Lúcifer e o herói:

De acordo com o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, existe uma área chamada inconsciente coletivo, onde estão guardadas as reminiscências arcaicas de experiências dos nossos ancestrais. De acordo com Jung, tais experiências ficam guardadas na forma de imagens primordiais chamadas arquétipos, possuindo semelhança com diversos mitos e personagens que permeiam a literatura e mitologias humanas. Um desses arquétipos seria o do herói, um ser que nasce, num lugar simples humilde, como uma simples criatura, e depois torna-se forte, chegando no final a ser morto como vítima de seu próprio orgulho. A hybris do herói, que ao tornar-se grande acaba por se ver cego perante suas fraquezas, mostra-se como um grande obstáculo, o qual nem os mais fortes conseguem ultrapassar. O arquétipo fala de adolescência, cegueira pela própria luz, e um fim trágico, nisso, o mito se assemelha a lenda de narciso. O herói trata de nosso orgulho, assim como a jornada de toda uma vida: nascer, crescer, morrer. Todos nós passamos por isso em algum período de nossas vidas. No tempo de nossa juventude, acreditamos que as leis imutáveis do universo ao redor de nós irão curvar-se perante os desígnios de um ego ainda em formação. E engana-se o jovem que pensa que não chegará o dia no qual seu ego não irá perecer. E não podemos esquecer dos questionamentos constantes sobre os limites da curiosidade humana, e como nossas ciências podem trazer graves consequências ao planeta e mesmo o fim de nossa espécie. Tudo se resume ao acha que um ego, ser temporal em sua natureza, possui o poder de afetar, ou até mesmo transformar para sempre, a grandeza do grande e atemporal universo. Podemos ser deuses? Certamente não! Acredito que qualquer ser humano versado na bíblia conhece o versículo Isaías 14:12 onde é dito o seguinte: Como caíste do céu, ó estrela radiante, filho da alva! como estás cortado até a terra, tu que abatias as nações! Veja que a o mesmo modus operandi aqui, da mesma forma que nas lendas da antiguidade, Lúcifer, o herói da situação, apresenta-se como o mais magnífico de todos os anjos, uma obra prima da criação divina, mas acaba por rebelar-se contra deus, e da sua revolta nasce o castigo. Lúcifer é lançado as chamas do inferno, onde espera sua batalha contra Deus, nos fins dos tempos. O anjo mau certamente não sabe que mesmo toda sua grandeza não é maior do que a grandeza do universo. Como Ícaro voa em direção ao sol, Lúcifer luta contra a onipotência. Talvez não haja comparação melhor com os grandes da humanidade. Quantos ai em sua grande-pequena arrogância não se enveredam por caminhos de alta superioridade, e acabam caindo na mais abjeta infelicidade. Creio que Heróis sempre perecem, e tolo é aquele que acha que seu regime será eterno. Ideias morrem, pessoas morrem, o universo não. Eis que Lúcifer representa o pecado do orgulho, o deus sábio dos narcisistas.

Eric Deller
Enviado por Eric Deller em 10/08/2016
Reeditado em 10/08/2016
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