Entre uma página e outra...

Os finais de semana, as férias e os momentos ociosos podem ser preenchidos com boas companhias, amigos inseparáveis que trazem consigo grandes e valiosas lições. Alguns são inesquecíveis, outros nem tanto, mas certamente são fundamentais. De capa dura com páginas amareladas pelo tempo empilhados em prateleiras esquecidas ou embalados ainda com as páginas branquinhas e cheiro de novo de conteúdo literário, científico ou artístico os livros são o registro das aspirações humanas. Os livros conduzem o conhecimento de uma época e traduzem o “diálogo” entre os escritores e seus leitores e abrem novos horizontes. A cada livro lido descortina-se um universo de saberes, sentimentos e emoções em que cada leitor transforma-se com a leitura. Inclusive podemos trafegar na esfera do aperfeiçoamento pessoal e profissional quando nos apropriamos intelectualmente dos compêndios que nos chegam em mãos.

No Brasil temos um déficit no incentivo a leitura, onde o mercado editorial ainda é restrito e muito caro comparado a outros países. Não vivemos num país que valoriza os livros e a leitura e os brasileiros não são ávidos leitores. Historicamente, a escolarização era destinada as elites enquanto as camadas populares eram vistos como instrumentos para o trabalho braçal. Apesar de todos os avanços nas políticas educacionais e culturais, ainda somos uma nação de analfabetos funcionais. Entendemos os códigos linguísticos, as palavras e orações, porém não compreendemos seu conteúdo. Triste realidade!

No mundo virtual aprendemos o “internetês” antes da linguagem formal e quando necessitamos colocar no papel o que elaboramos em nosso pensamento... Como diz a juventude: “BUGOU, Travou o HD!?!?” (nesse caso estão se referindo ao cérebro humano). Paralisamos pois a escrito é um exercício e como diz o ditado: “Só podemos botar pra fora aquilo que tá dentro”. Sem leitura não há nenhuma possibilidade de escrita. Com a invasão tecnológica dos suportes virtuais discute-se qual será o futuro dos livros. Na era dos tablets e e-books, munidos com um arsenal de aparelhos multimídias que propiciam os leitores o contato com os livros digitais como será o “ato de ler” daqui a algumas décadas? A luz de um lampião consigo folhear as páginas de um livro, entretanto não consigo fazer o mesmo com as mídias digitais se faltar energia elétrica. As teorias que são as essências dos livros podem ser extremamente subversivas e em períodos obscuros da História da Humanidade são incinerados aos milhares. O trágico incêndio na Biblioteca de Alexandria, a Inquisição no período Medieval, os regimes totalitários como o Nazismo, sem esquecer as atrocidades do Estado Islâmico, os livros são queimados deliberadamente. Simples livros podem influenciar milhões de pessoas, inclusive aquelas que nunca leram os “clássicos”.

O gosto pela leitura vem de berço e é sempre um bom investimento a aquisição de livros infantis que acaba por encantar crianças e adultos. Ler para as crianças antes de dormir é uma boa estratégia para despertar o prazer e a curiosidade. Um passeio legal é conhecer as bibliotecas públicas das cidades e ampliar nosso acesso aos espaços culturais seja nos bairros, nas escolas, nas universidades e até mesmo a acervos particulares. Ler não tem contra –indicação (exceto uma visita periódica ao oftalmologista) e não tem faixa etária e faz bem para a saúde mental e afetiva enriquecendo sobremaneira o vocabulário, aguça o senso crítico e facilita a comunicação. Entre uma página e outra, converso comigo mesmo e com autores vivos e mortos que deixaram seu legado ao mundo de forma escrita. Quanto mais contato com os livros percebo que somos eternos aprendizes nesse mundo complexo que do Cosmos não passa de um pontinho azul perdido na imensidão.

Publicado no Jornal A Folha/Torres e Jornal Litoral Norte RS.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 11/02/2016
Código do texto: T5540570
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