Consideração sobre o filme "Narnia"

O filme retrata de forma bem clara a realidade sacrifical e sua dimensão simbólica como paradigma da realização do humano.

A expressão do fenômeno religioso é marcada pela necessidade do sacrifício. Está inerente no humano a necessidade da purificação para se aproximar da divindade. Os animais acabam se convertendo no elemento mais prático para a realização do sacrifício e a própria mediação. Morrem no lugar dos homens. À prática cristã coube uma inusitada novidade: o sacrifício do próprio Deus a si mesmo, de forma vicária e cruenta, em favor não de um individuo, mas da coletividade global dos individos. Trata-se do Sacrifício universal, realizado uma vez só e apenas re-atualizado de forma incruenta e anaminética pelos ritos litúrgicos

Qual outra interpretação podemos dar ao filme? O filme utiliza de temas e personagens cristãs, mas será que não esconde uma compreensão crítica da própria religião cristã, entendendo ou fazendo entender que O CRISTIANISMO NÃO PASSA DE UMA METÁFORA? Será que a fé cristã pode ser interpretada pelo filme como uma ilusão ou sonho, uma dramatização do irreal? Mais do que isso, de uma realidade infantil? Daí ser protagonizado pelas crianças a quem a civilização pouco crédito dá. As crianças saem da realidade do grotesco e passa pela porta da magia e vivem uma inusitada realidade digladiante entre o bem e o mal, entre as trevas e a luz. Foi um sonho, um conto de ilusão que existiu apenas no imaginário. Tudo terminou quando as crianças adentraram de volta à porta da realidade. Será que o que ficou não foi uma quimera produzida pela ilusão do indivíduo que conseguiu, de forma extasiante, imiscuir os demais na mesma experiência simbólica, resultando na ilusão coletiva? Creio que essa leitura também pode ser feita sobre o que a película protagoniza e temo que o diretor quisesse apenas mostrar em beleza os temas da fé cristã de forma positiva e crível.

Para muitos, especialmente os críticos do fenômeno religioso, as experiências religiosas não passam de simbolismo que permitem à ingenuidade dos desavisados humanos conviverem com as forças do grotesco do inexplicável da realidade dada, enquanto a razão dormita no aguardo de ser despertada para o senso da positividade científica.

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 10/06/2007
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