Tempocídio

Tempocídio

Eliane Accioly

Sonha o Pai e salva homens, Ave Maria, Salve José. Rasga e amassa papel risca e apaga poemas pinta quadros sem findar. Perder quem tão cedo se foi sem se despedir ou pedir licença, contratempo lágrimas rímel mata-borrão. Escreve diários passatempo, e não enlouquece de vez. Tique taque taque tique, plantado no criado-mudo, o despertador testemunha. Órfã extrema corre riscos boca-de-leão. E quando o susto zangão zumbe e ferroa seu braço _, uma velha descabelada com uma faca na mão, passando manteiga numa fatia de pão, ergue-se assombrada, e mata o Tempo.