstancias resolvessem ou não, por conta própria, o que deveria e poderia ser feito, geralmente quando era contra o que estava determinado. Sendo o acaso cego - assim como a vontade do homem (e o seu mundo) guiada pelo desejo segundo Schopenhauer - ou não, mas tendo isso em vista, sabia que dificilmente algo bom resultaria das minhas negligências ao se encontrarem com as negligências dos outros. Mentiras tapavam o sol com a peneira, assim como as mãos tentavam impedir as tempestades.

O que ganhamos em não nos mover por conta do medo de sermos reprovados, perseguidos e punidos? Nada! O que ganhamos em nos mexer, ainda que fracassemos aos olhos do mundo é que encontraremos novas respostas, mais experiências, mais vida: vida nova.

“A opinião, desemparada de fundamento seguro, pode auxiliar os pensantes como jogo. Opiniões são lances que podem dar com verdades que escapam à severidade do método."

“Caminho nenhum é seguro. Reprovação merece quem interrompe a investigação. Privamo-nos de recursos de matamos a criança que fomos um dia."

"Havia um importante trabalho a ser feito e todo o mundo tinha a certeza que alguém ia fazê-lo. Qualquer um poderia tê-lo feito mas ninguém o fez. Alguém zangou-se porque era um trabalho de todo mundo. Todo mundo pensou que qualquer um poderia fazê-lo, mas ninguém imaginou que todo o mundo deixasse de fazê-lo. Ao final, todo o mundo culpou alguém quando ninguém fez o que qualquer um poderia ter feito."