O que nos diferencia, fundamentalmente, de outros animais?

Costumamos considerar a nós mesmos muito superiores aos animais. Acreditamo-nos muito mais inteligentes que todos eles. Crianças criadas por lobos, no entanto, comportam-se como animais, mesmo depois de retornar ao convívio com pessoas.

Pensa-se que a aquisição da linguagem facilitou, por exemplo, a caça, possibilitando a coordenação entre várias pessoas. O que a linguagem propiciou de mais fundamental, no entanto, foi a possibilidade de acúmulo entre as gerações.

Todos os seres vivos herdam seu material genético de seus pais. Herdam também, certamente, outros componentes do hardware que define cada ser. Alguns seres herdam um pouco mais que isso. Os cupins podem herdar uma bela casa, assim como animais que constroem e vivem em tocas. Um pássaro pode herdar o ninho em que nasceu. Tais heranças podem ser comparadas à de uma casa para uma pessoa, algumas delas podem ter alto valor para o indivíduo.

A linguagem, no entanto, possibilitou uma herança muito mais rica, um enorme acúmulo ao longo de gerações.

Os homens certamente foram presas de leões e leopardos por longas gerações. Mas os primeiros humanos a conseguir enfrentar tais feras podem ter ensinado outras pessoas a fazer o mesmo.

Há registros de tais comportamentos de aprendizado incipiente entre os animais. Mas nenhum deles aprimorou a técnica do ensino no alto grau propiciado pela fala. É bastante usual o ensino de técnicas de sobrevivência aos filhos, mas o escopo do ensino animal não se compara ao humano.

Assim, a fala possibilitou a herança de algo além do material genético dos antepassados, uma cultura crescente. Outras espécies permancem virtualmente estagnadas, enquanto a herança humana cresce dia a dia.

Quando o material genético foi descoberto descobriu-se, com surpresa, que nossa espécie não tinha um genoma mais rico ou complexo que outras. Se, no entanto, considerarmos toda a herança recebida pelos indivíduos, tanto a genética quanto a cultural, necessitaremos de mais informações para definir os homens que outros animais. A linguagem é um acumulador de complexidade, é o que nos diferencia dos animais.