Eu gosto de não gostar das coisas

Eu gosto de coisas que gostava, parei de gostar, e percebi que

realmente gosto, e voltei a gostar de novo. Mas, depois de um tempo

olho com desdem, e fico meio enjoada. Aí paro com tudo, tomo banho e

sinto frio.

Gosto de dançar, mas também gosto de ficar quietinha, como uma estátua

de mármore, dançando dentro de mim. E gosto também quando não me

reconheço mais. Quando meus olhos mudam de cor diante de algo que me

assusta. Quando meus seios sentem o inevitável, e quando meu útero

vibra diante do magnífico. Posso parecer esquisita, e confesso que

sou, mas adoro esse jeito de menina perdida, e ao mesmo tempo de

mulher a procura. Esquizofrênica, bandida, e sem um pingo de

moralidade. Modos fora de moda, e passos com compassos que eu mesma

criei.Gira meu coração, gira o mundo, e por um segundo, ou vários eu

me torno algo, alguém que eu nunca quis ser, e que me completa. De

maneira incerta, de maneira a se romper a qualquer instante. E essa

incerteza da existência, me faz confiante, de não saber o que surgirá

adiante. E o frio que sinto não me assusta mais, não me faz andar pra

trás, nem querer demais. O frio desperta. O frio conecta. Eu gostava

de coisas que hoje já não me interessam.

01/01/2015

Brígida Oliveira
Enviado por Brígida Oliveira em 02/01/2015
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