CONDUZINDO A VIDA

Muitas vezes, nos perdemos de nós mesmos por acreditar em tantas pequenas coisas, por crer tão pouco naquilo que deveria ser tratado como Verdade universal... naquilo que sentimos... que pensamos... que pressentimos... que amamos.

Muitas vezes,deixamos de ser o que somos... nos despersonalizamos... tornamo-nos produtos de um mercado sem sentimentos, sem ideais, sem sonhos.

Esquecemos o legado que adquirimos com o tempo, a nossa essência e tudo mais que, com grande esforço, conquistamos... esquecemos de nós mesmos!

E, simplesmente, paramos de contemplar as belas maravilhas do mundo: a variedade das cores, a diversidade musical, a infinidade de aromas, o sol e cada flor, cada pedra, e plantas e grãos de areia do caminho que percorremos, e a brisa confortante que nos envolve em tardes de inverno, ou o vento úmido e gelado das noites de luar... perdemos nossa sensibilidade e, aos passos, nossas vidas.

Deixamos o tempo passar simplesmente, e, sem ver, fazemos das oportunidades meras e mudas inexistências...

Achamos, erroneamente, que "Aquele Alguém" não mais nos ouve ou estar ocupado demais, em suas divinas tarefas, para atender as nossas preces ínfimas, mesquinhas e, por vezes, débeis.

Tudo parece ter nos virado as costas... E agora?

Estamos moralmente mortos? Quem nos matou? Por que?

É preciso ter bastante serenidade, humildade e autoconsciência para compreender a aura mística e relutante dessa situação, a sua gênese, e por fim, o enredar-se de sua resolução.

Não é o Outro que nos faz padecer... o Outro não pode anular uma alma ativa e construtora de seu destino social... ninguém tem esse poder a não ser o próprio individuo...

O Outro é uma criatura sem ação, nada pode fazer a favor ou contra nossas vidas...é mero coadjuvante, alguém que contracena conosco naquele filme chamado VIDA, do qual somos o diretor, o escritor e o ator principal.

É importante ter o foco de que as pessoas só podem participar de nossas vidas se, e somente se, à elas for outorgado esse poder... ninguém governa ou administra algo em nome próprio. Toda ação sobre qualquer coisa que não se relacione intimamente com a vida do agente sempre depende de uma delegação de Poder.

Assim, e decorrente desse processo de Ordenação e Serviço, é fundamental que reconheçamos, também, a parcela de culpa que nos compete em relação aos nossos próprios fracassos e frustrações, em relação às nossas carências e impossibilidades. É importante que nos perguntemos em cada situação, e em todas as situações de nossa vida, o que temos feito para possibilitar a ocorrência de nossos anseios, de nossos ideais e desejos mais profundos...`

É preciso adotar uma posição de responsabilidade e reflexão profunda em relação a nossa própria existência. E, posterior a isso, uma posição de único gerente do processo vivencial.

É preciso ter a coragem de arregaçar as mangas e ir à luta, mesmo que seja doloroso, cansativo e, por vezes, sangrento e repleto de restos viscerais daqueles que, por qualquer motivo, se opôs à ideia de que somos o que somos.

É preciso crer... crer na vida, e em todas as suas possibilidades e manifestações... crer em Deus, na sua existência, nas suas obras... e na edificação de um Deus Interior que nos permite fazer tudo, incrivelmente TUDO.

Depois, torna-se necessário compreender a lógica da concessão. Devemos entender o silencioso jogo que se estabelece quando nos predispomos a aceitar que um Outro entre em nossas vidas, as vantagens e desvantagens inerentes a esse jogo, e as regras que o controlam.

Só então, a partir do entendimento desse jogo, devemos nos permitir a conceder licenças para o Outro participar de algumas cenas, ou de todas as cenas, conforme a relevância desse Outro para o nosso processo.`

É necessário prever ou, para os mais racionais (o que não é o meu caso), planejar o quanto o Outro poderá ficar na nossa vida... e possuir a singular habilidade para cobrar dele os benefícios esperados durante esse "tempo de permanência".

Às vezes, será preciso expulsar alguns, desonerar outros, contratar aqueles melhores... e, de tempo em tempo, recontratar um pouco daqueles que outrora mandamos embora... esse é o fluxo natural de toda e qualquer Organização.

Mas, o mais importante, é jamais deixar de VIVER e, acima de tudo, GERIR A PRÓPRIA VIDA.