CONCISAS CONSIDERAÇÕES

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATO DE AVALIAR (RECONHECIDAMENTE PREJUDICADAS PELA CONCISÃO)

Ana Maria de Oliveira

“Digo: o real não está na saída nem

na chegada: ele se dispõe para

a gente é no meio da travessia”

João Guimarães Rosa, “Grande

Sertão: Veredas”.

A escola brasileira, em geral, lembra muito qualquer sistema de normas rígidas (corporações militares, penitenciário...): pune, castiga, dá prêmios... oferece benefícios ao que se comporta “bem” e reprime quem se comporta “mal”. Em outras palavras, estimula a concorrência, ensinando a ser um vencedor ou um fracassado. Para a escola, não há aqueles que têm maior inclinação para uma ou outra área do conhecimento, mas os que são bons em tudo.

Eis aí o primeiro equívoco: imaginar que alguém possa interessar-se por tudo o que há a sua volta. Somos seletivos e isso é inerente. Se há quem não gosta de laranja, berinjela, feijão... por que, obrigatoriamente, teríamos, todos, que gostar de Matemática, Inglês, Português ou Química?

Outro equívoco freqüente traz a idéia de um “depositante” e um “fiel depositário”. Ou seja, alguém que possui o conhecimento e o/a outro/a que é a figura da tabula rasa. Esta é uma relação de poder, pois pressupõe que o conhecimento é propriedade de quem o detém, podendo, portanto, distribuí-lo ou não a quem quiser.

E o terceiro engano: os/as que pensam deter o conhecimento enclausuram-se e usam o diploma como escudo, tornando inimaginável questionar a prática que exercem. Afinal, “estudei, me formei, tenho um diploma”, como podem pôr em dúvida aquilo que ensino?

Com essa pequena introdução, passemos ao elemento fundamental do texto – a avaliação. Talvez seja uma heresia para muitos, mas creiam, a avaliação, pelo menos a formal, é um suplício tanto para quem tem de elaborá-la, quanto para quem precisa dar conta dela. O primeiro porque fica sempre com dúvidas: Perguntei o que era essencial? Isso tem aplicação prática? Pra que serve? Fiz fácil demais? Está muito difícil?; o segundo, por nunca ter a mínima idéia do que vai ser pedido, se o/ professor/a vai fazer “de marcar”, para completar, se não vai pedir o detalhe do detalhe...

E as médias então? Verdadeiro malabarismo matemático. Entre somas e descontos, louvam-se os “nota dez”, salvam-se os mais ou menos e...danem-se os abaixo da média exigida! (Mais ou menos como dar comida pra quem já está nauseado de tanto comer!).

Temos, então, a escola excludente que não considera a multiplicidade dos saberes, na qual o que está contido nos livros é o que vale; as experiências, os anseios, os objetivos de vida, as curiosidades, as relações sociais e as vivências culturais trazidas de fora dos muros escolares são desprezadas, quando sabemos que “Apoderar-se da cultura é uma grande emoção; apropriamo-nos de múltiplos símbolos”. (PAÍN, 1996).

Neste caso, a avaliação é um elemento quantitativo e não qualitativo. Vale o maior número de informações que puder ser memorizado e demonstrado, não significando, nem importando, se as mesmas são reelaboradas e transformadas em conhecimento.

Assim, avaliar transformou-se em instrumento de coibição e tortura. Por que será que alguns/algumas alunos/as faltam sempre nos dias de testes e provas? Por que avaliar não pode ser leve, prazeroso e quase imperceptível? Quando alguém faz um cartaz e coloca na sala de aula ou recorta uma poesia de um jornal está ou não produzindo conhecimento? Ao ser questionado/a sobre os motivos que o/a levaram a recortar a poesia e apresentá-los, não está argumentando? Nos detalhes desperdiçados se perdem as grandes molas propulsoras para a construção do conhecimento dinâmico, dialógico e democrático.

Estejamos, pois, atentos e atentas! A curiosidade move o ser humano, muito mais quando se trata de troca. E isso não pode ser medido com “X”, números ou grade de respostas.