AS FURNAS DE TORRES: ENCANTOS, MISTÉRIOS E AÇÃO AMBIENTAL

Nos primeiros raios de sol da última sexta- feira (27 de fevereiro), a equipe do Projeto Praia Limpa/ Associação dos Surfistas de Torres – AST juntamente com o Corpo de Bombeiros se preparam para entrar na água. Na aurora do dia os participantes atravessam a Pontezinha da Praia da Cal e avistam o Portão e a Furna Seca enquanto recebem as instruções para uma arriscada missão: a embocadura e limpeza das Furnas Tocão, Furninha e Furna do Diamante localizadas no Morro das Furnas, promontório localizado no Parque José Lutzenberger, o famoso Parque da Guarita.

Um turbilhão de emoções invade os corações e mentes dos participantes, enquanto pulavam no mar rumo ao primeiro ponto de limpeza, o Tocão. Essa furna foi descrita pelo francês Auguste de Saint- Hilaire em 1820 como uma grande chanfradura de difícil acesso, impossibilitada pelas violentas ondas que lavam o sopé do Paredão. Sem dúvidas, é a maior furna existente em Torres. Ao adentrar o domínio da furna, a equipe inicia uma minuciosa limpeza de resíduos sólidos e percebem, além de uma tartaruga marinha em decomposição, um amontoado de madeiras e um tronco espesso de uma árvore, demonstrando a força da maré quando atinge seu ponto mais profundo. Os sacos de lixo foram retirados e levados de jet- ski até a praia pelo Corpo de Bombeiros. Após a primeira etapa, a equipe sai remando em direção à Furninha e Furna do Diamante, extasiados pela vista do Morro e seus pesqueiros. Admirados pelas belezas que consagraram Torres como a mais bela praia gaúcha.

Chegando na Furninha, a equipe pode prestigiar o sítio arqueológico do primeiro Datum Altimétrico do Brasil, o Marégrafo de Torres. O Marégrafo conhecido como Datum de Torres tinha registros entre os anos 1919 e 1920 e foi transferido para o Porto de Imbituba/SC em 1958. O que desperta fascínio neste sítio encontra-se no interior desta furna onde se localizava o marégrafo. No lado direito de quem entra na furna, existe um painel com inscrições históricas. Na parede de basalto, foram encontrados muitos nomes inscritos que acompanhavam a data da inscrição. Os nomes legíveis mais antigos pertencentes à Deoclécio Godinho Porto (1- 4- 1917) e Walter Robenhond (16- 2 - 1918) – registros entalhados com técnicas de picoteamento, inclusive com refinada letra cursiva no caso do último nome citado - , datas que coincidem com as primeiras décadas do século XX. Inicia a coleta do lixo e seu transporte por água até um local seco e seguro e logo o doce canto da Sereia chama para a Furna do Diamante.

Lendas, contos e mitos fornecem a áurea mística à Furna do Diamante, destacando-se a lenda da Sereia e o pote de tesouros no seu interior. Em sua porção interna, predomina um canal submerso com leve desvio para oeste e pouca área seca, formando uma espécie de túnel. O aumento da maré é sentido bruscamente e as ondas entram violentamente até seu ponto mais profundo. E algo inusitado ocorre na entrada da furna, o surfista profissional Stéfano Dornelles (um dos integrantes da equipe Praia Limpa) surfa a primeira onda no interior da Furna do Diamante, seguido por Renan Borba e Marcel De Rose. Por essa a Sereia não esperava! Na retirada dos resíduos que viajam ao sabor das marés e se acumulam nestes locais foi concluído a missão nas Furnas com uma grande festa de comunhão com o oceano e com a natureza. As furnas são palcos de belezas e tragédias, por isso o respeito e a humildade para escolher o melhor momento para a ação de limpeza é fundamental.

RESPEITO OS OCEANOS E MANTENHA A PRAIA LIMPA!

Publicado no Jornal Litoral Norte RS

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 05/03/2015
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