Breves palavras sobre a sensação de posse na relação amorosa

Como uma flor que murcha, a sensação de posse é decadente todas as vezes em que seu usufruto é indiscriminado.

É extremamente apático e inexpressivo um ócio que se estende e perpassa a linha fronteiriça do desejo de perfeição. De modo em que tornou-se comum a procura de um par perfeito para se ter como posse, ao mesmo tempo em que não se quer ser possuído, pois ser possuído, moralmente falando, parece denotar o aponto de lâmina contra a própria pele.

O sentimento de posse no tangente à relação romantico-afetiva apresenta esta dualidade: ser possuidor parece sempre justificável, ser possuído é condenável. A complicação aparece quando o conflito de forças precisa estabelecer o mandante e o mandado, jamais a abolição do sistema, jamais o questionamento da prática, geralmente a manutenção da instintividade. Não é cabível para o desejo ser honesto com o compromisso que não fundamentou a união.

As posses que se configuram fora desta realidade tendencialmente conflituosa que tem sido abençoada pelas instituições há séculos, são acusadas de "caso", numa tentativa de preconceber a liberdade do livre amor como ilegítimo e condenável, como toda a relação de liberdade no âmbito afetivo, fazendo com que os ascet(ivizados)¹ se condicionem submissos, inexpressivos.

Estar fora desta condição imposta é não se enquadrar nas definições de castidade midiatizada por estas instituições, é ser um agente autônomo, é dar-se posse ao menos de si mesmo. Feito isso, podemos refletir então a alteridade.

Por ora, disponha a sua perfeição em prol do exemplo a outras mais disposições.

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¹Variado suflixo de "ASCETA": Aquele que se priva de prazeres por conta de uma doutrinação ou regramento.