Teocracia à Brasileira

Religião e Política sempre foi uma combinação poderosa (e perigosa) no fluxo da História. Durante o período medieval na Europa houve disputas acirradas pelo poder entre os nobres e a Igreja ocasionando conflitos e cisões. Atualmente, ficamos horrorizados com os atos terroristas seja da Al- Qaeda, Talibã ou do Estado Islâmico. As barbáries provocadas pelos Estados Teocráticos Fundamentalistas no Oriente contra homossexuais, cristãos, mulheres e a qualquer apelo democrático. A defesa de um Estado Laico de fato é um apelo ao respeito à diversidade cultural e religiosa e um bastião de resistência contra qualquer tipo de opressão. Considero as religiões como ferramentas sociológicas importantes engendradas pela cosmovisão de determinados grupos étnicos. O discurso religioso e os ritos ecumênicos nos levam a crer numa mensagem universal de Fraternidade, Paz e Amor. Contudo, o estudo da História das Culturas Religiosas aponta para um cenário sangrento e intolerante de conquistas e submissão, a exemplo das Jihads (guerra santa) ou as Cruzadas entre os séculos XI e XIII. Quando os princípios religiosos de determinada crença sobressaem aos interesses de uma nação tão diversificada quanto a brasileira há o perigo de políticas autoritárias e conservadoras prevalecerem como políticas de Estado. O poeta e compositor jamaicano Robert Nesta Marley (conhecido como Bob Marley) inspirado no discurso do imperador etíope Haile Selassie na tribuna das Nações Unidas proferiu na canção War (Guerra) o seguinte: “[...] Até que a filosofia que torna uma raça superior, e outra inferior, seja finalmente e permanentemente, desacreditada e abandonada haverá guerra [...]”. Enquanto for propagado a salvação por meio do ilusório embate entre “o povo eleito” e os “pecadores” ou a deturpação que existe crenças e culturas elevadas ou mais significativas que outras, haverá discórdia e disseminação do ódio entre as pessoas. Não existe religião “melhor” ou “pior”, mas sim diferentes entre si, cada uma com sua característica peculiar com objetivos semelhantes. No âmbito político no Brasil, vemos o crescimento de políticos ligados a vertentes evangélicas sectárias que acreditam que sua fé deva ser institucionalizada através de políticas públicas em diversos setores: a obrigatoriedade do ensino do criacionismo, a implementação da polêmica “cura gay”, dia do orgulho heterossexual e combate a “heterofobia” e a criminalização do aborto. Com a participação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados e a ampliação da bancada evangélica (em 2006, 32 deputados; em 2010, 70 deputados; em 2014, 75 deputados) temos a composição mais conservadora desde o regime militar (1964-1985). Este panorama político arbitrário afeta diretamente a vida de brasileiros e brasileiras que não comungam do protestantismo. E a liberdade religiosa? Enquanto uma nação, devemos seguir as leis da Constituição Federal, da Bíblia Sagrada, da Torá ou do Alcorão? Pela organização e pressão dos movimentos sociais que combatem as mazelas dessa democracia burguesa pela égide da efetiva aplicação dos Direitos Humanos é que podemos evitar uma Teocracia à Brasileira. O respeito a diversidade é um dos pilares para a comunhão dos povos, e creio que nosso país, berço de muitos povos que fincaram suas raízes por aqui, temos a oportunidade de tornarmos referência para um novo paradigma no complexo mundo do século XXI.

Publicado no Jornal Litoral Norte RS

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 26/02/2015
Código do texto: T5151132
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