Ponto Ação

Na trilha da linha que segue sua reta. Escrevendo errado por linhas certas. As palavras são construídas em uma grafia de gráficos gravados em uma superfície que suporta a força daquele que escreve, marcando, com escarificações de grafites afiados. Uma descompostura e as letras escorregam para fora das margens. Sendo açoitadas por pontos que se imprimem de forma imperativa. Nem todo ponto é final. Ainda que fosse, marcariam apenas um ponto diante daquela etapa que se pretende. Pode marcar a ruptura que caracteriza um parágrafo. Ali, nas pausas, que paramos a grafia.

O ponto final busca encerrar, fazendo com que a interrogação ou uma exclamação, se apoiem em sua pequena estrutura. O peso de uma pergunta ou interjeição, são sustentados por aquele micro apoio. Claro que podemos utilizar a referência do português arcaico e que agora observamos no espanhol, com aqueles pontos de interrogação ou exclamação invertidos. Uma espécie de “i” ou “j”, que deixa o apoio em suspenso, demonstrado o quão vago pode ser um parâmetro. Também podemos imaginar que o apoio busca se consolidar no teto, já que em cima existem as linhas escritas antes ou mesmo no início da página, a borda que serve de cabeçalho, com o ponto desejando se elevar, como uma espécie de gota que evapora.

Nosso ponto, quando acompanhado, vai além de si, inclusive acompanhado de uma vírgula ou outro ponto, para que possa nos dizer algo ou criar pausas mais curtas. A própria vírgula parece uma resistência da forma, que tenta escorrer e toma conta do espaço inferior. Nas reticências, o terceiro ponto comprova a tese de que “um é pouco, dois é bom e três é demais”, já que demonstra algo que está do explicável. Ver os três pontos indica que algo não será dito, mas que ainda assim, se insinua em um apêndice oculto.

Um tiro disparado contra a lauda, deixando ali um marco fissura. Cada letra é composta de inúmeros pontos, como se fosse uma reta, que só damos conta quando interrompemos. Os espaços entre caracteres ainda são compostos por pontos de uma linha, e mesmo na inexistência da linha, podemos deduzir a sua presença, criando a ideia de oculto. A própria trema, já em desuso, cria esse acompanhamento aéreo, com “dois pesos e duas medidas” em suspenso, levitando sobre os corpos grafados. Os maçons ainda buscaram fazer dessa tríade de reticências uma trindade, na percepção de uma possibilidade de triângulo, que disponibiliza tudo que é possível representar em uma escrita, como passivo de pontuação, já que o traço é uma proliferação desses sinais gráficos. Vivemos uma epidemia de pontos, que vivem a modernidade tecnológica em forma de pixel.

Não devemos esquecer de parênteses, colchetes, chaves, que buscam agregar, indo além, formando portas ou portais, onde grupos estão expressos. As crases são o movimento de suspensão com gravidade que tua sobre os pontos, criando a vírgula flutuante que escorre em direção ao limite inferior. O travessão atravessa o parágrafo para, deixando para o hífen a missão de cortar a frase. No asterisco, surge uma estrela, e daí fica evidente a necessidade de destaque.

Assim, não apenas encerra, mas também disponibiliza uma exposição que ajuda a criar. Representa sem ser aquilo que tenta exprimir, sendo acessível a outros que não o expressarão e dando margem a novas expressões. Solitário ou em bando, cria possibilidades de significado. Alfa e Ômega da simbologia. É um sem ser, ao contrário do Aleph. Espelho da sociedade humana, que se faz indivíduo de sentido coletivo, em uma integração. Mais do que pontos de vista , são inflexões.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 08/07/2014
Código do texto: T4874519
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