Links para o dia das mães

- Vó, por que você não troca de marido? Este seu, "não tá com nada”. Disse uma menina de cinco ou seis anos, ao observar a avó dar comida na boca do marido, cuja doença o impossibilitava de comer sozinho.

Quem descreveu a cena foi a mãe da menina, uma pessoa muito influente, que dizia estar no quinto “marido”. Contou a um grupo de jovens, dizendo que os pais moravam em outro estado, portanto, a menina muito pouco os visitava; numa dessas visitas ela teve tal reação ao observar a situação deles. Admirava a capacidade da filha de tirar conclusões.

Quando tinha a idade da menina do caso acima, vivi uma situação de angústia semelhante: Num cacho de tâmaras verdes, havia um ninho de passarinhos, cuja espécie não posso precisar. A criançada observava o movimento do casal que se revezava para chocar os ovos. Um menino, mais afoito, subiu, pelos tocos das palmas cortadas, até o ninho. Não tirou nem quebrou nenhum ovo, mas pegou-os na mão e mostrou a cada um de nós, como eram bonitos os ovinhos de passarinho. Os pais voltaram, sentiram algo tão forte que nunca mais voltaram ao ninho violado…

Em muitas espécies, a violência invisível se torna insuportável e pode causar um tipo de endurecimento de coração semelhante à rigidez da morte. Ele não consegue mais manifestar mais toda a ternura que antes havia cultivado.

Focando no caso da menina e seus avós, cabe a pergunta: como serão as novas gerações ouvindo contar coisas absurdas como se fossem interessantes?

Poderão imaginar tal cena com uma profunda dor no coração? Conseguirão deduzir que que tal sentimento numa criança inocente, é fruto dos valores lhe têm sido passados, principalmente pelos exemplos? Ou, como a menina, vão considerar super-natural o descarte de pessoas cujo convívio deixa de ser agradável?

Serão capazes de calcular a dor sentida por aquele casal de avós? Ou de alguém que, de longe, fica sentindo, com alegria, a simples existência de uma família, imaginando as maravilhas de uma neta numa idade tão bonita... sente o quê, um coração de avô e avó, ao ouvir uma frase que demonstra um sentimento tão contrário a todos os que cultivaram, aos seus valores mais preciosos, demonstrados na própria atitude da mulher, cuidando, com amor, do amor da vida toda? Valores que esperavam ser ainda mais fortes em quem teve mais recursos para cultivá-los.

Esse sentimento, muito mais do que um conceito, de sacralidade do lar, a consciência de ninho dos seres humanos, tem sido negado às novas gerações da espécie. Cada vez mais, as pessoas parecem menos dotadas desse sentimento que hierarquiza a importância dos afetos. Hoje, em grande parte do mundo “civilizado”, há pouca distinção entre o amor ao novo smartphone, ao cachorro, ao bebê, e a qualquer outro membro da família. Todos são vistos igualmente como fontes de sentimentos agradáveis imediatos e, igualmente, descartáveis. Perdão, os pets são muito mais importantes.

Depois do descarte de Deus, a fonte de amor das antigas gerações, conseguirão os seres humanos aprender com os animais o que não têm visto mais entre os seres da sua espécie? Serão capazes de colocar em prática as lições de fidelidade e amor incondicional dadas por eles, ou somente usufruirão da incapacidade de seus pets de trair o seu amor? Involuirão até ser como os insetos, que simplesmente põem os ovos, como necessidade fisiológica, sem se importar com destino deles?

Há ainda o cenário mostrado pelo filme Matrix, onde os humanos vivem num tipo de líquido amniótico, como perenes fetos geradores da energia que mantém os computadores que lhes passam, continuamente, agradáveis situações virtuais…

Um vídeo que roda recentemente na internet, de uma mãe tirando, a tapas, o filho black-bloc de uma “manifestação”, traz um sopro de esperança. Haverá, ainda, energia amorosa no planeta, o suficiente para tirar a espécie humana da atual letargia?

Saberão ainda valorizar e preservar riquezas que não podem ser medidas por nenhum meio material ou convenção meramente humana?

“Façamos o homem à nossa imagem e segundo a nossa semelhança” - Gen 1, 26 - Fora do paraíso, longe de Deus, conseguirão os humanos preservar a prerrogativa da sua semelhança como o autor do mundo? Conseguirão realizar os links necessários entre as gerações para continuar a perceber, valorizar e cultivar o intangível, o que faz dele o ser mais evoluido do planeta, o que pode interferir nas vidas de todas as outras espécies? “Pedi e recebereis” - Mt 7,7 -

Homo sapiens, qual o seu destino? Continuará sendo sapiens?