Mapeantes Mapeados

Cada pessoa é um mapa. Uma ruga pode fazer parte dos diversos afluentes de um corpo. Basta um sorriso para encontrarmos manancial. Cada curva relata um caminho. Olhamos e logo delineamos quem é. A impressão da primeira vista que fica, é justamente esse traçado. Esboçamos um palpite e logo vem a forma que guardamos, na tentativa de compreender aquele território desconhecido, embora visto. Existem muitas maneiras de territorializar o outro, assim como desterritorializá-lo, a partir de nossa própria condição de estrangeiro, estranho àquele.

Invadimos uma personalidade, desde a simples conversa que faz com que o surgimento de falas formem uma condição de apropriação auditiva, apesar da troca, onde somos relacionados como em uma região fronteiriça, como voos que saem das bocas através de sílabas e decolam da língua para aterrizar direto nos tímpanos, eis a escala. Mesmo o toque, que no sutil abraço, parece um explorador tímido. Já o sexo de amantes apaixonados, seria antropologia de um Levi-Strauss, onde o território estuprado, fornece o gozo do explorador, numa reciprocidade entre explorados.

Conhecemos sempre essa sombra alinhavada, que traçamos, em uma cartografia de parca aparência. Dessa imagem cartográfica que partimos, sendo surpreendidos à medida que adentramos alguma parte desse território, que parece não coincidir com as linhas traçadas com objetivo de politizar uma relação. Programas de identificação de suspeitos em delegacia ou mesmo de reconhecimento facial utilizados para marcar fotos postadas em redes sociais, utilizam essa mesma biometria, criando inclusive equívocos por linhas faciais similares. Quantos se apaixonam pelos traços, muitas vezes perdidos em meditações e reduzindo territórios a paisagens gráficas, estampadas sob olhos crédulos de uma desertificação.

Pessoas paralelas se tornam estatística, com colunas gráficas que procuram nivelar, formar um padrão entre desalinhados. Adentrar o território pode favorecer um mapeamento que tende a ilustrar um outro plano, como se traçasse por dentro, ainda que se mantenha no campo da superficialidade. Ainda que seguisse a lenda do geógrafo que para agradar o rei modificou o mapa até que el tivesse o tamanho e cobrisse por inteiro o reino, impossível dar conta da combinação de mudanças que ocorrem a cada instante e a multifacetada essência territorial. Mistério de alteridade, mesmo no auto-conhecimento, já que esse outro de nós, também se faz de oculto. Mapeamos desde o sexo ao nascer e assim decretamos um gênero, prolongamos um Complexo de Édipo e supervalorizamos um pecado.

Descobrimos zonas, regiões, etc, embora tenhamos já em mente que nos fazemos campo. Essa perspectiva de se ver em projeção favorece esse corte linear, que tenta moldar como um não tão preciso cirurgião, que utiliza bisturi com mãos trêmulas, pronto a dissecar uma existência a partir de poros perfurados por cordões, formando marionetes pacificadas e prontas para uma logística geopolítica.

Ainda assim. Diante desses mapas circulantes. Qual geógrafo deslumbrado. Impossível não se maravilhar com aquele globo preenchido pelas cores atrativas do mapa político. Caleidoscópio que embriaga e faz desejar explorar com os dedos, ir do Brasil ao Japão pelo simples toque, fazer o mundo girar e perceber o giro. Poder abraçar o mundo. Esse é o prazer da lógica de um absurdo.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 15/01/2015
Código do texto: T5102776
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