Na Busca de Um Salvador

Eric do Vale

O uso de uma retórica enraizada numa plataforma progressista, e um quê de populismo são artifícios, comumente, adotados por aqueles que se denominam opositores de um determinado governo, visando arrebatarem o carisma do povo para, assim, serem eleitos por esses. Isso decorre, especialmente, quando o cargo público em questão remete ao poder executivo, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Maranhão 66 pode ser apontado como a perfeita síntese desse questionamento.

O documentário curta-metragem dirigido por Glauber Rocha expõe o entusiasmo da população maranhense com a posse do novo governador eleito, José Sarney, que, diante daquela apoteose, profere um promissor discurso, assumindo o compromisso de findar com as mazelas daquele Estado, conforme expostas por meio das casas pobres, hospitais infectos e vítimas da fome e da tuberculose.

Qualquer um que tiver a oportunidade de assistir a ele há de se surpreender, vendo que aquele novo governador, logo se converteria em um situacionista oligarca, mantendo uma hegemonia política no seu Estado por mais de quatro décadas. E assim tem sido com todos aqueles que se amparam em uma causa ideológica, após alcançarem os seus objetivos.

Caso estivesse vivo, seria curioso imaginar a sensação de Glauber Rocha, hoje, revendo seu filme. Tal pensamento adquire maior força, ao tomarmos conhecimento de que Maranhão 66 serviu de embrião para aquela que seria sua obra prima, Terra Em Transe. Os mesmos problemas e contradições que o cineasta baiano retratou no seu minidocumentário se encontram, de uma forma bem aprofundada, explicitados nesse filme.

A fome, a má distribuição de renda e as desigualdades sociais são problemas fundamentais existentes no fictício país, Eldorado, que não faz apenas alusão ao Brasil, como também à América Latina. Tudo isso gira em torno da disputa presidencial entre o esquerdista Felipe Vieira, personagem de José Lewgoy, e o reacionário Porfírio Diaz, interpretado por Paulo Autran.

Dentre tantos pontos importantes que merecem ser abordados nesse filme, encontra-se o modo como esses dois candidatos se apresentam e são, ao mesmo tempo, apresentados para as camadas populares como uma espécie de “Salvador”, alguém dotado de virtudes e capaz de resolver todos os problemas da população. Algo muito comum para a realidade, especialmente com o advento dos meios de comunicação que permitem um contato direto do povo com os políticos, em época de pleito eleitoral, permitindo com que o cidadão deposite suas esperanças naquele candidato ao qual comunga dos mesmos princípios. No entanto, essas óticas messiânicas e maniqueístas contribuem para o eleitor esquecer que os políticos são seres humanos e, portanto, não estão isentos de cometerem equívocos.

Tais fatores, em Terra Em Transe, são bastante visíveis, no momento em que os dois líderes políticos entram em contradição com as suas convicções ideológicas, uma vez que se encontram empossados nos seus respectivos cargos públicos.

Se levarmos em consideração que esses dois filmes, com o curso do tempo, encontram-se cada vez mais atuais, torna-se fácil admitir que Glauber Rocha foi um visionário. Principalmente, quando ele afirmou que o artista exerce a função de um profeta e tem a obrigação de profetizar, mesmo acertando tudo.

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