O Passado em Ruínas: Turismo e Patrimônio Arqueológico em Torres (divulgação do livro)

Escrever, refletir, pesquisar e atuar nas esferas do Patrimônio Cultural fornece uma infinita trajetória de múltiplos aprendizados, superações e desafios. O Patrimônio Cultural é compreendido como o conjunto de bens culturais materiais, imateriais e o meio ambiente natural que tenha relevância social e afetiva para uma coletividade. Os bens culturais são elementos relativos à natureza, às técnicas dos saberes e fazeres considerados os elementos intangíveis (imateriais) e os artefatos, edificações, sítios arqueológicos e históricos que configuram os elementos tangíveis (materiais). O conceito de Patrimônio sofreu profundas transformações de acordo com os contextos históricos e não deve ser concebido de maneira reducionista ou simplista, levando em consideração o caráter ideológico, político e econômico. A formação dos Estados Nacionais, os regimes totalitários e as repúblicas democráticas sempre tiveram um apelo ao Patrimônio Histórico- Cultural como forma de criar uma identidade nacional com objetivo de unificação e legitimação de poder. As heranças do passado que “sobrevivem” e são acionadas no presente pelos atores sociais em busca de referências históricas para saciar suas aspirações de vida são dispositivos condicionantes do Patrimônio Cultural. A palavra “Patrimônio Cultural” nunca foi tão veiculada pelos meios de comunicação com uma acepção tão ampla de seu significado.

Em 2004, iniciei o contato sistemático com os documentos históricos e o acervo da antiga “Casa da Terra” por meio de um estágio acadêmico. Neste momento, desperto para as questões da preservação dos bens culturais, propondo atividades de educação patrimonial em caminhadas orientadas pelo Centro Histórico. Em 2006, pelo interesse na cultura material vou trabalhar no Setor de Arqueologia/ UNESC realizando levantamentos, prospecções e salvamentos arqueológicos. Prestando serviços a outras empresas de consultoria científica pude participar de projetos em várias regiões do estado de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.

Com minha instigante curiosidade aliada a formação acadêmica e profissional é que surge o projeto “O Passado em Ruínas” com o objetivo de discutir a relação entre o Turismo e o Patrimônio Arqueológico em Torres. Esta pesquisa foi realizada em 2009 e foi publicada recentemente com algumas atualizações. Nesta obra, procuro entender um pouco sobre a História do Turismo, sua introdução nas praias torrenses no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX , assim como seu desenvolvimento até a década de 1970. Para isso, fui “beber na fonte” da Sociologia e da História Social para dar visibilidade a comunidade local e sua cultura e como foram impactadas pela atividade turística. Os bens de natureza arqueológica tiveram destaque neste livro, pelo valor cultural agregado aos vestígios pré- históricos ou pré- coloniais e os sítios históricos. No último capítulo, é realizado um Diagnóstico concentrando-se na Arqueologia Histórica e no Turismo Cultural, divulgando locais como: o núcleo histórico e algumas edificações como a Igreja São Domingos (1824) e os conjuntos de casarios da antiga Rua de Baixo e de Cima (atual Rua Júlio de Castilhos e Rua José A. Picoral, respectivamente), o forte São Diogo (1777), a olaria e as caieiras (fornos para torrefação e produção de cal) da Praia da Cal e suas áreas de extração de matéria- prima, o Datum Altimétrico ou Marégrafo de Torres, considerado o primeiro do Brasil instalado na chanfradura da Furninha e os resquícios da construção do Porto Marítimo na Praia da Guarita (1890). Além da pesquisa acadêmica e a difusão do conhecimento científico, na parte final há uma compilação de ensaios e fragmentos de aspectos legais referentes a preservação e gestão do patrimônio cultural.

O projeto e a intenção da publicação do livro “O Passado em Ruínas” sofreu com promessas de financiamento e estava na gaveta a aproximadamente três anos sempre com a esperança de lançar em alguma feira do livro. Nos últimos meses, surgiu a obra pela Gráfica e Editora TC (financiado com recursos próprios) como uma humilde contribuição para o pensamento científico e para a Historiografia Regional. Os pontos de venda são: Tabacaria Francis (Supermercado Nacional), Livraria SuperLivros, Atelier Mutante (Camelódromo) e Espaço Mar Jamboo ou pelo email leonardogedeon@hotmail.com e Facebook: Leo Gedeon. Ser escritor no Brasil é uma árdua tarefa, os livros tem mercado editorial próprio e restrito e não são baratos, além de poucos subsídios para a democratização efetiva da leitura. A nível global, em contrapartida aos atentados contra o Patrimônio da Humanidade infringidos pelos militantes do Estado Islâmico e governos ditatoriais e autoritários, com o ataque à Museus e os incêndios aos acervos bibliográficos e documentais que se perdem pela negligência e intolerância, meu ato de resistência é o nascimento de um livro. Particularmente, sou impelido por desafios deste porte (com imenso desejo de ter condições de difundir novas publicações) e espero que meus leitores e minha leitoras apreciem este trabalho que vos apresento.

Publicado no Jornal A Folha.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 05/03/2015
Código do texto: T5158942
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