Dois seres se cansam de suas diatribes e funções e resolvem se entender pelo modo mais humanista possível:

Robô
- Eu quero abraço, quero aproximação! Desejo abraços, vai, sim?
J - Claro que te darei este infinito coração por instantes, e não chores óleo...
Robô - Espero lágrimas mais secas, mas farei  o que pedes!
J - Certo, mas abrace-me forte, sem força mecânica, claro...
Os dois se enlaçam e e J chora tambem. Ela ama essa máquina.
Robô - J, me perdoe, sim?
J - De quê, amiguinho de lata? 
Robô - Por ter desrespeitado as três leis e seus sentimentos. 
J ( sorrindo ) - Isso acontece. Até eu desobeço as leis da vida, e na lógica, porque você não deveria?
Robô ( ponderando ) - Sei dessas coisas. Mas eu devo ser uma máquina. E sei que até os Xintoístas veriam em mim a essência das criações, tanto humanas quanto não-humanas.
J - Puxa, você tinha que falar do Xintoísmo? E eu concordo que tu vives para mim e tem consciência disso, se por acaso tens uma mente para isso...
Robô - Oh, não deveria ter falado de religião assim! Me desculpe!
( Silêncio )
J - Bem, não é nada disso. Esqueça de teologia!
Robô - Eu só queria uma comparação, em troca da lógica de meu erro por violar certas regras, mesmo que humanas.
J - Bem, continue no abraço, pois você me esquenta gostosamente.
Um som de engrenagens ecoou no ar.
Robô - Estou te deixando feliz com esse abraço de amigo que fizemos?
J - Claro que sim. Me deixa emotiva e adoro muito que me abraces de vez em quando...
Robô ( pensativo ) - Lembro alguém para você? Sou mesmo grato por gostar de mim...
J - Hum. Sei. Porém estou mais para mãe chorona do que irmã enferrujada.
Robô - Gostaria de rir disso que você diz! Eu poderia, mas você não ia gostar de risadas metálicas! 
J - Te programei bem, não é?
O robô se desvencilha do abraço e a encara com olhos frios, sem emoção aparente. E parte de J estremece em tentar sempre de responder sempre com evasivas para evitar uma afinidade maior com o engenho falante.
Robô ( olhando para as mãos cibernéticas ) - Eu queria ter um tato e até olfato para sentir seu cheiro e seus cabelos! Você é linda, mestre!
J - Puxa, que elogio! Mas de amôr mesmo você não entenderia também...
Robô - Devia me programar para sentir algo, mesmo que artificial demais.
J - Por acaso você foi afetado pelo abraço carinhoso entre nós?
Robô - E eu deveria? Não tenho um coração valvulado como o seu. Ainda mais de carne e fibras, claro...
J  Ah, está ficando afetado! Isso é uma emoção tipicamente humana!
Robô - Mestre, você me programou assim e se esqueceu que sou dado a inferir emotividade de acordo com outros humanóides? Pelo menos não fico nervoso ou irritadiço..
J - Perfeito! Era isso que eu queria ouvir! .

Alguns passos se ouvem longe. Mas J continua na conversa.
J - Estamos sós e no entanto este lugar parece assombrado...
Robô - Te compreendo. Mas parece trivial se preocupar com a insanidade, pois a mestra é hábil em ser alguem capaz de ficar meses sozinha, até mesmo no espaço! E as coisas às vezes fazem barulho, seja por coesão ou atrito áspero dos objetos. Não é, mestre?

J olha para o robô e pergunta-se se REALMENTE programou demais essa máquina tão sarcástica e nervosa, ou algo assim..
Robô ( suspirando ) - Eu diria que a mestre está enlouquecendo ou devo lhe estapear o rosto para voltar a si?
J - Não, NÃO! O que é isso? Insubordinação? Meu querido o que há?
Robô - Peço desculpas transistorizadas, com todo respeito. Mas sua programação que me deu pede-me para agir assim caso tripulantes ou humanos perturbados ajam esquisito, né?
J - Pois é. Mas ficar sozinha com máquinas e comida sintética ( argh! ) dá nos nervos! E, realmente, eu te programei DEMAIS!
Robô - Certamente.
J - Espero que um abraço nos afete menos e nos dê vivacidade para manter a mente ocupada aqui.
O simpático robô, apesar de friamente responder a tudo, parecia afetado por fallta de seres humanos e de amôr dos cientistas...mas concordou que sim.
Robô - Devo voltar a nos abraçar? Parece que tenho ansiedade de criança!
J - Bela observação! 
Robô ( de ombros levantados ) - ?
J - Ah, não, não vamos fazer algo assim tão caloroso nos próximos momentos, creio eu! Deixe disso! Vai virar costume e pode dar em algo mais sério, sei lá!
Robô - Lógico que assim entendo. Como quiserdes mestre!
J - Você é um cara deveras mecanicista, ah, ah, ah,  ah, ah,, ah!
Robô - Mestre? - e o ente de lata se desdonbra para acompanhar o rebolado de seu mestre. Os dois se envolvem como dançarinos e passam a dançar na sala. Um balé especial, claro...
FCA, em carne e fotóculos...

 
Francisco Carlos Amado
Enviado por Jurubiara Zeloso Amado em 24/03/2015
Reeditado em 24/03/2015
Código do texto: T5181781
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