Ensaios com Montaigne - O que é a amizade?

“Porque era ele, porque era eu.” (MONTAIGNE, ENSAIOS, Da amizade)

Existem fórmulas para a amizade? O que é a amizade? Qual é o seu sentido, o seu por quê? Segundo Montaigne, a amizade é o estado de perfeição mais elevado das relações humanas. Nessa união espiritual, os seres se fundem ao ponto de não serem mais um, mas dois. É indispensável, aponta o filósofo, para esse casamento, a comunhão de gostos, e não de bens como na filiação matrimonial. Nesse sentido, podemos pensar que a amizade é um movimento de aproximação e de distanciamento: saímos do nosso território para adentrar o do outro, e abrimos os portões do nosso para que ele nos visite. Daí a importância da comunicação, do diálogo, sem o qual cada um, na medida em que este se perde, os territórios se obscurecem de neblina, ao ponto de não mais sabermos se o portão está aberto, se ainda existe um território por lá, e se o nosso amigo ainda habita aquele local, até o ponto dele se tornar um estranho e não mais o reconhecermos.

“A amizade aperfeiçoa a alma”. Isso nos faz pensar, o quanto ficamos estáticos, pobres, ou como seria a nossa vida, se desde que nos conhecemos por gente, habitássemos uma ilha, e não conhecêssemos ninguém além de nós. O que pensaríamos da vida? Quem seríamos nós? O que desejaríamos? Almejaríamos outra vida que não a que temos no cardápio? Desejaríamos uma amizade? Ou expulsaríamos e agrediríamos o primeiro que ousasse estacionar o seu barco em nossa “propriedade”?

Quem sabe, se Platão, em seu mito da caverna, quando falou das porradas que o filósofo tomaria se tentasse levar os habitantes da caverna para outro espaço – o seu mundo -, fora da caverna, não estava se referindo a velha história que se passa em nossas vidas, quando conhecemos alguém e imediatamente queremos arrastá-la para nossa caverna para que ela enxergue exatamente como nós, quando, ao invés de a conhecermos, nos familiarizarmos com ela, preferimos nos vender? Como alguém pode ser amigo de outra, saber quem ela é, conviver com ela, se enxergar e querer ver apenas a si própria, ter um espelho como companheiro?

Proposta de investigação: faça uma pesquisa no facebook com o objetivo de verificar de que forma a amizade se manifesta por lá, e se o que se traveste como amizade, não está mais próximo de um culto do "espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?"; modernizando a questão: existe alguém mais curtido e compartilhado do que eu?

"Aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador."

"Quantas estradas um homem precisará andar

Antes que possam chamá-lo de homem?

Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar

Antes que ela possa dormir na areia?

Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar

Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantos anos uma montanha pode existir

Antes que ela seja dissolvida pelo mar?

Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir

Até que sejam permitidas a serem livres?

Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça

E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima

Antes que ele possa ver o céu?

Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter

Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?

Sim, e quantas mortes ele causará até saber

Que pessoas demais morreram

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento?"