Uma mente arejada pelos ventos do litoral

Aos leitores do Jornal A Folha,

É com imensa satisfação que apresento meus textos semanais neste espaço com o apoio da Eduque & Acquerello – Arquitetura, Meio Ambiente e Urbanismo. Sou um pesquisador e educador e procuro escrever sobre temas que transitam nas áreas das Humanas e Sociais, tratando de assuntos no campo da História, Arqueologia, Sociologia e Filosofia com ênfase nas dimensões do Patrimônio Cultural e Educação relacionando com as preocupações pertinentes as questões ambientais. Em breve apresentação da minha formação acadêmica, posso salientar a graduação em História - Bacharelado e Licenciatura (UNESC), especialização em Filosofia e Sociologia (FACEL) e atualmente sou pesquisador do Programa de Pós Graduação em Educação/PPGE - Mestrado em Educação (UNESC), Linha de Pesquisa: Educação, Linguagem e Memória, bolsista PROSUP/CAPES. Membro dos Grupos de Pesquisa: "Patrimônio Cultural: Histórias e Memórias - UNESC " e "História e Memória da Educação (GRUPEHME/ UNESC)" - Linha de Pesquisa: Educação Patrimonial e Memória. Escrevi a obra “O Passado em Ruínas – Turismo e Patrimônio Arqueológico em Torres” em fase de publicação (aliás já dura três anos, mas acredito que esse ano será publicado). Tenho experiência profissional na área de arqueologia, arquivologia, educação patrimonial e docência escolar, profissionalizante e universitária. Atuo como delegado regional da entidade DEFENDER – Defesa Civil do Patrimônio Histórico, na luta pela preservação de nossas referências históricas e culturais e como palestrante tenho afinidade nos debates que envolvem os conceitos: Turismo e Gestão do Patrimônio Cultural; Patrimônio Histórico- cultural e Educação; Relações Étnico Raciais e Direitos Humanos.

Na semana passada, inauguramos nosso espaço com o texto intitulado: “Um Prédio Abandonado, um Patrimônio Histórico desvalorizado e muitos aprendizados” em que exponho o descaso com um dos elementos do nosso patrimônio edificado, o prédio do Grupo Escolar e Colônia de Férias localizado no primeiro platô do Morro do Farol. Procuro sensibilizar as comunidades para sua efetiva mobilização, participação, preservação e promoção dos bens culturais de nossa região, onde o mercado imobiliário está numa ofensiva aos casarios centenários das zonas históricas de diversas cidades do nosso estado e de nosso país.

Nesta semana, gostaria de tratar sobre o texto “Vento no Litoral” do radialista e colunista da ZH Marcos Piangers publicado na última sexta feira 06 de fevereiro. Primeiramente, preciso admitir que gosto muito de textos ácidos e polêmicos e, principalmente quando se trata do litoral ou de Torres, como foi o caso de outra colunista da ZH, Martha Medeiros. Acima de tudo, temos que respeitar o direito de livre opinião das pessoas compreendendo que “gostos e estilos” dependem de muitos fatores como contextos sociais e culturais diferenciados. No caso da Martha Medeiros e Torres foi agravado pelo olhar distanciado e o saudosismo de uma veranista e Marcos Piangers nitidamente demonstra que não gosta de areia e nem de vento, muito menos do agito do veraneio e do refrigério marinho. O interessante é perceber a reação adversa das pessoas que defendem o modo de vida litorâneo e sua cultura e respondem prontamente à essas figuras públicas que ficam extremamente surpresos com as manifestações contrárias à suas opiniões. Podemos salientar que textos provocativos como dos autores citados promovem o sentimento de pertencimento ou a construção de uma Identidade Cultural, a pedra fundamental de um povo. Nos dois casos, analiso a falta de perspectiva histórica para a compreensão do lugar e das pessoas que habitam determinado território, especificamente a introdução do Turismo que trouxe profundas transformações econômicas, sociais e culturais ao litoral. No texto de Piangers há a desconsideração de não perceber que nossa costa atlântica promove uma das melhores qualidades de vida aos gaúchos e que os devaneios de verão são passageiros e trazem o parodoxo entre a economia advinda do turismo e os impactos ambientais negativos agravados por esta prática. Muitas pessoas que residem no litoral também não gostam da invasão turística, assim como eu, e o veraneio ocorre em novembro ou em março, épocas tranquilas entre a população local. O vento mencionado por Piangers como danoso ao seu bem estar é considerado um patrimônio natural do nosso litoral, alimentando o Parque Eólico de Osório/RS, inclusive me lembrei do filme “Vento Norte” (1953) em que a cultura pesqueira da comunidade litorânea é retratada com fidelidade. Ainda bem que o autor não estava aqui quando o “Furacão Catarina” passou em março de 2004. Enfim, me considero uma mente arejada pelos ventos do litoral amaciado pela água salgada e resistente como o marisco da pedra, hipnotizado pelas belezas naturais e um amante da cultura popular.

Publicado no Jornal A Folha

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 12/02/2015
Código do texto: T5134754
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.