Sobre os males do mundo: a propaganda

Fala-se muito em câncer, aquecimento global, ameaça nuclear, agrotóxicos envenenando os alimentos e o planeta, e outras desgraças que nos afligem nesse momento crucial da história da humanidade, mas temos nos esquecido da propaganda, um mal maior que alguns desses, e responsável por vários deles.

As propagandas são vistas hoje, como algo natural, inofensivo, como “parte da paisagem”, digamos. Não vemos nelas nenhum mal, estão diluídas em nosso cotidiano.

Ao mesmo tempo, o crime de estelionato é explicitado no art. 171 do código penal: Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; com pena de 1 a 5 anos de reclusão, mais multa.

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Se atentarmos para as propagandas que vemos diariamente, perceberemos que uma parte considerável delas consiste em tentativa de manipulação da população. Embora exista uma propaganda informativa, aquela que anuncia a existência de um produto e seu preço, uma parte considerável da propaganda veiculada publicamente consiste em artifícios, ardis e meios fraudulentos para manipular as pessoas, induzindo-as a fazer coisas que não desejam, como comprar coisas inúteis, ou prejudiciais, em proveito de alguém. Ou seja, estelionato.

Depois de algumas décadas em que as populações foram induzidas a adquirir o estranho hábito de fumar, a propaganda de cigarros acabou sendo proibida, não sem antes ter gerado inúmeros males.

Continuamos assistindo passivamente a propagandas de refrigerantes, muitas delas direcionadas a crianças. Refrigerantes são xaropes químicos diluídos em água com gás carbônico (CO2). Inicialmente, esses xaropes horrendos eram apresentados como substâncias medicinais, panaceias destinadas à cura de males generalizados. Ao tomarmos tais porcarias pela primeira vez sentimos grande repulsa, depois nos habituamos, se somos levados a tal na infância. A quantidade de açúcar adicionada ao líquido é espantosa e altamente prejudicial, sendo responsável por obesidade e diabetes, dois males frequentes, recentes e decorrentes dos maus hábitos impostos pela propaganda.

Também assistimos passivamente ao enaltecimento de inúmeros alimentos perniciosos, “enriquecidos” com excesso de sódio, gorduras nocivas, e vários aditivos prejudiciais à saúde. Quase toda a população encontra-se viciada em “alimentos” desses tipos, vítimas da propaganda.

As crianças são as vítimas preferenciais desse crime, por serem mais frágeis, desprotegidas, e para que sejam adestradas desde cedo, o que facilita seu controle. Crianças são fortemente moldadas pelas diretrizes impostas pela TV. Por que permitimos isso?

Bebidas alcoólicas e remédios também são anunciados descaradamente.

Poderíamos beber água das torneiras, mas somos levados a comprar garrafas que permanecerão emporcalhando o planeta por milhares de anos. Somos constantemente induzidos a adquirir novos hábitos, a comprar coisas desnecessárias, enganados por pilantras que nos controlam para obter vantagens próprias e de terceiros. Somos transformados em idiotas desde criancinhas, em animais amestrados.

Inúmeros de nossos hábitos diários foram moldados pela propaganda, e quase todas as coisas que compramos nos foram induzidas por ela.

Esse texto curioso nos joga no impasse absurdo de, para não admitir nossa idiotice, nos vermos na contigência de negá-lo, defendendo os adestradores que escarnecem de nós.

Vivemos como idiotas.