O MÍTICO, O SIMBÓLICO E O IMAGINÁRIO EM O RISCO DO BORDADO DE AUTRAN DOURADO

O Risco do Bordado é um livro cujo o mito principal é o Tempo,que não é o tempo cronológico, uma vez que suas sete histórias podem ser lidas independentemente e acima de tudo,porque permite várias leituras.Além disso, a própria estrutura desta obra onde Autran Dourado faz uso de um tempo que é aparentemente histórico, e que no entanto é na verdade um tempo que concede toda uma liberdade ao leitor, revela o próprio anseio do autor de transcender o tempo histórico e buscar o imaginário, extirpando o caráter concatenado do sentido existencial daquele.Dessa forma,este livro que não possui ordenamento, que não privilegia a idéia de marcha contínua, de fluxo objetivo, é uma obra plena de ambiguidades, sendo impossível tentar dominá-la através de qualquer sistematização, além da própria memória (do leitor).

Portanto, O Risco do Bordado aponta para o descompasso que divide o homem entre o tempo linear e o tempo cíclico do mito e da natureza.Assim, o leitor é levado a mergulhar nesta narrativa por João, o fio condutor em todos os capítulos, cuja a idade não é mencionada em nenhuma das histórias.É ele o elemento que liga os episódios, que nada mais são do que uma coleção de histórias subliminares e simbólicas que transcendem as mudanças culturais e de consciência, nos remetendo à constatação de nossa ligação com os eternos desígnios humanos. Nesse sentido, o "romance desmontável" de Autran Dourado retrata símbolos que dão significado e dignidade à vida, pois através das histórias contadas, entende-se que muitos outros estiveram aqui antes e que de alguma maneira, ultrapassaram obstáculos no processo de crescimento para enriquecerem como seres humanos.Usando imagens míticas, o autor descreve em linguagem poética, as experiências fundamentais e os padrões de desenvolvimento do homem, que em verdade são arquétipos, pois são universais e existem em todas as pessoas de todas as civilizações e culturas, em todos os períodos da história da humanidade.

O mítico, o simbólico e o imaginário em O Risco do Bordado começa quando nos deparamos com a quantidade de capítulos: sete. Número intencionalmente cabalístico, o sete nesta narrativa corresponde a uma perfeição cíclica, visto que o leitor pode começar a ler os episódios sem ordem. Além disso, por ser símbolo universal de uma totalidade em movimento, o sete encerra um ciclo concluído onde cada episódio em si guarda um mundo completo, contudo, emanado todos de uma unidade original: João. Por conseguinte como o próprio Autran Dourado definiu seu livro é um romance polifônico que parte de um som originário.

Também, não se pode esquecer dos próprios títulos de cada episódio, pois expressam revelações e engendram-se no emaranhado de questões que são cruciais na existência humana. O poder mítico encerrado em cada história espelha o título e simboliza o mover existencial do homem com seus problemas eternos. Com suas mensagens enigmáticas, os mitos presentes no livro em questão presenteia o leitor com uma simbologia reveladora da vida e da morte que nada mais representam do que uma tentativa de sacralizar a vida do homem moderno, tão distante de suas raízes.

Sendo assim, através da história de várias existências, Autran Dourado recupera o Tempo primordial e leva o leitor em uma viagem mítica, onde as experiências da infância, os conflitos e as paixões da adolescência, os desafios e as tomadas de decisões, as crises, as perdas e as súbitas mudanças são vivenciadas, ou seja, ritos de passagem inerentes ao homem na qualidade de arquiteto de seu próprio destino.

Ao usar esses ritos, Autran Dourado reitera o mítico, o simbólico e o imaginário, mostrando que são pertinentes ao destino humano.Até as mortes enfrentadas pelo protagonista revela as mortes dos seus vários "eus", sendo também ritos de passagem.

Nesse sentido, O risco do Bordado é um livro que fala do sagrado e do profano, do mito e da realidade revelando a condição do homem através do mítico e do simbólico, se assim não fosse oh homem não seria concebido como criação de um Deus, e sendo assim, só Ele "(...) é que sabe por inteiro o risco do bordado." (193/1999)

Referências Bibliográficas

1) CHEVALIER,Jean & GHEERBRANDT,Alain Dicionário de Simbolos.Trad.Vera da Costa e Silva[et alii]-14ª ed- Rio de Janeiro:José Olympio, 1999.

2) DOURADO,Autran.O Risco do Bordado.9ªed.Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

3) ELIADE,Mircea.O Sagrado e o Profano.Trad de Rogério Fernandes. São Paulo:Martins Fontes,1992.

Karla Bardanza
Enviado por Karla Bardanza em 03/06/2007
Reeditado em 30/07/2012
Código do texto: T512067
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