Não me satisfaço:

Conquistar a realização de uma ânsia incontrolável por beleza, eis o afã do escritor. Incompreensivelmente, todas as obras que desenho com afinco nos recônditos da minha mente se perdem em forma quando se lançam nas mãos do papel. Parece incurável, como se houvesse dois mundos quase nunca comunicáveis: um aquele da criação na ponta do meu lápis, outro o da obra incompleta no fundo da minha mente. Não se bicam, não se falam, não se amam. Eu até que tento fazer com que eles possam se comunicar, mas quando finalmente a ideia vem, quando sinto-a germinar em minh’alma, e começo a escrever rapidamente, ai tudo se esvai. Aquilo que seria a forma mais bela já não é mais, aquilo que seria o magnus opus se torna algo que não quero. Na obra das ideias eu me sinto no máximo, minha altivez se testifica no nível mais alto; mas no papel aquilo que era, outra coisa se torna.Como assim? Como pode ser daquele jeito? Por que a profundeza de tudo que sinto não pode ser posta em texto? Por que minhas palavras não são suficientes para expressar aquilo que grita dentro de mim, por que? Muitos me dizem que pensamento é linguagem, mas a sinto como um muro intransponível para o que há de mais belo em mim. E não me satisfaço, nunca me satisfaço…

Eric Deller
Enviado por Eric Deller em 15/08/2016
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