Etimologia da Língua Portuguesa

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Sillva.

Do tupi gwa’riwa,a partir de guara,indivíduo,e aiba,feio mau,vem guariba,a espécie de macaco que deu nome à cidade paulista de Guariba.Foi lá que um mecânico começou a reformar carros velhos e deu origem a ‘dar uma guaribada’.

Gengibre:talvez do árabe zindjibìle,embora o latim apresente uma forma zingiber e o gregotenha ziggiberis .Pode ter havido influência de uma língua morta,o páli,que tinha singivera para designar a erva.Páli bhasa era alíngua religiosa dos budistas e em sânscrito designa cânone dos livros sagrados.Na denominação do antigo idioma, houve elipse de bhasa.O gengibre já era conhecido dos europeus na Idade Média,e no alvorecer do século XVI,quando o Brasil foi descoberto,havia documentos referindo propriedade com um quintal de gengibre,em Portugal,ao preço d 11cruzados,numa relação de mercadorias em poder dos portugueses aparece gingivre ao lado de cravo,açafrão e pimenta.Açafrão está escrito sem o o final e imenta tem o til sobre o e,evitando o n antes do t. A raiz do gengibre,planta medicinal,é utilizada na culinária.

Guaribada: de guariba,do tupi gwa’riwa,tipo de macaco que recebeu tal designação a partir de guara,indivíduo,e aiba,feio,mau.A presença de três pré-molares e três molares verdadeiros de cada lado,tanto nas mandíbulas com nas maxilas,dá ao rosto desse símio um contorno peculiar que inspirou medo nos índios,influenciando a denominação.Os primeiros registros do vocábulo dos finais do século XVI.No interior de São Paulo,havia muitos desses macacos na Sesmaria dos Pintos e das Cachoeiras,situada entre Araraquara e Jaboticabal.Nos finais do século XIX com a chegada do trem à aquela região,alguns fazendeiros locais fundaram um povoado ao redor da estação ferroviária,dando-lhe o nome de Guariba,denominação consolidada em documento de 21 de setembro de 1895 quando João José de Abreu Sampaio(século XIX) inaugurou ali a capela de São Mateus.Era o auge do café e Guariba teve notável desenvolvimento interrompido na crise de 1929.A retomada deu-se a partir de 1940 com a cana- de –açúcar.Os automóveis dos antigos fazendeiros tinham sido transformados em calhambeques pelo tempo,ajudado pelo estado precário das estradas e pelas deficiências de manutenção.Surgiu,então,um restaurador desses carros desgastados,que passou a atender a proprietários de Guariba e adjacências que a ele recorriam para reformar os veículos.Nasceu assim a expressão “dar uma guaribada,no sentido de restaurá-los.Pouco a pouco a expressão veio a ser aplicada também a roupas até chegar a cirurgia plástica,de modo que dá uma guaribada no rosto não remete mais às origens do macaco guariba,mas à beleza dos carros reformados.

Norma:do latim norma,esquadro,modelo,exemplo,norma. Não se pode alegar ignorância das normas que regem a vida social,e a língua culta fixou as suas.Ainda que remotamente de sutil,a raiz do vocábulo está presente nas palavras antônimas conhecer,que chegou à língua portuguesa no século XIII,do latim cognoscere; e ignorar,do latim ingnorare,em nossa língua desde o século XVI.Norma também nome de pessoa chegou em 1670,mais de um século depois de Inês de Castro,a personagem feminina mais importante da obra solar de referência no português culto do século XVI,Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões (1524-1580).As normas da ortografia da língua portuguesa têm tantas exceções para várias regras que lembram uma classificação de animais que o escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) disse ter encontrado numa enciclopédia chinesa. O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) transcreve o divertido trecho em seu livro As Palavras e as Coisas,como segue: “a) pertencentes ao imperador;b) embalsamados; c) domesticados; d)leitões; e) sereias;f) fabulosos; g)cães em liberdade; h)incluídos na presente classificação; i) que se agitam como loucos;j) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo; m) que acabam de quebrar a bilha; n) que de longe parecem moscas”. O professor e doutor em Linguística Claudio Moreno,defende a gramática vigente, afirmando em Guia Prático do Português Correto:”Ao contrário do que muita gente pensa,nossa ortografia até que não é das piores;mais simples do que a nossa,línguas irmãs e vizinhas,só mesmo a do espanhol A do francês é aquele mistério cheio de letras miúdas.A ortografia do inglês é um horror até para os franceses.O nosso modo de escrever é mais simples por ser jovem,apropriado para um país como o nosso,que vive etrena juventude”.

Ortografia: do grego ortographia,escrita correta,pela junção de orthos,reto,graph,raiz de grafo,escrever,com o acréscimo do sufixo ia.Em 1990 surgiu nova proposta de Acordo Ortográfico,para alterar o sistema atual,em vigor desde de 1943,com alterações decorrentes da Lei 5 765,de 1971. As mudanças, já aprovadas por dois dos sete países que integram a comunidade lusófona,trazem a abolição do trema,já adotada pelo jornal Folha de S.Paulo, e a supressão do hífen em vocábulos compostos. São Tomé e Príncipe,nome de duas ilhas,é o menor dos países lusófonos. Foi descoberto bem antes do Brasil,em 1471,e tem apenas 148.000 habitantes,número inferior ao de incontáveis municípios brasileiros.

O escritor Deonísio da Silva é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo,e autor de A Vida Intíma das Frases (Ed. A Girafa) e Os Guerreiros do Campo (Mandarim),entre outros 28 livros. E-mail:deonisio@terra.com.br

Revista Caras 2003.

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 19/09/2016
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