A degradação da poesia

Meu intento neste breve texto é elucidar, dissipando a bruma do Politicamente Correto, os porquês de a poesia, a verdadeira poesia, estar se perdendo entre os novos poetas do país. Para isso, basear-me-ei em duas causas principais, responsáveis pelo problema aqui citado: o Modernismo, que concedeu irrestrita liberdade para o fazer poético e os projetos de popularização da poesia.

Antes do início, penso que é de grande valia deixar uma breve consideração a respeito do que verdadeiramente é a poesia.

Arte é sinônima de técnica, engenho; não significa pôr sobre um papel, néscia e cruamente, aquilo o que vem de dentro. E a poesia, sendo uma arte, não é diferente: o poeta precisa conhecer a forma e ter noções de ritmo e sonoridade, em outras palavras, é necessário que ele conheça as regras da versificação.

O MODERNISMO – AMPLIANDO OS HORIZONTES DA POESIA E OS DOS TOLOS

A respeito do que foi dito acima, pode-se perguntar por que é tão necessário que se domine as regras de versificação se o poeta pretende, por exemplo, escrever em verso livre. Tanto o livre quanto o verso metrificado não são excludentes, ou melhor, o primeiro tem enorme dependência para com o segundo. Escrever bons versos livres demanda que o poeta conheça o ritmo, a sonoridade e a métrica, tão laboriosamente cultivados pelos simbolistas, parnasianos e românticos.

Nossos grandes modernistas eram profundos conhecedores da forma fixa e, por isso, e só a partir disso, decidiram transcender as fronteiras que ainda tolhiam sua expressão. E para que tal façanha fosse possível, eles precisaram do conhecimento supracitado.

Se Drummond, João Cabral e Bandeira, nossos três maiores modernistas, basearam-se na forma fixa, visto que iniciaram suas carreiras escrevendo sonetos e poemas do tipo, por que reles adolescentes, que mal dominam a língua, após escrever algumas linhas sob linhas, porcamente rimando aqui e acolá, sem nenhum conhecimento rítmico ou de metrificação, já podem considerar-se poetas modernos e laureados? Ora, estão muito longe disso! Também estou, mas faço a minha parte: não hei de escrever verso livre por um bom tempo.

O Modernismo criou a ilusão, ainda que involuntariamente, que todos estão aptos para escrever poesia; pois, tratadas todas as regras fundamentais como empecilhos para o verdadeiro fazer poético, não há mais requisitos a se cumprir, tudo vale. Então, do mesmo berço de onde saíram Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Rachel de Queiroz, assim como tantos outros, dali também prorromperam abomináveis criaturas, que nada contribuem para literatura brasileira.

Havia maus poetas nos séculos precedentes, é claro, mas não era algo tão alarmante quanto hoje.

POPULARIZAR – A POESIA PELOS PÂNTANOS DA BURRICE

Como se há de conceber que resulte em boa coisa um entregar da poesia em mãos de quem anda completamente imerso em futilidades? Para fazer poesia é necessário estudo e prática, o rigor deve ser mantido.

No entanto, o que se vê hoje em dia é bem diferente: há uma complacência absurda e até hipócrita com relação ao amadorismo. Não se cobra nada, tudo está bom, basta que se expresse os sentimentos. Mas ao contrário do que se pensa, a verdadeira essência da poesia não está na simples exposição de sentimentos, mas na forma com que ele são expressados.

Não há problema algum em abordar temas clichês; se são clichês é porque são válidos, do contrário, não seriam tão usados. O defeito da poesia amadora é que, além de valer-se de um conteúdo batido e nada inovador, expressa-se com uma infantilidade terrivelmente patética. Isso se deve à inépcia, à falta de estudo e de prática constante.

Destituída de seu trono por ignóbeis plebeus, a poesia encontra-se afogada, revolvendo-se na pútrida lama de onde saíram seus detratores, envoltos pelo consútil manto da pérfida boa intenção. E agora, na aterradora visão de que segue oscilando já bem longe a áurea coroa, que com as suas pedrarias e rutilâncias iluminou e enferveceu espíritos pelo mundo, sobeja-nos uma única certeza: poesia é ofício para poucos.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 08/02/2016
Reeditado em 09/02/2016
Código do texto: T5537670
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