Darcy Ribeiro - pela educação igualitária e cidadã

Darcy Ribeiro – pela educação igualitária e cidadã

O vídeo mostra que, encaixar Darcy Ribeiro em uma só definição, poderia, dentre muitas outras, ser: um “multiplicador de sonhos”. Mineiro de Montes Claros, usou da experimentação, tendo jogado tinta azul na cisterna da cidade quando jovem, a fim de ver o efeito que causaria. Convicto de seus ideais, visionário que impactava a todos com suas defesas apaixonadas sobre educação. Sim, não seguia as normas, agia de acordo com o que julgasse essencial no momento. Segundo Sérgio Cabral, era um pensador do Brasil. Dinâmico, imprevisível, poderia passar horas a fio em seu escritório elaborando novos projetos, dispensando uma vida badalada. Em função deles, vivia de forma disciplinada, caseira, metódica, como dito pela viúva. Havia muito a ser feito, e seu maior desafio era propagar os planos visando uma educação de qualidade, de acordo com a realidade brasileira.

Seu estilo inovador e sonhador, tornou-se conhecido mundialmente, fazendo revelar também um olhar atento às outras realidades, mas sempre defendendo algo produzido pelos brasileiros, sem cópia de fora, mais humana, atenta às desigualdades sociais. Disse ter sido a experiência do exílio, algo impactante em sua vida, voltando ao Brasil com uma análise melhor do próprio país. Com seu olhar irreverente, escreveu para a juventude, conquistando--lhes a simpatia. A fim de tornar mais acessível ao povo o ensino, formulou um turno completo, com o objetivo de ajudar as crianças de baixa renda localizadas na baixada fluminense, tão esquecida pelo poder público. Com tal esforço, garantiria além do aprendizado formal, alimentação, material escolar. Era uma estratégia de mantê-los longe da ociosidade das ruas.

Também fundou a primeira universidade do norte fluminense, igualando as oportunidades para os mais distantes dos centros escolares de nível superior. No entanto, foi forte articulador no cenário federal com a criação da UNB e sua grande biblioteca voltada para a pesquisa de seus alunos. Foi romancista, escreveu um drama digno de história mexicana, mas não quis divulgar comercialmente. Grandes e abrangentes foram seus projetos e ações em prol da educação, tendo influenciado a LDB em algumas de suas leis. Pensou os CIEPS com o custo 30% (trinta por cento) menor que as construções convencionais, além de serem mais rápidas. Discutia o que era certo, mas como sendo tudo errado. Era polêmico em suas colocações.

Durante seu exílio, dizia ele que foi um período de mudança e ampliação de visão sobre o país. Vê melhor o Brasil quando se vê de fora, refletindo o que deu de errado no país, mas nunca afastou-se de seus ideais em relação ao seu país. Cooperou no Uruguai, Chile, Peru. Ajudou a organizar a universidade do terceiro mundo no México.

Devido ao contato com os índios, conseguiu valorizar sua cultura e incorporá-la como parte da formação identitária do Brasil. Por essa razão, compreendeu melhor o país. Tornou-se naturalista, defensor árduo da natureza como forma de preservar o espaço indígena. Marechal Cândido Rondon, o influenciou nessa jornada de conhecimento. Anízio Teixeira, educador e comunista, também exerceu forte influência sobre Darcy Ribeiro. Acreditava que a melhor maneira de se entender a realidade social, era na convivência, no contato com outras culturas, com as dificuldades daqueles que não eram ouvidos.

Mesmo aqueles que, pensando diferentemente, discordando de seus métodos poucos ortodoxos, devem levar em conta a paixão com a qual Darcy tratou a educação. Não como uma espécie de alienação social, como visto atualmente. Ele pensou no ciclo infantil, nas crianças que, sem futuro, não alcançariam um lugar na sociedade como participantes ativos do progresso. O trato com a saúde, alimentação, cuidados necessários no desenvolvimento do ser humano, tudo elaborado de forma a garantir o bem-estar e cultivar valores para uma vida inteira.

O princípio norteador desse grande mestre, foi de espalhar por todos os cantos, a noção da verdadeira cidadania, de olhar pelo lado do outro, da busca por um futuro melhor, de continuar o que ele começou. Sendo impedido temporariamente pelo câncer, mesmo doente, não deixou de trabalhar por um novo país, de oportunidades para todos. Mas a morte o levou, seu legado foi de continuarmos criando, inovando, discutindo, questionando, pensando um Brasil para os brasileiros, sem distinção. Deve haver envolvimento, não somente discursos vazios de mestres e doutores que em nada se identificam com as mazelas educacionais existentes num país mergulhado em violência e descrédito internacional.

Um país para ser justo, precisa cortar velhos hábitos, sacrificar o egoísmo, a vaidade, promover ações de cidadania que começam no registro daqueles que não “existem” oficialmente. Com falar em justiça social se há pessoas fora das estatísticas? O envolvimento é de todos, por todos e para todos.

Bibliografia:

Documentário: O guerreiro sonhador, Pensadores brasileiros