etimologia da língua portuguesa

Etimologia da Língua Portuguesa

Por Deonísio da Silva

Um dos grandes problemas atuais do país,penitenciária veio do latim paenitentia,arrependimento,remorso.Já sabiá,pássaro brasileiro muito parecido pelo bonito canto,teve origem no tupi sauiá,cantador,mavioso.

Bolso:de bolsa,do latim bursa,radicado no grego byrsa.Com o sentido de saquinho de pano costurado nas vestes ou avulso,já aparece na primeira metade do século XV.Os bolsos servem para carregarmos carteira,documentos,objetos.A escritora Virgínia Wolf (1882-1941),serviu-se dos bolsos de sua capa,porém para suicidar-se por afogamento.Em 28 de março de 1941,escreveu um bilhete amoroso ao marido--"Não creio que duas pessoas tenham podido ser mais felizes do que o fomos nós"-- e vestiu uma capa de bolsos grandes. Sua quarta e última tentativa de suicídio.Numa das vezes,atirara-se no mesmo rio,mas sem as pedras nos bolsos e voltara para casa encharcada. Uma das maiores escritoras inglesas,ela estreou,aos 23 anos,com o romance The Voyage Out(A Viagem para Fora).Depressiva,era tratada com o barbitúrico Veronal. Os médicos diagnosticavam "melancolia hipocondríaca" e "sintomas gastrintestinais." Ela costumava desconcertar seus interlocutores com uma pergunta insólita:"Quais são os argumentos contra o suicidio?" Quase todos atônitos,lhe davam nuitos,mas não foram suficientes.Em seus romances,tramas e intrigas têm pouca ou nenhuma importância. O que se vê é sua explêndida capacidade de captar as sensações e expressá-las literariamente.

Homeostase:dos compostos gregos hómoios,semelhante,e stásis,ação de pôr em pé.A medicina ocidental define doença como quebra de homeostase,o sistema que regula os diversos orgãos,trazendo equilíbrio.Sem saúde,caimos no leito.Nossos órgãos recebem ainda a influência psíquico e social.Por isso, segundo a Organização Mundial da Saúde,a saúde é um perfeito estado de bem- estar físico,psíquico e social. Já os orientais definem a saúde como o equilíbrio das forças que dominam yin e yang,cuja harmonia evita a doença.O médico e escritor Moacyr Scliar registrou num de seus livros que o suicídio liderava na década de 1970 as causas de óbitos no Rio Grande do Sul. E os suicidas partiam desta para a pior por enforcamento. Para o Brasil meridional,que viveu o apogeu quando negociava charque e couro, não deixava de ser sintoma rico em revelações o fato de a corda servir também para dar um triste fim à vida do gaúcho,que em vida usou para domar cavalos e lidar com gado.

Inverso: do latim inversu,em sentido contrário,oposto ao verso.No caso do políndromo,a palavra e a frase têm mesmo significado,lida na ordem habitual ou ao contrário.O escritor Osman Lins(1924-1978) dá curioso exemplo no romance Avalovara.Trecho da narrativa envolve três personagens Publius Ubonius, e seu escravo Loreius e a cortesã Tyche,Publius desafia Loreius:dar-lhe-á a liberdade se o escravo inventar um verso palíndrome,que tenha o mesmo significado se lido da direita para esquerda e da esquerda para a direita .O escravo,após matutar,inventa o seguinte verso latino,que,se lido pelo inverso,mantém o significado:”Sator arepo tenet opera rotas”.Sua tradução é:o lavrador mantém cuidadosamente a charrua nos sulcos.Mas pode significar também:o lavrador mantém cuidadosamente o mundo em sua órbita.Instado pelo senhor a revelar o que descobriu,o escravo diz que o maior prazer após conseguir a liberdade é poder prorrogá-la.Mas encontra a cortesã,a quem conta seu segredo.Ela espalha a notícia e o verso começa a aparecer grafitado em nas paredes.O escravo,desesperado,suicida-se.

Penitenciária:do latim paenitentia,arrependimento,remorço.O verbo em latim é paenitere e tem o significado de fazer falta,não ter o suficiente,não estar satisfeito. Penitência estar na língua portuguesa desde o século XIII. Mas o primeiro registro de penitenciária só ocorre na segunda metade do século XIX.Pode ter havido influência de penitenciária,existente na língua desde o século XVI,designando tribunal da Santa Sé que trata das questões de foro íntimo e das indulgências.Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902_1976),quando estudava em Paris,encontrou um amigo mineiro a quem perguntou de José Maria Alkmin(1901-1974),dizendo que nunca mais sobera nada dele.”Está na Penitenciária de Neves”,respondeu o outro.”Eu sabia que ele ia acabar lá”,disse Juscelino.Alkmin estava de fato na penitenciária,da qual era diretor.ao diálogo está registrado pelo jornalista Sebastião Nery no livro Folclore Político:1950 História.

Sabiá:do tupi sauiá,cantador,mavioso.É um passarinho muito apreciado pelo seu bonito canto.O jornalista Sebastião Nery,autor de vários livros,na obra citada no tópico anterior,conta a história de um político que ganhou de presente um sabiá que não cantava. Ensinaram-lhe que deveria forrar a gaiola com revistas jornais novos,de preferência coloridos.Ele assim o fez,mas o sabiá continuava mudo.Certo dia,ao chegar em casa,surpreendeu-se com o sabiá chilreando alegremente.A empregada forrara a gaiola com o Diário Oficial.

Deonísio da Silva doutor em Letras pela Universidade São Paulo e escritor,é autor de Os Guerreiros do Campo e A Vida Íntima das Palavras(Siciliano),entre outros 27 livros.E-mail:deonisio@terra.co.br

Revista Caras

2002

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 18/09/2016
Código do texto: T5765079
Classificação de conteúdo: seguro