A Restauração da Igreja São Domingos

Um dos exemplares mais antigos do patrimônio religioso do Litoral Norte Gaúcho é a Igreja São Domingos das Torres construída em 1824. A portaria 05/83 de 03.02.83 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) garantiu o tombamento legal da Igreja São Domingos através do Projeto Pró- Memória, considerado o único bem tombado do município. Em 1820, na passagem do naturalista francês Auguste Saint- Hilaire pela Vila de Torres há menção as edificações que estavam sendo construídas: “Como há projeto de se localizar em Torres a sede de uma paróquia, começaram a construir aí uma igreja, da qual até agora existe apenas o madeiramento. Depois de passarmos por essa igreja, chegamos a um forte, cuja construção está sendo ultimada neste momento e junto ao qual se acha o alojamento dos soldados do posto e o do alferes que os comanda. Estas construções estão situadas no lado ocidental do monte, local donde gozei um panorama que se me afigurou mais encantador do que efetivamente era, por causa da monotonia dos areais áridos, batidos. [...]Empregam-se em sua construção, cerca de trinta prisioneiros, tomados a Artigas. À exceção de apenas um, os demais são índios.”

Na descrição de Saint-Hilaire, é possível perceber a mão de obra escrava, majoritariamente indígena empregada na construção do forte e da Freguesia de São Domingos das Torres. A capela foi inaugurada no ano de 1824 e a torre só foi concluída em 1898. A igreja está incorporada a paisagem cultural de Torres e na memória social, pelas lendas e contos a exemplo do “Homem Seco” ou Sequilho” e pelos cerimoniais religiosos, missas, casamentos e procissões. O estado físico deste bem material estava comprometido por infiltrações nas paredes - excesso de umidade -, a torre e a fachada estavam num avançado grau de erosão pluvial e eólica. Na estrutura externa evidenciava-se a parte interior da parede composta por pedra e cal. Durante o verão de 2010, uma forte tempestade atingiu o litoral norte e a torre da igreja, a estrutura da parede lateral parcialmente desabaram, comprometendo substancialmente o telhado. Logo em seguida, o processo de conservação e restauração foi efetivado para recuperar o patrimônio edificado que remonta a vila de São Domingos das Torres do século XIX. Após, cinco anos o processo de restauração ainda não foi concluído e a comunidade torrense que é detentora do patrimônio histórico foi ignorada. Poderia ter sido efetivado um trabalho de Educação Patrimonial para o público estudantil, moradores e turistas no sentido de informar e sensibilizar as pessoas para o “real valor” de um patrimônio histórico. No restauro poderia ser divulgado os artefatos que foram encontrados demonstrando a estrutura arquitetônica da igreja e suas reformas, assim como o valor simbólico dos trabalhadores escravizados que ergueram as grossas paredes, a influência militar e eclesiástica com a permissão e outorga de D. José Caetano Coutinho em 1815. Nos 190 anos da querida igrejinha de São Domingos ainda testemunhamos agressões irreversíveis ao direito à memória, a história e cultura do povo torrense. Assim como nos orienta a Constituição Federal no Artigo 216 § 1º: “O Poder Público, com a colaboração da comunidade, protegerá o patrimônio cultural, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamentos, desapropriações e outras formas de acautelamento e preservação.”

Vamos defender e preservar nossas heranças históricas e culturais?

Publicado no Jornal Litoral Norte RS e Jornal A Folha.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 02/07/2015
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