- Um Quase Monólogo Para o Fim de Dois

- Em que está pensando? Pergunta ela.

- Em tudo. O que seria de nós se tudo tivesse sido diferente desde o começo. Onde estaríamos. Que seríamos. No que teríamos nos tornado. Se tivéssemos feito escolhas distintas, ora acreditando serem as corretas e convenientes, ora movidos pelo emocional e puro impulso.

Nossos destinos teriam se cruzado mesmo assim?

Ela, desde o início sem pronunciar palavra alguma, ouvia atentamente com o olhar mais lindo e apaixonante do mundo, na ocasião, mais brilhantes que nunca.

Ele percebeu. Contudo, deu segmento.

- O que será de nós 30 anos a frente? Estaremos juntos? Caso estejamos, estaremos satisfeitos? Ou estaremos distantes? Felizes, talvez? Nosso passado terá sido bom?

Ela ainda com a expressão intacta, apesar de tantos questionamentos, e nenhum esboço de manifestação. Ele prosseguiu.

Dessa vez ele a questiona diretamente sobre seus sentimentos mais ocultos.

Ele não sabe, mas porá fim a seu monólogo em breve.

Ela, sem hesitar, movimentou-se contundentemente, piscou seus olhos de forma aparentemente calculada e ele, que nunca gostou de matemática, refletiu momentaneamente sobre a beleza das exatas.

Ela o olha como se fosse a última vez que olharia para alguém, causando-lhe a impressão de que tudo o que ele antes questionava, não fizesse sentido algum. Um olhar profundo, sereno, feito de mistério que acabara de desvendar sua indagações. Com ela foi possível.

Ele teve a sensação de que nada era mais necessário que tê-lá a seu lado. Seu sorriso o fazia enxergar sua alma e tudo o que lá havia. Só ele via.

Dispondo de tal imagem a frente, com o coração disposto a se entregar, ele se despiu de todas suas dúvidas e à partir daquele exato momento, ele compreendeu: eles se tornaram peças de um quebra cabeça que se encaixavam, não poderia existir outro caminho, isso era ilusão. Nem outras decisões, muito menos "outro ele", "outra ela". Eles eram, fizeram, sentiram o que deveriam, o que eles sentiam ser necessário. Estavam onde deveriam estar, se reparando e redescobrindo-se através de um espelho. O da alma, talvez.

Entendeu que ela era perfeita. Feita para ele e ele para ela.

Eles deram as mãos e foram.

Para onde? Ela pergunta.

Para o fim, ora!

Estava tudo terminado. Determinado. Tudo acabado. Conjugados no infinitivo e descrevendo o final

Trágico, porém necessário.

Se não há dúvidas, há fins.

Heis o fim.

Não o meu.

Por enquanto.

Thayná Nogueira
Enviado por Thayná Nogueira em 06/08/2015
Reeditado em 02/07/2020
Código do texto: T5336792
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