Não Me Julgue

As pessoas são cruéis quando rotulam, julgam e formulam seus conceitos e pré- conceitos. Somos seres conscientes e costumamos discriminar tudo aquilo que nos é acessível aos sentidos; o preto, branco ou amarelo, os odores agradáveis e desagradáveis, o belo e o feio, o bom e o ruim, o gordo e o magro, o mocinho e o bandido, as divergências religiosas e as questões de gênero entre a masculinidade viril, a ternura feminina e as escolhas homoafetivas. Em termos culturais, os seres humanos descobriram sua verdadeira riqueza, seus tesouros identitários, peculiares que demonstram a diversidade de olhares e percepções de uma realidade compartilhada. Não existem culturas ou religiões melhores ou piores, mas culturas e religiões diferentes entre si, cada uma com seus dogmas e singularidades, modos de existir, de ser e se expressar.

Em nosso mundo transborda violência e intolerância, onde o que não conhecemos, o desconhecido, é ignorado, marginalizado e excluído. Não concebemos que há muito o que aprender com o lado escuro da Lua, ou seja, existem experiências e aprendizados significativos quando saímos da nossa redoma e percebemos as sutis conexões entre as pessoas. As relações de alteridade são complexas e propiciam momentos e reflexões para nos destituirmos de “nós mesmos” e embalado pela empatia “eu me coloco no lugar do outro”. Sensibilidade para procurar compreender os costumes e ideologias que são diferentes da minha, nem melhor, nem pior, apenas diferente. Abro os olhos e vejo o colorido e a beleza no jeito de ser dos outros, aliás, creio que aí está a beleza dos povos do mundo. Será que somos inimigos de nós mesmos? Recordo do poderoso provérbio do Rei Salomão: “Não adianta um rei conquistar muitos reinos se não conquista a si mesmo.” Somos o retrato da nossa cultura. Podemos questionar, criticar, mas não devemos dar espaço para a intolerância. Os laços que podem nos unir sucumbem nos discursos de ódio e no autoritarismo, na imposição da minha visão de mundo que ofusca o variado prisma de tantas pessoas que têm tantos direitos e deveres como eu e você.

Comentários, atitudes, olhares que discriminam costumam cavar seu próprio buraco agarrados no conservadorismo num alienado blá-blá-blá sectário e homogeinizante. As pessoas não são obrigadas a serem iguais e como diz o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, “lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem; lutar pela diferença sempre que a igualdade nos descaracterize”. Não existe igualdade numa sociedade desigual. Ás vezes, o preconceito vem de onde menos esperamos, os familiares e amigos mais próximos que muitas vezes não entendem como as pessoas que são diferentes delas são bem sucedidas e felizes com sua vida. Não sei se é incompreensão ou a maldita inveja, o “olho grande” como dizem os mais velhos. Procuro pensar que é “des – conhecimento”, porque para inveja tomo banho de arruda. Sou um Rastafari por opção religiosa, cultural e política e com o passar do tempo já testemunhei, e ainda testemunho, situações lamentáveis. A princípio me espantam, mas depois transformam-se em combustível para fortalecer a minha vivência e percebo que estou no caminho certo erguendo nossa bandeira da PAZ e do AMOR UNIVERSAL. As pessoas jogam palavras ao vento sem conhecer os fundamentos da minha cultura, julgam-me pela minha barba ou pelos meus hábitos, costumes e longos dread-locks e ficam abismadas quando me veem escrevendo, publicando livros, participando de projetos ambientais e ações sociais, frequentando as universidades ou lecionando nas escolas. Não admitem que as pessoas alternativas e subversivas possam ocupar “cargos” de prestígio e serem reconhecidas pelo trabalho em nossa hipócrita sociedade que nos lembra a soberba da antiga Babilônia. Chega de humilhação e constrangimentos, respeitem as pessoas como elas são verdadeiramente, sem máscaras, mentiras e ilusões, ou melhor, basta de “falsas verdades”. Menos discriminação e mais aceitação e respeito. Aprendi muitas coisas sendo um Rasta, experiências que me tornaram um ser humano íntegro, humilde e combativo. Em minha mente ecoam as palavras de Marcus Garvey: SÓ O CONHECIMENTO LIBERTA! As aparências não se sustentam com o tempo, entretanto a essência se aprimora e como um diamante bruto ganha forma e brilho. O tempo passa, o efêmero passa, os preconceitos são derrubados e eu peço: NÃO ME JULGUE!

Publicado no Jornal Litoral Norte RS e Jornal A Folha - Torres/RS

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 24/09/2015
Reeditado em 24/09/2015
Código do texto: T5393223
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