A Fatídica Sala dos Professores

Na vida de estudante muitas coisas nos impressionam no ambiente escolar, as amizades e desafetos, os namoricos e paqueras, os jogos de futebol no recreio, a hora da merenda, as idas e vindas para o banheiro ou para a secretaria e coordenação pedagógica para resolver alguma encrenca. São muitas emoções vividas entre os corredores da escola, momentos marcantes que acabam lapidando a personalidade e identidade de alunos e professores. São cultivados vínculos de afeto e carinho pelas escolas por onde passamos, nos instruímos, conhecíamos o que não sabíamos e fazemos amigos para a vida toda. Vitórias e fracassos fazem parte da caminhada de todos os aprendizes e no final das contas o que vale é a superação dos desafios. Na escola formal, assim como nas fábricas, existem espaços privilegiados cheios de significados simbólicos. A hierarquia imposta impõe ideologicamente o que pode ou não ser usufruído e onde se pode ir, restringindo o território de circulação e livre acesso. O pátio da escola é ocupado pelos estudantes em sua grande maioria, conversando ou praticando esportes. O refeitório é hora de descontração e de saciar a fome coletivamente. As salas de audiovisual ou multimídia, laboratório de informática e ciências - quando estão em condições adequadas – são “o diferencial” na sequência didática dos professores e oferecem um atrativo interessante para os educandos. A biblioteca com um acervo diversificado é o coração da escola, local para a reflexão e leitura. A sala de aula é o encontro entre os professores e alunos, momento de interação e comunhão em que são desnudadas as virtudes de cada um, suas limitações e potencialidades, a paciência, o respeito e a compreensão. Na secretaria funciona o aparato burocrático e administrativo, carimbos e números essencial para o funcionamento da instituição escolar. A direção, supervisão, orientação e coordenação pedagógica constituem o espaço de poder da escola, local onde as decisões importantes são encaminhadas para a comunidade escolar: os funcionários, os professores, os estudantes e suas famílias. A escola é um local de relações complexas, humanas e significativas. Por isso, é uma tarefa tão fascinante e desafiadora trabalhar no setor da educação. Um universo de múltiplas aprendizagens descortina novos horizontes para aqueles que se aventuram na dialética entre o ensinar/saber. No cotidiano escolar existe uma área sacralizada onde se reúnem os mestres que constroem a ponte entre o conhecimento e os alunos, elaboram projetos, corrigem provas e trabalhos e tomam chá ou café com bolacha. Um território restrito com banheiro exclusivo e água, salpicado por escaninhos, armários, mesas e diários de classe. Este local é respeitado na escola e o chamam de A Fatídica Sala dos Professores! Como a Liga da Justiça, se concentram os super-heróis do “chão da escola”. Aqueles que mediam conflitos, participam de reuniões, lecionam e dominam os conteúdos de sua área e ainda por cima fazem a chamada. O perfil dos educadores transita entre os militantes e omissos (alienados), os intelectuais e os “tarefeiros”. Existem professores que não gostam de ler e se contentam com a sua desvalorização profissional. Entretanto, outros não se cansam de lutar por uma educação de qualidade, estudam sem parar, escrevem livros e produzem pesquisas. O campo da educação é contraditório e de extremos em que a própria concepção sobre ‘Educação’, seus objetivos e expectativas alimentam os trabalhadores deste setor. Ainda temos as discrepâncias entre os professores do ensino superior, técnico e da educação básica como se os docentes da universidade fossem mais importantes que os que trabalham no ensino infantil, fundamental ou médio. Abismos construídos historicamente na categoria dos trabalhadores do aprimoramento humano e profissional como um dilema sem respostas perdido no vácuo. Na sala dos professores as contradições são reveladas, entre o prazer e o desprazer da profissão, a esperança e a desesperança, o confessionário e a meditação. Lágrimas e sorrisos são compartilhados entre aqueles que acreditam na educação como um direito humano e universal. No secreto recôndito dos mestres, em meio a diversidade ideológica, religiosa e política, revela-se o lado humano daqueles que enxergam a luz no fim do túnel.

Publicado no Jornal Litoral Norte RS e Jornal A Folha/ Torres-RS.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 01/09/2016
Código do texto: T5747290
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