Ensaio sobre ser Pangênere

Coloco-me hoje como pangênere como uma possibilidade de explorar-me o fundo através do prisma universal de que somos um. “Pan” vem do grego e significa “tudo” ou “todos”. Gênere vem de gênero, me utilizo desse neologismo para afastar-me da dicotomia ele/ela e tal.

É interessante explanar e elucidar que a pangênero é a identificação essencial que me permite explicar/explanar/fomentar/concluir que sou homem cis e mulher trans em minha completude, assim como sou agênere, homem trans e mulher trans, homem não binário e mulher não binária assim como homem não binário e mulher em sua completude; assim como coexiste em mim todos os gêneros expressados particularmente – um a um – ou todos existindo e habitando a expressão do eu simultaneamente.

A tendência humana de correlacionar o conceito de tempo ao nosso espaço de consciência nos remete a olharmos a realidade em si como algo propriamente nosso, então o eu em sua metamorfose não se prende aos gêneros multifacetados e tampouco deixa de sê-los, continua sendo tudo aquilo que é dentro de si mesmo – o todo.

O gênero humano em si reflete a infinitude de possibilidades do universo de se recriar dentro de si mesmo, se pensarmos que o universo é um multifacetado presente assim como a expressão multifacetada do eu.

O meu corpo físico não me castiga! O meu corpo físico me satisfaz!

Assim como não me sinto menos mulher tendo um pênis ou mais homem tendo um pênis. Sou como todas as mulheres: as virgens, as putas, as mães e as anciãs. Sou todos os homens: os boleiros, os malandros, os pais e os anciãos. Sou homem e mulher, sou mulher e homem. Habito em todas as tonalidades do espectro da sexualidade humana e também sou agênere, não possuo gênero algum.

Assim como sou andrógino, travesti, transexual e não binário. Assim como sou homem cis. Sou mulher trans e tantas infinitas possibilidades. Sou assim porque simplesmente sou e me permito existir assim, sou o que sou dentro das infinitas possibilidades de gêneros.

Não há porque alimentar máscaras de que somos apenas a íntima expressão da cultura. Não! Além disso, somos seres híbridos sensíveis a todas as formas de vida e existência humana. Eu existo sendo pangênere como uma expressão natural da natureza humana. Uma legítima expressão do eu, de mim.

Se medito sendo o que sou é importante viver e refletir sobre como viver sendo todas as minhas possibilidades de ser.

Há dias em que eu me sinto homem e sou. Há momentos em que eu sou mulher em sua completude. Há momento em que eu me elevo, sou uma híbrida travesti. Há momentos em que em eu sou um homem profundamente feminino. Às vezes sou homem afeminado. Às vezes sou mulher masculinizada. Às vezes sou um híbrido de todos. Às vezes sou agênere, sou neutro. Não que eu vá ser o gênero sociocultural de outra civilização, mas sou todos os gêneros humanos pelos quais eu sinta empatia e assim os sou. Afinal o pressuposto principal em ser ou não ser é que eu estou vivenciando uma experiência humana, então, de fato, eu sou agora um humano em toda a sua infinitude, completude, flexibilidade, tolerância, em toda sua sexualidade. Sou um ser humano que possui todos os gêneros – sou todos. Ao passo que sou nenhum desses – sou agênere. Ao passo que posso ser e me expressar como esses ou outros gêneros: binário ou não (homem cis, homem trans, mulher trans, andrógino, homem não binário, mulher não binária, travesti, bigênere, ambigênere, fluído entre tantos outros que sou e àqueles que ainda estão porvir.). Como sou um terceiro sexo por si só, um híbrido de todos os gêneros.

O mais importante: nada se antagoniza nada se deslegitima. Toda forma de ser é importante, toda expressão também. Tudo é legítimo.

Isso tudo vai muito além das roupas e vestimentas ou modo comportamental ou sexualidade, e daí, entra no campo da metafísica ao aceitar que, orientando por minha verdade, o espírito (entenda espírito como corpo mental e energético, para além dos conceitos estreitamente religiosos e/ou dogmáticos) que sou perpassa a psique, o ego, o corpo físico e se utiliza da expressão e da infinitude de gêneros que sou quando os sou simultaneamente – híbrido ou quando os sou um a um, por dias, horas ou momentos ou até quando não os sou – agênere. Compreender/vivenciar que a consciência em si transcende ao universo de gênero, mas, contudo exista como existência humana é um belo passo. Compreender-se como parte inseparável de todos os sistemas de vida também é entender um tanto como é ser pangênere. Me sinto expressão viva de tudo na vida.

Ser pangênere me faz um refletor de cores, afinal sou e me expresso dentro da imensa e infinita mandala que sou (que somos).

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Matheus Gomes de Oliveira