SERÁ POESIA OU SERÁ POEMA?

SERÁ POESIA OU SERÁ POEMA?
Jorge Linhaça

Dizem que a dama poesia, quando ganha materialidade, torna-se um ser masculino chamado poema.
Partindo dessa premissa transexual resolvi colocar, no papel, minhas impressões sobre a poesia e o poema.
A poesia, essa dama envolvente e sedutora, se imiscui em nossos sentimentos nos levando a um estado de euforia ou melancolia, bem típicos da influência que a mulher exerce
sobre os homens.
Invade-nos com tal força e vigor que é impossível que não nos deixemos sucumbir diante de sua
beleza e encantamento.
Ficamos prenhos, grávidos, ávidos por dar à luz ao nosso rebento em forma de versos, brancos ou não.
Pouco importa se assumirá a forma de um clássico soneto, de um debochado cordel, de uma lírica cantiga, um cantante rondel, uma homenageante e complementar glosa, belas sextilhas, livres prosas poéticas,curtos poetrix,
sintéticos haikais ou seja lá o que for, queremos mesmo é dar à luz a poesia...
Rabiscamos no papel, seja ele real ou virtual: um guardanapo de restaurante, uma folha de sulfite, as páginas de um caderno, ou a tela de um computador...deixamos fluir a emoção em nossos versos, semeamos palavras como quem cultiva o mais belo roseiral... regamo-lo com as lágrimas de nossa alma e, enfim, eis que, após o alegre ou sofrido parto, tomamos em nossos braços esse ser transmorfo, que, embora de alma feminina,reveste-se da masculinidade do nome poema.
O poema tem que ter alma, e essa alma se chama poesia.Uma dualidade paradoxal entre o masculino e o feminino.
O nome pouco importa, o poema/poesia tem que ter um
derramar de sentimentos tal, que o poema material, impresso, seja apenas um efêmero e transitório veículo para que, a poesia, a essência do sentir,
volte a ser aquele ente abstrato que invade a alma do leitor, suscitando nele sentimentos e emoções iguais ou distintos dos de quem o deu a luz.
Metamorfose constante : essa é a melhor definição da poesia/poema, essa capacidade de sendo o mesmo, ser tão diferente aos olhos de quem os lê, como diferente é a capacidade
de sentir, interligada que é ao histórico de vida de cada um.
Faço poesias ou poemas? Nada disso! Rabisco sentimentos, descrevo impressões, imprimindo nos meus versos ou prosa - nada mais, nada menos - do que um pouco daquilo que sou, penso ser, ou gostaria de vir a ser.