A vida: uma peça em três atos
(Abrem-se os panos)
Crescemos observando
as barrigas, as grávidas,
dádivas
e o seu multiplicar.
Choros, fraldas,
intermináveis madrugadas.
Creches, dengos, broncas, escolas.
A primeira bola
ou a primeira boneca.
Tudo uma questão de sexo
ou nexo.
(Fecham-se e reabrem-se os panos)
Crescidos produzimos barrigas,
engravidamos,
assumimos dívidas,
que se reproduzem também.
Choros, fraldas,
intermináveis madrugadas,
numa mudança de cenário
e troca de atores.
A primeira bola
ou a primeira boneca.
Tudo uma questão de sexo,
de nexo
ou de anexar.
(Fecham-se e reabrem-se os panos)
Envelhecidos,
são nossas agora as fraldas
e começamos a preocupar.
Um espirro, um gemido
e ao filho crescido
cabe cuidar
ou não.
O primeiro plano
ou o segundo?
Não é mais questão de sexo,
e nem de nexo
e sim de afeto.
Saúde de idoso custa caro
e velho dá mais trabalho
que criança,
só que da infância,
quase ninguém se lembra.
Alzheimer, mama, parkinson, próstata,
algumas das doenças
e que recompensa
a vida nos dá?
Velho esquilo demente,
sem os dentes da frente,
mas também e ainda bem,
que sem noz.
(Fecham-se os panos)