Amigo é pra essas coisas

Amigo é para essas coisas...

Autor: Marcos Arêas de Faria 15-01-2016

Cena 1:

Cenário: Sala de um apartamento de classe média, com sofá, mesinha de centro, tapete, barzinho simples.

É manhã de sábado.

Rogério, viúvo, cinquenta e poucos anos, ainda de pijama, vem do quarto, pega o jornal que se encontra enfiado debaixo da porta da sala, deita no sofá e começa sua leitura.

As manchetes que lê são só absurdas, tipo “governo vai reduzir impostos”, “combustíveis terão redução dos preços”, etc.

Lê algumas manchetes de esporte e critica seu time, América; ele é Americano.

Lê algumas manchetes políticas e critica o governo, de leve.

Levanta-se, vai até à quarta parede e interage com a plateia, explicando porque está sozinho em casa.

Campainha toca.

ROGÉRIO: Caramba, sô, quem será a essa hora na manhã?

Campainha insiste. Rogério vai até à porta e abre.

Entra seu vizinho visivelmente apavorado, e já começa a falar igual uma metralhadora:

JORGE: Rogério, pelo amor de Deus! Só você é que vai poder me salvar, você tem que me ajudar! Só você pode fazer isso! Entrei numa enrascada e você é quem pode me ajudar!

ROGÉRIO: que foi, cara? Que aconteceu tão cedo assim? ... Algum cobrador? Polícia? Só pode ser encrenca!

JORGE: é.... é a Lúcia!

ROGÉRIO: Que houve com dona Lúcia?

JORGE: Ela foi viajar, você sabe; era pra ela voltar só na semana que vem, mas ela acabou de me telefonar dizendo que está de volta, já está no aeroporto de Confins e daqui a pouco tá aqui.

ROGÉRIO: Tá, mas e daí? o quê que eu tenho com isso?

JORGE: Nada, eu sei que vc não tem nada com isso, mas vc vai ter que me ajudar.

É o seguinte, meu vizinho...meu amigo...ontem eu saí com aquela minha colega de serviço, a Walquíria, fomos pra balada, bebemos umas e outras e acabamos vindo aqui pra casa. Ela tá lá dormindo igual pedra. Eu tentei acordá-la, mas não teve jeito. Se a Lúcia chega e pega ela lá ....dormindo.... na nossa cama...

ROGÉRIO: nossa cama? Que nossa cama, cara? Tá me estranhando?

JORGE: Na cama minha e da Lúcia... ah, deixa de ser besta!

ROGÉRIO: Ué, e o que vc quer que eu faça? a cagada já tá feita.

JORGE: Rogério, se vc é meu amigo mesmo, vamos lá buscar a moça, a gente traz ela pra cá e ela fica aqui com vc até acordar e depois ela vai embora. O que não pode acontecer é a Lúcia chegar lá em casa e dar de cara com ela.

Rogério coça a cabeça, pensativo, e resmunga pro Jorge:

ROGÉRIO: Ocê tá ferrado, meu chapa. Mas vamos tentar, vamos lá buscar a moça.

Os dois saem.

Fim da Cena 1.

Cena 2:

Entram Rogério e Jorge carregando Walquíria e a colocam deitada no sofá. Jorge coloca a bolsa e o casaco dela num canto da sala.

JORGE: Eu vou ajeitar as coisas lá em casa, que a fera deve estar chegando.

Jorge abraça Rogério, agradece, faz reverência, etc, etc. e sai.

Rogério dá uma olhada detalhada em Walquíria, observando suas coxas.

ROGÉRIO para a platéia: Caramba, esse Jorge até que tem bom gosto, viu; essa mulher é uma verdadeira potranca.

Rogério senta num banco próximo do barzinho e pega o jornal pra continuar sua leitura.

Começa a ler, mas não consegue se concentrar, toda hora olha por cima do jornal espiando as pernas de Walquíria.

ROGÉRIO para a plateia: Não é por nada, não, mas acho que o Jorge tem até razão, viu? Dona Lúcia que me perdoe, mas esse mulherão dá de 1000 a zero nela HaHaHA!

Eu até gosto da dona Lúcia, mas aquela mania que ela tem de tirar meleca do nariz é foda. E o pior foi aquele domingo que me chamaram pra almoçar com eles... aí vc fica imaginando a mulher fazendo o arroz, o macarrão, o franguinho e de vez em quando dando aquela cutucada no nariz...

Walquíria se mexe, vai acordando devagar, coloca as mãos na cabeça, gesto típico de quem tá de ressaca; sentada no sofá, olha de um lado pro outro como se não estivesse entendendo nada...

WALQUÍRIA: Onde eu tô? Como é que vim parar aqui? Quem é você?

ROGÉRIO: Calma, moça, calma!

WALQUÍRIA: Cadê o Jorge?

ROGÉRIO: Calma, moça, vou te explicar! Eu sou Rogério, vizinho e amigo do Jorge.

WALQUÍRIA: Não tô entendendo, eu vim pra casa do Jorge. Aqui não é a casa do Jorge?

ROGÉRIO: Não, não é. Aqui é a minha casa. A moça pegou no sono por causa das biritas que tomou e o Jorge precisou sair de emergência e aí nós trouxemos a moça pra cá.

WALQUÍRIA: Como “trouxemos pra cá” .... tô endendendo não...

ROGÉRIO: É, você não acordava nem com reza brava. E como o Jorge tinha que sair e não queria te deixar sozinha, me chamou e nós te trouxemos pra cá.

WALQUÍRIA: Ai, tô morrendo de sede.... me dá um copo de água?

ROGÉRIO: Claro, agora.

Rogério vai à cozinha, traz uma garrafa de água e um copo e entrega pra Walquíria, que começa a beber sem parar.

WALQUÍRIA: Sabe, por mim eu beberia só água ou refrigerante, mas o Jorge insistiu pra eu tomar uísque...

ROGÉRIO: Eu sei, eu sei.

WALQUÍRIA: Você mora sozinho?

ROGÉRIO: É, moro sozinho.

WALQUÍRIA: Jorge também...

ROGÉRIO: Como é que é? Jorge mora sozinho?

WALQUÍRIA: É, ele sempre reclamou comigo lá no serviço, que mora sozinho, não tem ninguém pra trocar ideias, falou até de você, que é um dos únicos amigos que ele tem pra falar da vida...

ROGÉRIO: Ah, fpd. É a velha tática do sujeito carente... e ainda tem mulher que cai (à parte).

WALQUÍRIA: O que você disse?

Campainha toca. Rogério fica tenso. Atende.

Entra dona Lúcia.

DONA LÚCIA: Bom dia, Rogério. Como vai? Eu tô chegando, mas antes de entrar lá em casa resolvi vir aqui te agradecer por ter ficado de olho no meu marido pra mim.

Desculpe, eu não sabia que estava acompanhado (e que morenaça você arrumou, heim? benzadeus).

Parabéns, moça, o Rogério é um ótimo partido, viu? Há quanto tempo vocês estão namorando?

WALQUÍRIA: Como???? O meu namorado é o ......

ROGÉRIO corta Walquíria: Pois é, dona Lúcia, esta é Walquíria...

DONA LÚCIA: Prazer, querida. Eu sempre comentei lá em casa que o Rogério precisava de uma companheira. Demorou pra arrumar uma. No Natal passado andou uma loura por aqui, mas era muito metida a gostosa, muito antipática, não foi Rogério?

ROGÉRIO: É, mais ou menos...

WALQUÍRIA: Mas eu não sou namora...

ROGÉRIO corta Walquíria: então, dona Lúcia, seu maridão já deve estar doido pra senhora chegar... ontem mesmo ele esteve aqui em casa e falou demais da saudade que já tava sentindo da senhora... (e vai conduzindo dona Lúcia para a porta de saída).

DONA LÚCIA: Tem razão, deixa eu ir (e sai).

Rogério suspira aliviado.

Fim da Cena 2.

Cena 3:

WALQUÍRIA: Eu preciso ir embora, qual é o apartamento do Jorge?

ROGÉRIO: Embora? Ap. do Jorge? Mas, por que esta pressa? Hoje é sábado, pra que se preocupar com isso? Sabe, eu já tô até me acostumando com você aqui.

WALQUÍRIA: Interessante, eu também tô curtindo essa ideia. Tô a fim dum cafezinho.

ROGÉRIO: Eu só tomo café alí na padaria da esquina, apesar de ter tudo lá na cozinha.

WALQUÍRIA: Ah, então tem as coisas lá na cozinha pra eu preparar um cafezinho?

ROGÉRIO: Tem, tem sim, tá tudo lá com as etiquetinhas que a minha falecida fez há muito tempo.

WALQUÍRIA: Deixa comigo, vou lá preparar (vai pra cozinha).

ROGÉRIO: Aiaiai, isso tá ficando sério; daqui a pouco resolve fazer comida, tomar banho, escovar dentes... daqui a pouco tá deixando a calcinha pendurada no box...

Campainha toca.

Rogério olha pelo olho mágico e leva um susto.

ROGÉRIO: Puta merda, é o Jorge! E agora? (abre a porta, Jorge entra)

JORGE: Cadê a Wal? A Lúcia chegou lá em casa falando que tu tá de namorada... não entendi nada, cara.

ROGÉRIO: Calma, a Wal tá lá dentro fazendo um cafezinho.

JORGE: Fazendo cafezinho? Caraca, meu, nós temos que despachar ela daqui rápido e vc me diz que ela tá fazendo cafezinho...

ROGÉRIO: É pra curar a ressaca. Olha, a dona Lúcia esteve aqui e até foi com a cara na moça, viu?

JORGE: Cê tá brincando, não vai me dizer que que a namorada que a Lúcia tá pensando que você arrumou é a Wal... Ocê não vai fazer uma sacanagem dessa comigo, né?

ROGÉRIO: E é, não teve jeito, eu tentei explicar, mas vc sabe como é, elas falam mais que papagaio e a conversa foi embolando e ficou do jeito que ficou (dá uma gargalhada). Ou então a dona Lúcia já estaria sabendo quem é o namorado da Walquíria.

Mas, olha, ela ainda não sabe que é rolo seu.

JORGE: Pelamordedeus, e nem pode saber; Rogério, se ela desconfiar disso ela já vai me meter o pé na bunda e aí ó, acabou a minha boquinha; você sabe que a herança do pai dela é uma fábula de dinheiro, eu não posso perder isso. Se Lúcia souber disso, tô fudido.

ROGÉRIO: Esquenta não, cara, relaxa, por enquanto ela não sabe de nada.

JORGE: Eu vou ter que ir lá no escritório, que ontem deixei meu laptop lá. Mais tarde eu passo aqui. Dá um jeito de se livrar dessa mulher (sai).

Rogério pega o jornal e se acomoda no sofá e começa a ler.

Primeira manchete:

Mulher ciumenta mata marido a golpes de faca.

Levanta-se e faz um comentário.

Volta pro sofá.

Segunda manchete:

Mulher descobre que o amante é casado e corta seu bilau enquanto dorme.

Levanta-se num pulo e faz outro comentário.

Entra Walquíria com a bandeja e duas xícaras de café.

WALQUÍRIA: Pronto, fiz o café igual minha mãe fazia, vê se tá bom.

Rogério dá uma bebericada.

ROGÉRIO fazendo cara de safado: Huummm !!!! bão demais!

Fim da Cena 3.

Cena 4:

Campainha toca.

Rogério olha pelo olho mágico e ...

ROGÉRIO: Puta merda, é a dona Lúcia! (com o susto, derrama café pra todo lado; abre a porta, dona Lúcia entra, dedo num lado do nariz, depois no outro, coloca a bolsa num canto do sofá).

DONA LÚCIA: Como estão os pombinhos?

WALQUÍRIA: Minha senhora, eu acho que tá havendo algum...

ROGÉRIO: Tá tudo ótimo, dona Lúcia (Rogério vai conduzindo dona Lúcia para a saída, pega a bolsa, coloca no ombro dela)

DONA LÚCIA: Eu vim aqui pra fazer um convite especial para vocês.

ROGÉRIO: Como é? Convite especial?

DONA LÚCIA: Isso, eu vim convidar vocês pra jantar lá em casa hoje.

ROGÉRIO: Jantar? Hoje? Na sua casa?

DONA LÚCIA: Isso mesmo; vou preparar aquela macarronada com frango e faço questão da presença de vocês.

ROGÉRIO: Mas, dona Lúcia...

DONA LÚCIA: E tem uma coisa, meu marido não tá sabendo de nada, é segredinho, tá? Tenho certeza que ele vai adorar a ideia (sai).

ROGÉRIO, sem saber se ri ou se chora: Eu também tenho...

Fim da Cena 4.

Cena 5:

WALQUÍRIA: Será que ela faz comida e faxina no nariz ao mesmo tempo?

ROGÉRIO: Pior que é.

WALQUÍRIA: Deus me livre, quero ir não.

ROGÉRIO: Eu também não; vamos ter que arrumar uma desculpa qualquer.

WALQUÍRIA: Já sei. A gente sai por aí e só volta tarde da noite; aí você liga pro marido dela que é seu amigo e avisa que não podemos ir, que você acha?

ROGÉRIO: Huummm..... a ideia é boa. Mas, peraí, você não pode ficar aqui, você tem que ir pra sua casa.

Walquíria vai em direção a Rogério, se aproxima de frente pra ele, quase encostando, segura seu braço e murmura fazendo beiçinho:

WALQUÍRIA: E eu que já estava gostando de ficar aqui...

ROGÉRIO: Tá falando sério? Mas... mas... e o tal de Jorge?

WALQUÍRIA: Acho que ele nem tá aí pra mim, sabe. Senão já tinha vindo aqui me buscar.

ROGÉRIO: É, pode ser.

WALQUÍRIA: E eu já tô me amarrando em você...

ROGÉRIO: Mas eu sou velho pra você...

WALQUÍRIA: E desde quando amor tem idade? Olha, se você quiser, vou lá na minha casa, faço minha mala e mudo pra cá.

ROGÉRIO (à parte): Caraca, será que tô com essa bola toda?

Olha, moça, isso é uma coisa muito séria, mas se você quiser tentar, eu não tenho nada a perder, já faz tempo que tô levando a coisa na mão mesmo...

Walquíria se aproxima novamente, Rogério a abraça e se beijam.

Ela pega a bolsa que estava num canto da sala, ajeita os cabelos, toca o rosto de Rogério com as pontas dos dedos, diz “até já” e sai.

Rogério vai pro quarto.

Fim da Cena 5.

Cena 6:

Rogério aparece em cena, vindo do quarto, preocupado, olhando para o relógio.

ROGÉRIO: Já faz mais de 3 horas que ela foi... será que ela vai voltar mesmo?

Faz cara de desânimo, pega o jornal e se acomoda no sofá.

Lê as manchetes em voz alta e faz comentários..

Manchete 1: Crise mundial afeta desempenho sexual de casais famosos.

Manchete 2: Cuidado: a dengue mata.

Manchete 3: Homem foge pelado e fica preso pelo bilau na cerca de arame farpado.

Campainha toca.

ROGÉRIO: Deve ser ela.

Depois de verificar pelo olho mágico:

ROGÉRIO: Caramba, é o Jorge. (Abre a porta, Jorge entra apavorado)

JORGE: Rogério, eu devo estar sonhando, a Lúcia acabou de me falar que chamou você com a namorada para jantar lá em casa....ela tá crente que a Wal é sua namorada... me diz que isso é mentira, que eu tô sonhando.

ROGÉRIO: Tá sonhando, não, cara, é verdade.

JORGE: PQP, como é que eu vou sair dessa?

ROGÉRIO: Mas pode ficar sossegado, que não vamos, não.

JORGE: Sério? Isso que é amigo. Eu sempre digo que amigo é pra essas coisas.

ROGÉRIO: Mas não fala nada pra dona Lúcia, não; mais tarde eu ligo da rua avisando que não vai dar pra ir, por causa de um imprevisto e coisa e tal, bla, bla, bla. Entendeu?

JORGE: Entendi....entendi. (dá um tapinha nas costas de Rogério e sai).

ROGÉRIO: Isso ainda vai dar pano pra manga.

Porta abre, Walquíria entra e coloca a mala em cima do sofá.

WALQUÍRIA: Tranca a porta mais não?

ROGÉRIO: O Jor... o meu vizinho acabou de sair e esqueci de trancar. Caramba, você veio de mala e cuia mesmo, heim?

Rogério pega a mala, segura Walquíria pela cintura e vão pro quarto.

Fim da Cena 6.

Cena 7:

Rogério aparece em cena, calça jeans, camisa polo, barbeado, cabelo penteado.

Dá uma olhada no espelho e sai.

Fim da Cena 7

Cena 8:

Campainha toca. Aparece Walquíra de pijama, cabelos atrapalhados, cara de sono.

WALQUÍRIA: Quem será a essa hora? Verifica pelo olho mágico e quase cai de costas.

WALQUÍRIA: Jorge? O que ele tá fazendo aqui? (Abre a porta, Jorge entra)

WALQUÍRIA: Achei que tava morto.

JORGE: Tô quase, tô quase. Wal, pelamordedeus, você não pode ficar aqui.

WALQUÍRIA: Uai, por que não?

JORGE: Bem.... bem... sabe como é, o Rogério é um cara sozinho, daqui a pouco tão falando de você por aí.

WALQUÍRIA: Falando de mim? Mas eu não devo nada pra ninguém. Não tô entendendo esta tua preocupação agora. Você também não é um cara solteiro? Não me trouxe pra sua casa sexta feira de noite, depois da balada?

JORGE: Sim, mas...

WALQUÍRIA: Olha, Jorge, eu tava até afim de você, juro, tava mesmo. Mas agora tô noutra.

JORGE: Mas, Walquíria, eu sou apaixonado por você.

WALQUÍRIA: Conta outra e pra outra pessoa, porque pra mim já não vai colar mais.

Porta abre, entra dona Lúcia.

WALQUÍRIA: O Rogério deixou a porta destrancada de novo.

DONA LÚCIA para JORGE: Eu ouvi bem ou foi delírio?

WALQUÍRIA para JORGE : Ué, vocês se conhecem?

DONA LÚCIA para WALQUÍRIA: Como assim “vocês se conhecem?” Tem mais de 10 anos que ele é meu marido.

WALQUÍRIA: O quê? Mas ele me dizia lá no trabalho que era solteiro; nunca vi ele com essa aliança lá no trabalho.

DONA LÚCIA para JORGE: Ah, seu miserável, então você é solteiro, né? Eu vou te mostrar, moça, o que a gente faz com um sujeito solteiro. (Dona Lúcia parte pra cima de Jorge, dando tapas e pontapés; Jorge recua e vai levando as pancadas; tropeça no pé do sofá e cai, batendo com a cabeça no chão, ficando imóvel. Dona Lúcia para, com os olhos arregalados)

WALQUÍRIA: A Senhora matou seu marido! Meus Deus, e agora?

DONA LÚCIA: Minha nossa, será que morreu?

Walquíria segura o pulso de Jorge e percebe que não está morto.

WALQUÍRIA: Foi só um desmaio por causa da pancada no chão. Traga um pouco de água fria e um pano qualquer.

Dona Lúcia vai até a cozinha e volta com um jarro de água fria e um pano.

Walquíria molha o pano e passa na testa de Jorge, que devagar vai abrindo os olhos.

Após recobrados os sentidos, Jorge olha em volta como se estivesse num lugar que nunca estivera antes; olha pra Walquíria, olha pra dona Lúcia, como se não estivesse entendendo nada.

JORGE: Quem são vocês? Que eu estou fazendo aqui? Ai, minha cabeça, dói demais.

Walquíria e dona Lúcia se olham. Já perceberam que com a pancada Jorge perdeu a memória.

Fim da Cena 8.

Cena 9:

Porta se abre.

Rogério entra e fica com cara de espanto.

ROGÉRIO: Que houve? Por que estão com essas caras?

DONA LÚCIA: A culpa é dessa piranha (apontando para Walquíria)

WALQUÍRIA: Minha culpa, vírgula. Quem é que chegou aqui dando porradas pra todo lado até derrubar o podre coitado; agora tá aí, ó; parece que perdeu a memória.

ROGÉRIO: Como é? O Jorge perdeu a memória? Vocês estão brincando. Jorge, meu amigo, vai me dizer que não se lembra de mim?

JORGE para ROGÉRIO: Ocê mora aqui? Eu acordei e essas duas estavam numa falação doida e não pararam até agora. Quem são elas?

ROGÉRIO: Jorge, esta é dona Lúcia, sua esposa...

JORGE: Ocê tá me gozando, né, cara!

WALQUÍRIA: Eu não falei? O cara tá muito esquisito, viu.

Dona Lúcia vai pra cima de Walquíria

DONA LÚCIA: A culpa é sua, safada. Foi só você aparecer e estas coisas estão acontecendo.

WALQUÍRIA, correndo pela sala: Sai fora, mucréia, quem arrumou essa encrenca toda foi o seu marido.

DONA LÚCIA para de correr atrás de Walquíria e vai para Jorge: Jorge, olha bem pra mim, sou a sua Lulucinha...

Jorge olha sem emoção, cara de pastel

JORGE: Então... meu nome é Jorge?

DONA LÚCIA: É isso. Você não lembra que nas nossas horas, eu sempre te chamo de Jojozinho?

Jorge faz sinal negativo com a cabeça

Dona Lúcia começa a chorar (com escândalo)

Rogério abraça Walquíria e olham indignados

Fim da Cena 9.

Cena 10:

ROGÉRIO: Dona Lúcia, acho bom a gente deixar o Jorge repousando um pouco; quem sabe se ele der uma cochilada ele acorda lembrando de tudo... Vamos lá pra cozinha, Walquíria fez um cafezinho muito gostoso.

Dona Lúcia olha para os dois de cara fechada. Ajeita Jorge no sofá.

DONA LÚCIA: É isso, então. Tira um cochilo aí, a gente volta já. A culpa é dessa piranha! (3x)

Os três vão para a cozinha

Fim da Cena 10

Cena 11:

Jorge acorda e senta no sofá

Olha para os lados como se estivesse num lugar estranho

Entra dona Lúcia com uma xícara de café na mão:

DONA LÚCIA: Eu sabia que tava acordado, por isso trouxe um cafezinho pra você.

Jorge olha para dona Lúcia, se levanta e tenta sair correndo, tropeça no pé do sofá e cai batendo com a cabeça no chão novamente.

Levanta-se devagar e desta vez com a memória recuperada.

Olha para doca Lúcia

JORGE: Lúcia, que é que você tá fazendo aqui? Aqui não é a casa do Rogério?

DONA LÚCIA: Graças a Deus você sarou, Jojozinho

JORGE: Sarou? Sarou de quê?

DONA LÚCIA: Você tava sem memória...

Entram Rogério e Walquíria

Quando Jorge vê Walquíria, empalidece, olha pra dona Lúcia, pra Walquíria e quase desmonta

Puxa Rogério pelo braço até um canto da sala

JORGE para ROGÉRIO: O que é que ocê fez, cara? Era pra moça ficar aqui só até amanhecer e pronto. Agora ocê vai e toma minha namorada?

ROGÉRIO: Tá reclamando por que? Eu salvei a sua herança, tá lembrado? E como ocê mesmo diz: Amigo é pra essas coisas!

Fecha a cortina.

FIM

MAREAS
Enviado por MAREAS em 21/09/2016
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