Ensaios com Montaigne - O que se leva? Em: A figura do filósofo

O que se leva da vida? Essa é uma interrogação que se pode fazer, diante da monumental obra de Luiz Eva. Para a viagem que o autor nos leva ao longo de 497 prazerosas páginas, é recomendável que abramos mão de nossas bagagens, e principalmente dos livros que carregamos alojados em nossas cabeças de pote. Do contrário, é como se fossemos conhecer uma cultura, um universo diferente do nosso, mas só quiséssemos conhecer nossos amigos, lugares familiares, comidas que já experimentamos, ou seja, ficássemos com os pés fincados na nossa terra, na nossa horta.

Se, como disse Montaigne, a partir de seus ensaios, poderíamos escrever tantos outros, com o guia de Luiz Eva, podemos multiplicar nossos movimentos e possibilidades, com um sábio maestro.

Evitando, e contorcendo-me, com muito custo, me portar como um pedante, e ao mesmo tempo não ignorando a minha própria ignorância, não pretendo fazer aqui recortes, buscando abarcar um oceano, se vocês desejam a sabedoria, que busquem nesses endereços: "Ensaios", "A figura do filósofo: Ceticismo e subjetividade em Montaigne", "Montaigne em movimento", e por que não no "Elogio da loucura"? Pois, se como disse Nietzsche, se é a loucura que abre alas para a nova ideia, para nos tornarmos amigos do saber, com um manual montaigneano sobre como viver, pensando, e logo existindo, é preferível optarmos, dentre tantas loucuras que estão por aí, não a que nos leva a ter certeza de tudo, a cavarmos nossa própria cova, nos enfiarmos num poço estanque, com a pretensão de barramos o fluxo ou o devir da vida, mas escolher a que nos recomenda ousarmos saber que nada sabemos, que não somos mais do que um grão de areia diante do que pode vir a ser a eternidade ou a Verdade.

"Não há nada de novo debaixo do sol", sentenciou o Eclisiastes. A vida, sob as lentes de Luiz Eva, contemplando as danças e piruetas de Montaigne, pode refutar esse ditado. Cabe a nós, adentrarmos o eterno retorno do mesmo ou o eterno retorno do novo, não nos contentando com os ovos que nossas galinhas botam ou já botaram, mas nos esforçando, sem medo, encarando a existência como se fosse pela primeira vez, e assim, parirmos a nossa própria ideia. Como avisa Montaigne: ninguém se torna sábio com pernas de pau. Amém! E eu complemento: ninguém se torna pintor se restringindo a copiar o que já foi pintado, ou passando por cima de uma obra que já foi pintada, pintando-a novamente da mesma forma, apenas para assinar o seu nome. É indispensável recorrermos a quadros virgens.

Que sei eu, depois de tudo isso? O espetáculo da vida está aí para ser reinventado, descoberto, aberto. Para que fecharmos a sua cortina antes da morte?

"O homem que diz 'dou'

Não dá!

Porque quem dá mesmo

Não diz!

O homem que diz 'vou'

Não vai!

Porque quando foi

Já não quis!

O homem que diz 'sou'

Não é!

Porque quem é mesmo 'é'

Não sou!

O homem que diz 'tou'

Não tá

Porque ninguém tá

Quando quer [...]

Vai! Vai! Vai! Vai!

Não Vou!

Vai! Vai! Vai! Vai!

Não Vou!

Vai! Vai! Vai! Vai!

Não Vou!

Vai! Vai! Vai! Vai!

Não Vou! [...]

Vai! Vai! Vai! Vai!

Amar!

Vai! Vai! Vai! Vai!

Sofrer!

Vai! Vai! Vai! Vai!

Chorar!

Vai! Vai! Vai! Vai!

Dizer!..."

"Pergunte pro seu" oráculo conhecer só é bom se conhece-te a ti mesmo.

Ensaiador
Enviado por Ensaiador em 23/12/2013
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