UMA NOVA FORMA DE INTERAÇÃO ENTRE POEMETOS: trotrix, trixtro, quatrix e trixqua

Do pensar e exercitar as composições em trova e poetrix, acaba-se por constatar que trovas são conversíveis a poetrix e vice-versa, desde que o poetrix seja do tipo isométrico como se exige para trova e tenha o título o metro da redondilha maior e desde que as rimas na trova se verifiquem como ABAB (sendo A justo a rima final apresentada pelo título) e BAB as rimas finais apresentadas respectivamente pelos versos primeiro, segundo e terceiro do poetrix. Como o poetrix tem apenas 1 título e 3 versos, à trova que pode gera-lo não se pode admitir ser do tipo titulada.

No exemplo abaixo tem-se uma trova não literária, não titulada, sendo a mesma transformada em poetrix e, por conseguinte, nada impedindo que se pense na reversibilidade desse processo, com o poetrix voltando a ser uma trova pela simples transformação do seu título no primeiro verso daquela trova.

Para o poemeto surgente desse processo de conversão reversível se pode atribuir o nome de trotrix (se a conversão vai da trova para poetrix) e trixtro (se a transformação ocorrer no sentido reverso do poetrix para trova). Nas designações dessas formas, explicita-se ludicamente que ‘tro’ se refere à trova e o ‘trix’ ao poetrix. Ressalte-se, então, que a única mudança para gerar o trotrix consiste em transformar o primeiro verso da trova em título do poetrix que surge (título esse que sempre é obrigatório no poetrix); e, em se partindo de um poetrix, com o seu título perdendo o destaque gráfico dado ao mesmo, se esse existir na versão original do poemeto (que pode se fazer presente via letras em caixa alta e/ou emprego de negrito e/ou itálico), ter-se-á o surgimento de uma trova, a qual poderá ser da classe popular ou literária, classificação essa que provém das normas da UBT para este tipo de quadra certa e em redondilha maior. À guisa de exemplo, aqui recorro ao uso duma trova não titulada de minha autoria, conforme vem a seguir:

É Natal!... É Cristo um forte...

Bom Senhor, melhor pessoa!

Muitos homens não têm porte...

– Quantas mortes numa boa!

(Salvador/BA, 29/12/2013.)

Eleja-se o primeiro verso dessa trova para ser o título do poetrix surgente:

É NATAL!... É CRISTO UM FORTE...

Bom Senhor, melhor pessoa!

Muitos homens não têm porte...

– Quantas mortes numa boa!

(Salvador/BA, 21/09/2016.)

A redondilha maior, obrigatória para a trova em conformidade às regras da UBT, foi posta em destaque tão só porque esse processo em foco se dá a partir de uma trova para gerar um poetrix. Todavia, para um processo mais abrangente sobre essa mesma transformação – e para isso se deve estender o que acima está posto para a trova – basta que se parta de uma quadra, daí chegando-se a um poetrix. Deve-se entanto observar ainda que o dito processo é igualmente possível para a quadra em redondilha menor e, mais genericamente, para a quadra com versos polimétricos.

Para qualquer que seja a quadra, a mesma não deve ter título ou ser obrigatoriamente não titulada. Evidente está que a trova e a quadra nesse processo de suas transformações em poetrix não devem ser titulados, pois isso inviabilizaria a formação estrutural do poetrix, fato esse que decorre da própria composição minimalista em poetrix, na qual há a obrigatoriedade de se ter tão somente 1 título seguido de 1 terceto ou três versos.

Naturalmente que para o caso de emprego da quadra não trovadoresca, apesar de mais alargado em possibilidades de pés métricos para seus 4 versos, a quadra usada deve ter obrigatoriamente um máximo de 30 sílabas métricas nos seus 3 últimos versos, ficando livre dessa exigência apenas o primeiro verso porque o título a ser conformado quando da geração do poetrix é livre e pode conter qualquer número de sílabas métricas quando devidamente escandido.

Por similaridade às denominações trotrix e trixtro sugeridas antes para o processo de conversão de trova em poetrix e vice-versa, sugere-se a adoção dos termos quatrix e trixqua para quando do uso da quadra ao invés da trova na referida conversão de tipo de poemeto ora abordada.

Seja a quadra apenas rimada – com rimas AABB – a seguir:

Falta da boa inspiração poética

neste instante de ação patética.

– Tantas alturas são fantasias!...

– Quanto medo em desventuras sem alegrias!

(Salvador/BA, 07/03/1998.)

Crie-se agora o quatrix de título FALTA DE BOA INSPIRAÇÃO POÉTICA:

FALTA DE BOA INSPIRAÇÃO POÉTICA

neste instante de ação patética.

– Tantas alturas são fantasias!...

– Quanto medo em desventuras sem alegrias!

(Salvador/BA, 22/09/2016.)

Ressalte-se que a quadra não titulada é um poema livre e não segue regra alguma: a mesma é apenas composta por 4 versos e só. Há de se pensar logicamente de que o primeiro verso deve se integrar à semântica dos demais versos, de sorte a ter-se respeitada a recomendação do MIP – Movimento Internacional Poetrix sobre o título do poemeto de Goulart, uma vez que se permite que o mesmo se integre harmonicamente aos 3 versos do poetrix.

Ressalte-se que, ao contrário das formas duplix, triplix e multiplix, as definições ora apresentadas – trotrix e quatrix – não permitem o nascimento desses novos poemetos com mais de trinta sílabas métricas, conforme é a exigência acordada pelo MIP sobre a definição do poemeto de Goulart [1]. Tem-se, por conseguinte, tão somente a possibilidade de geração de poetrix enquanto trotrix e quatrix, enquanto que as demais formas anteriores podem conceber o surgimento de poemas que se afastam do minimalismo restritivo decorrente da própria definição do poetrix, fato esse que pode ser como consequência poemas que não são poetrix, aos quais o autor chama de teratrotrix ou pseudotrix [2], que podem ser ou não poemetos, mas que, se escandidos, demonstram a existência de mais de trinta sílabas poéticas.

Uma discussão sobre a regularidade do trotrix ou mesmo do quatrix, quer quanto à isometria e às rimas por ventura bem definidas não ferem absolutamente a definição universalizada do poetrix, as quais podem entanto ser arguidas à luz da Bula poetrix [1]. Isso não inibe o processo criativo que faz assim surgir trotrix e quatrix e, desse modo e semelhantemente ao que diz a supracitada referência, isso não condena ou reprova os poemas advindos de processos de duplixação, triplixão e multiplixação quanto do surgimento de teratotrix.

Evidente que as formas trotrix, trixtro, quatrix e trixqua aumentam o universo do poetrix pois que açambarcam trovas e quadras não tituladas até então não pensadas na forma poetríxtica, evidenciando-se que o novíssimo poemeto de Goulart ainda continua em desenvolvimento no que tange às possibilidades de expressão e de transposição de novas e inusitadas fronteiras até então jamais pensadas.

Referências

[1] Disponível em: <http://www.goulartgomes.com/visualizar.php?idt=1402080>. Acesso em: 28 dez. 2014.

[2] MARTINS, Oswaldo Francisco. Formas poetríxticas: erotrix, concretrix e outras. In: MARTINS, O. F. (Ed.). Revista da Casa do Poeta em Brasileiro em Salvador. Salvador: Grafinort, 2005. n. 6. p. 5-12. Disponível em: [http://www.movimentopoetrix.com.br/visualizar.php?idt=300326]. Acesso em: 26 set. 2016.

Salvador/BA, 22/09/2016.

Oswaldo Francisco Martins
Enviado por Oswaldo Francisco Martins em 21/09/2016
Reeditado em 03/02/2024
Código do texto: T5768359
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