ESCRITOS DE BANHEIROS E SEUS SENTIDOS

As condições de produção das frases escritas encontradas nas portas e paredes dos banheiros, nos mostram as diversas possibilidades de exteriorização dos discursos sociais.

As condições de produção das frases escritas encontradas nas portas e paredes dos banheiros, creio eu, é um exemplo das diversas possibilidades de exteriorização dos discursos sociais. Estes discursos são feitos de forma marginal (no sentido literário) e omissa. O banheiro, lugar íntimo e reservado à higiene corporal, acaba servindo de veículo condutor para extravasar condutas banidas socialmente, mas são válidos! Não deixam de ser um ato comunicativo. A validade desse discurso se dá pela abrangência e comunhão das frases “anti-convencionais”, mediando a linguagem e o homem de forma conflitante, ideológica e social.

Sendo o discurso um ato comunicativo na construção social, este é coletivo, não individual. Sendo um ato coletivo, o discurso gera uma grande variabilidade de sentidos propostos por seus diversos autores. Na verdade, funcionam como uma espécie de “porta-voz”, onde os mesmos externam, nesse “local de livre expressão”, pensamentos, opiniões, idéias, vontades e desejos que são silenciados em determinados meios de convívio social ou em locais que proíbem e inibem tal formato.

Abaixo alguns escritos interessantes que li.

“pegue na minha e balance”;

Vá se f****!

“Aqui é o único lugar do mundo onde não há distinção de cor ou de classe social.

“Aqui, todos somos iguais, não importa se preto ou branco se rico ou pobre, o banheiro é um lugar de paz universal”. (...)

“Só Jesus Cristo salva.”

Nos escritos de banheiro, os “seguidores” são sujeitos co-autores e “repetidores de informações” e ideologias, onde a comunicação se faz de forma marginal e íntima, através de um fórum de idéias, em sua maioria anônimas, compartilhadas com quem quer (e mesmo quem não quer) ser co-autor destas. Pois, o anonimato dos textos, não possui, segundo Barbosa (1984) "limites de censura externa e é acessível a todos, tornando-se um palco discreto de confidências." Sobre o tema, Fiorin (1990) nos diz que:

É por meio de seu discurso que se descobre quem ele é e

qual sua visão de mundo. É por intermédio do componente

semântico, contido no discurso, que se determina a visão

de mundo, esta veiculada pela linguagem que é governada

por formações ideológicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, G. Grafitos de banheiro. São Paulo, Brasiliense, 1984.

FIORIM, J. L. Linguagem e ideologia. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2004.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso: aula inaugural no College de France, pronunciada em 2ª de dezembro de 1970. Tradução: Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo, Loyola, 1987.

ORLANDI, E. Discurso e leitura. São Paulo, Cortez, 1988.

PÊCHEUX, M. "Análise automática do discurso", in Gadet e Hak (orgs.) Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas, Ed. Unicamp, 1990.