De Volta a Zenão

O pensador grego Zenão de Eleia da era chamada pré-socrática, ficou famoso por suas teorias filosóficas que perduraram na história, com argumentos que serviram de base, inclusive para a refutação em relação a alguns deles. Uma de duas teorias trabalha com a ideia de movimento, no sentido de negação do mover, com as seguintes teses: Paradoxo da dicotomia – Imagine um móvel que está no ponto A e quer atingir o ponto B. Este movimento é impossível, pois antes de atingir o ponto B, o móvel tem que atingir o meio do caminho entre A e B, isto é, um ponto C. Mas para atingir C, terá que primeiro atingir o meio do caminho entre A e C, isto é, um ponto D. E assim, ao infinito; Paradoxo de Aquiles – Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido uma nova distância; e quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga já terá percorrido uma outra nova distância, e assim, ao infinito; Paradoxo da flecha imóvel – Uma flecha em vôo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões e se, a flecha em vôo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo a flecha em vôo está em repouso; e por fim o Paradoxo do estádio - Assim como a flecha, argumenta que é impossível que a subdivisibilidade do tempo e do espaço termine em indivisíveis.

Tais argumentos contra o movimento já foram rebatidas por teorias posteriores, mas me sirvo da mesma linha de raciocínio para dizer que Zenão, se pensarmos na ideia de movimento moderna, estaria equivocado em suas percepções. Mas aqui, o objetivo é trabalhar com uma outra perspectiva, que parte do pressuposto de algo finito, no que se refere a tempo, espaço e consequentemente o movimento que se dá nesses mesmos. Imaginar o tempo como um Todo, faz dele essa abrangância que beira o Absoluto. Mas quando destacamos dentro da cadeia temporal, as temporalidades que se dão no mesmo, assim como no Espaço, fragmentamos, chegamos ao instante que aqui chamo de Kairós. Utilizamos uma outra divindade grega que também se refere ao Tempo.

Essa indeterminação que foge a cronologia do tempo e cai naquilo que atribuímos qualidade como algo especial, já que demonstra algo único em sua forma. O instante é fugidio e apesar de sabermos a seu respeito e de que muitos outros virão, sempre serão diferentes, apesar de estarem predicados como sendo o mesmo.. O Kairós é sempre mais do Mesmo ou Menos do Mesmo, mas nunca o Mesmo do Mesmo. Ele se dá sem ser percebido e mesmo assim não podemos negar o pressentimento em relação a ele. Cada momento é único e não volta mais, uma frase que é dita popularmente, fazendo da expressão Carpe Diem quase uma necessidade vulgar, embora saibamos de sua incosist~encia, já que não é possível esse aproveitamento completo de consciência, já que temos noção apenas quando se deu ou pressupondo que assim o fará. Viver o agora é justamente um não saber que vivo, ou um não-viver.

Voltando a polêmica teoria de Zenão, imaginando seu argumento em relação a finitude de uma temporalidade que se dá dentro do Kariós, temos momentos estanques, mortos, parados, fora do tempo Chronos, ao mesmo tempo que pertencendo a ele, já que sua natureza limitada, faz com que se encerre naquele instante e que represente o próprio esquecimento, fazendo uma curva que serve de lacuna para que memória faça seus movimentos de reorganização. Você parte do tempo infinito e cai nesses pequenos burcoas negros, que vão se tornar esse nada intransponível, criando o finito estanque ou paralisado que Zenão conseguiu enxergar e associou a ideia de movimento. Partindo o pressuposto de que sem essa não relação entre tempo infinito e finito, Chronos e Kairós, o próprio Todo estaria comprometido, já que se dá através desse mesmo que lhe mutila, deduzimos que esse outro instante é não comprometido, já que se desfaz para um outro refazer. Nesse caso podemos dizer que não existe de fatro um movimento, mas um contra-movimento, fazendo com que o Mesmo retorne a sua condição de mesmidade, a partir da relação, criando assim o Mesmo do Mesmo, que seria esse abismo primordial, e que a partir do conflito que cria essa impressão de movimento justamente por estarem em um desequilíbrio estático, já que se polarizam em sua própria negação.

A partir dos argumentos expostos considero relevante a teoria de Zenão e coerente, fazendo com que perceba no Paradoxo da Dicotomia, que sempre que relacionamos um a outro, temos uma lacuna que não pode ser resolvida, já que a tenativa de junção formará novos hiatos. No caso de Aquiles, a própria tartaruga já se faz vencida, já que a menor pretensão de ir já é consequência de de um já ter ido. Um jogo sem ganhadores, já que a perda é predominante e ela que guia a disputa. Quanto a flecha podemos pensar nesses mesmos momentos fósseis, em que somos descobertos para perecer, sempre cobertos novamente, andamos sem sair do lugar, um não-movimento autêntico. Por fim temos a indivisibilidade, já que apesar do Tempo e do Espaço serem divisíveis, aquilo que faz parte também deles e que os faz interagir reagindo, que seria o Grande Hiato, expresso pelo Kairós, não é divisível, já que está Em-Si e Para-Si, O Mesmo do Mesmo. A indivisibilidade é esse Nada que a tudo agrega justamente em sua relação de desagregação degradante.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 20/02/2016
Código do texto: T5549357
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