Vamos Ocupar o Museu do Mar

Num dos cenários mais exuberantes da região sul do Brasil, temos um espaço sem vida no interior do Parque José Lutzenberger localizado na praia da Guarita. Dentre os atrativos paisagísticos do parque, as pessoas costumam ficar atentas a uma edificação com paredes grossas de pedras e telhado íngreme e harmônico compondo com a paisagem natural uma pintura, uma verdadeira obra de arte. Destaca-se uma construção robusta, imponente e bela com vista para os rochedos e para o mar contrastando com os vestígios dos molhes inacabados do porto do final do século XIX. Na infraestrutura do parque, foi projetado para abrigar um restaurante que funcionou por décadas, porém essa fortaleza foi abalada pelo “Furacão Catarina” em março de 2004. Originalmente, a cobertura era com o “capim santa-fé” que as rajadas de vento espalharam como feno e após o cataclisma as ruínas permaneceram por anos. Tornou-se um monumento ao Catarina, como a Praça da Paz em Hiroshima em memória às vítimas da bomba atômica, enquanto a cidade de Torres se reconstruía e tentava superar os traumas e a destruição. Mas, com o tempo esta construção abalada e esquecida, ressurge das cinzas como a ave fênix, com uma nova missão. Um Museu de Ciências Naturais, ou como foi concebido o Museu do Mar. O local era perfeito no cartão postal de Torres. O museu seria um ponto turístico e relevante para o fomento às pesquisas científicas e sua divulgação, congregando o público estudantil, acadêmico, a comunidade local e visitantes. O tempo está passando e até agora o museu não está funcionando, não têm acervo e nem plano museológico. As pessoas curiosas olham pelas janelas e nada encontram. O espaço mais privilegiado de Torres, desperdiçado, abandonado, sem utilidade, sem função esperando pacientemente para se transformar em ruínas. Por enquanto, apenas o “Museu do Ar” com exposição permanente de vento. A população local merece ter um espaço educativo abrigando artefatos, objetos e informações sobre a vida marinha. Aqui na costa todos somos filhos e filhas do mar, nossa cultura está intimamente ligada ao oceano desde as primeiras migrações populacionais há cerca de 3.500 e 4.000 A.P (antes do atual presente). Os espaços ociosos tendem a ser ocupados pela população. A sociedade civil tem o poder constitucional de legitimar ações em prol da coletividade e reivindicar o usufruto do espaço público. Vamos ocupar o Museu do Mar com Arte, Cultura, Educação e Boas Intenções!

Publicado no Jornal Litoral Norte RS

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 12/02/2015
Código do texto: T5134752
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