MAS AFINAL... O QUE É SOLIDÃO?

Dos tempos modernos:

Hoje em dia, vira e mexe, as pessoas conceituam solidão com tanta propriedade analítica, com característcas cada vez mais marcante de si mesmas, como se solidão fosse algo particularmente e geneticamente herdado individualmente; "mas essa é a minha solidão-a que sinto".

E ponto, algo personalíssimo e indivisível com qualquer outra solidão.

É uma variedade imensurável delas: é a tal da solidão sozinho, é a tal da solidão acompanhado, é a tal da solidão "mais um na multidão", é a tal da solidão "nem eu mais na multidão", solidão social, virtual, digital,opcional, acidental, solidão que não é a carência emocional propriamente definida, buraco narcísico talvez, gap existencial quiçá, enfim, as pessoas hoje se preocupam demais em conceituar a sua solidão.

Deve ser porque é algo que todo muito tem e que incomoda em grau variado, e que cada um a vivencia do seu jeito personalizado de ser solitário num conjunto dismórfico, onde muitos pós- graduandos de todas as idades definem a sua solidão no grau que melhor lhe convém ao momento.

Mas percebo outro fenômeno solitário:

Percebo que mais moderna e sociologicamente se delineia entre nós, nessa nossa sociedade que muda a toque de caixa todos os valores e conceitos, a hoje descartar em segundos o que até há minutos do ontem valia para o todo, nos imensos cenários que se transmutam assim do dia para noite, vejo um movimento onde se pode conceituar uma solidão oculta e desenfreada, negada todavia, na tentativa de coexistir frente ao défict ocular do meio, diante do tudo que enxergamos e valorizamos como prioritário, no que se refere à nossa ótica existencial de visão de mundo, no qual a solidão se manifesta no vazio de se enxergar o tudo de exato e necessário para si...mas que é o exatamente tiod como nada, o desnecessário para os outros do meio.

É como se solitáriamente tivéssemos que nos reinventar a cada momento para poder existir e coexistir.

É como se fossemos um poema solitário declamado em monólogo aos da maioria dum entorno insensivelmente cego, surdo e mudo...frente ao mundo construído e desconstruído de cada um.

Um entorno que não tem tempo sequer para se autoconceituar como discinético à inércia movimentada da vida.

É como se declamássemos versos óbvios num campo de vida coberto de essenciais flores nunca vistas, necessárias texturas nunca tocadas, perfeitos perfumes nunca sentidos, relevantes formas nunca observadas, iminentes versos nunca declamados, frente a uma vida de inépcia poética do que já não tem sentido na correria sem sentido do tempo moderno.

Talvez solidão modernamente conceituando seja a falta de sentido próprio, diante das rimas tão vazias de hoje, vazias em incontáveis poemas vitais desvitalizados sem ritmo e sem métrica.

É como se dentre as visões de mundos tão distintamente personalizados e egoístas, as porções fragmentadas dos seres perambulassem dentro de cada um, qual uma multidão de versos inacabados, pretensos coexistentes individuais de mundos distintos, que humanamente não interagem, porque não se ouvem nem se enxergam uns aos outros...a dialogarem freneticamente sozinhos.

Vejo isso todos os dias, conversando com pessoas...e conversando comigo mesma.

Lanço esse meu ensaio para que todos reflitam sobre si mesmos, qual um espelho que reflete no interior não traduzido de cada olhar sem alma o absinto da mais moderna solidão.