Comentando o romance ÂNGELO SOBRAL DESCE AOS INFERNOS, de Ruy Espinheira Filho

Não sou um crítico literário. Apenas gosto muito de ler e de escrever (por conseqüência). Neste preâmbulo sou obrigado a enfatizar, uma vez que estou comentando a obra de um “poeta, ficcionista, ensaísta, detentor de alguns dos maiores prêmios literários do país (incluindo-se o que contemplou este romance, 2º lugar no Prêmio Rio de Literatura/Fundação Rio, em 1985), como consta da orelha da obra, além de ser autor de dezenas de obras de Poesia e Prosa. Para ser fiel às informações encontradas neste compêndio, o autor, nesta edição, burilou e fez alguns cortes que lhe pareceram necessários, após 30 anos do seu lançamento.

Feitas tais considerações, gostaria de registrar que o autor nasceu em Salvador, em 1942 (três anos depois de mim), mas tivemos aproximações óbvias em Poções, onde passamos nossa infância e onde nos reencontrávamos anualmente durante os festejos do ‘Divino Espírito Santo’ – padroeiro da nossa cidade natal. Sempre fomos amigos, amantes da música, da poesia e dos livros.

Encontrei-o em noite memorável, na ABL – Academia Baiana de Letras, quando do lançamento de antologia do nosso poeta maior - Affonso Manta, (do qual fomos amigos inseparáveis), por ele organizada, em novembro de 2013.

O romance ÂNGELO SOBRAL DESCE AOS INFERNOS, é um retrato trágico do cotidiano, muito bem criado pelo autor e que nos leva a pensar que há muito da sua biografia nos textos e nos contextos das narrativas, ora na primeira, ora na terceira pessoa.

Seus personagens, passíveis de ser encontrados ‘em qualquer lugar ou tempo’ são tecidos pela existência humana, tão bem descritos e narrados como se dão os fatos, na novela etérea da vida humana.

E o autor cuida de colocar-se diante da vida e da morte, estrategicamente, bem como em relação à religiosidade e ao próprio deus que a humanidade necessita para ser mais... humana!

O Homem de Um Braço Só, Tude, Cão, Amadeu e muitos outros personagens ‘estrelam’ este romance, sem falar nos protagonistas da família do narrador, das suas inquietudes e sofrimentos pela perda da esposa com a qual convivera mais de 40 anos!

São experiências riquíssimas de uma vasta convivência com o nosso mundo, desde o seu quintal - dos tempos de menino, na casa do avô, às referências aos pais mortos. Sentimentos bem definidos do que se pode designar de memória existencial que aflora a tantos quantos tenham a mente fértil e as lembranças doces dos tempos idos, principalmente quando estamos sós, com liberdade de abstração total que nos faz viajar no passado remoto da nossa infância que nos parece estar ali, diante de nós, como se os fatos e os diálogos houvessem acontecido semana passada.

O autor deixa sua impressão de que não há encontros post mortem. Os sonhos e encontros que conseguimos por aqui, bastam-se por si mesmos. Nem nossos amados pais, irmãos, amigos, amantes, nada... Esta realidade povoa a cabeça da quase totalidade dos intelectuais. Com raras exceções...

Por fim, quero parabenizar o autor e grande escritor Ruy Espinheira Filho, agradecendo-lhe a gentileza do autógrafo e a oportunidade que me dá em ler um romance de 118 páginas, modernamente formatado e escrito com a marca de quem nasceu para fazer literatura e a faz com beleza ímpar, na forma e no estilo.

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 15/11/2014
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