As Placas que Orientam

O Litoral é uma das regiões mais frequentadas na temporada de verão no hemisfério Sul. Os atrativos naturais, históricos e culturais compõe a diversidade dos territórios litorâneos. Migrações sazonais de milhares de pessoas procuram usufruir anualmente de coisas simples que somente o meio ambiente preservado pode oferecer: o ar puro tonificante e o banho de mar revigorante e medicinal. Praia e natureza uma combinação que vem sendo ameaçada pelos catastróficos planejamentos urbanos e o turismo massificado e desregrado. Uma avalanche de notícias apocalípticas sobre o meio ambiente, desde a contaminação do Vale do Rio Doce, ao desenfreado desmatamento da Floresta Amazônica até a poluição das famosas praias turísticas que tornam-se espaços fétidos devido a vazão dos sistemas de esgoto cloacal. As lagoas e os caudalosos rios sofrem com o assoreamento de suas margens e com a dispersão dos agrotóxicos e defensivos agrícolas. As cidades distribuídas na faixa litorânea dependem da preservação das suas características naturais e históricas para se perpetuarem. Contudo, quando não há informação e conhecimento sobre algo, não há pertencimento e não existe nenhuma possibilidade de reconhecimento e valorização. Só podemos preservar aquilo que (re) conhecemos e valorizamos. A História, a Cultura e o Meio Ambiente são preservados quando se tem um profundo significado para as comunidades detentoras dos elementos do Patrimônio Cultural. Os saberes populares, os lugares e monumentos, as edificações e sítios arqueológicos são alguns exemplos destes bens coletivos e protegidos por legislação específica. No caso da cidade turística de Torres, onde as falésias (as torres naturais) são as referências que dão nome ao lugar é obrigação e dever da municipalidade e dos diversos setores da sociedade assegurar a proteção e preservação com intuito de conservar as áreas de entorno das mesmas, ou seja, não pode ser permitida a construção de edificações artificiais que ofusquem ou deturpem a paisagem natural. Torna-se consensual quando existem argumentos e percepções que ajudem a transformar a ótica desenvolvimentista por uma visão sustentável que respeite os legados históricos e os monumentos naturais. Em Torres a natureza e sua história são os principais atrativos. Por isso, devemos retirar o manto que aliena nossa comunidade e visitantes sinalizando os locais de relevância cultural, histórica e ambiental. A população local desconhece os monumentos, o centro histórico e as unidades de conservação da sua própria cidade. Se os anfitriões desconhecem o fio condutor do tempo que configurou sua identidade e cultura, imagine os forasteiros que passam de um lado para o outro? Não existem as placas que orientam as pessoas em busca de seus roteiros ou simplesmente informam e revelam sua importância. As placas se resumem a orientação das estradas e praias. Apenas setas que apontam para um destino ou a catastrófica placa da FEPAM nos molhes do Rio Mampituba denunciando a qualidade da água imprópria para a balneabilidade, aliás, completamos 15 anos de poluição deste caudaloso rio. As pessoas chegam e não sabem onde é o Centro Histórico ou os Museus da cidade. Quando caminham no Parque da Guarita passam sobre os sítios arqueológicos e não sabem da existência dos vestígios da tentativa da construção do Porto em 1890, do primeiro Datum Altimétrico do Brasil em 1919 ou dos locais onde funcionavam a olaria e as caieiras que legaram o nome a histórica Praia da Cal. Os lugares de memória nos bairros circundantes as lagoas, rio e na zona rural permanecem “obscuros” ao conhecimento da sociedade em geral. Um cenário preocupante cujo desconhecimento torna-se perigoso, promovendo um limbo, um vazio. Desperdiçamos nosso potencial para o turismo cultural e afetamos negativamente a memória social quando não há referências para nos amparar. A sinalização turística e histórica era uma preocupação do escritor Ruy R. Ruschel e no seu livro Os Fortes de Torres (1999) há menção de um projeto que valorizasse os aspectos históricos e naturais para o reconhecimento da população fixa e flutuante. Placas com informações em português, espanhol e inglês trariam qualidade e conteúdo aos transeuntes. Pequenos gestos e ações simples dos gestores do Poder Público, da comunidade e dos turistas podem transformar nosso litoral num local aprazível para se viver e conviver respeitando a natureza, o patrimônio histórico e a cultura popular. Quando elaborada com primazia, uma mera sinalização comum pode se tornar num “portal para o conhecimento” desvelando uma enciclopédia de saberes, assim que aportamos nosso olhar nas verdadeiras placas que orientam. Sinta, vivencie e preserve o Patrimônio Cultural!!!

Publicado no Jornal Litoral Norte RS e Jornal A Folha/Torres.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 28/01/2016
Código do texto: T5526230
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