etimologia da língua portuguesa

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº48

Nome do vento leste na Grécia antiga,Eûros inspirou a moeda européia, o euro,hoje mais forte do que o dólar e longe de fanar,verbo que vem do latim fanare,murchar,cortar,amputar,sacrificar no templo,também usado por Pero Vaz de Caminha no sentido de circuncidar.

Cantor: do latim cantor,aquele que pratica o cantum,canto,do verbo canere,cantar.É uma das palavras mais antigas da língua portuguesa e seu primeiro registro deu-se em 1265. O cantor, conhecido também como cantador, no século XIII dispensava os palcos, apresentando-se em ruas e tabernas.Seu repertório mudava de acordo com o local. Nas ruas,popularizava feitos heróicos de grandes personagens.No Brasil,durante séculos,os cantores divulgavam sozinhos sua arte,ofício asssim definido pelo cantor e compositor Milton Nascimento:"Com a roupa enxarcada e alma repleta de chão,/Todo artísta tem de ir aonde o povo está,/Se foi assim,assim será,/Cantando me desfaço e não me canso de viver,/Nem de cantar." Com o advento do rádio,projetaram-se cantoras que dessiminaram sensualidades difusas:"Nós somos as cantoras do rádio/levamos a vida a cantar,/de noite embalamos teu sono,/de manhã nós vamos te acordar." Já as cantoras da televisão apregoam o desejo abertamente,como estes versos de Rita Lee "Me aqueça,/me vira de ponta cabeça,/me faz de gato e sapato/me deixa de quatro no ato,/me enche de amor,de amor."

Euro: do grego Eûros,pelo latim Eurus,nome do vento leste nas antigas Grécia e Roma.Designa também moeda aceita em todas as transações financeiras na União Européia,desde 1º de janeiro de 1999. E,desde 1º de janeiro de 2002,substitui as antigas moedas da maioria dos países participantes.O cineasta e poeta Sylvio Back,que acaba de lançar o longa- metragem Lost Zweig,inspirado no livro Morte no Paraíso,do jornalista e escritor Alberto Dines,preferiu o nome latino Eurus para dar título a seu recente livro de poemas,em que a luz e a profissão de cineasta aparecem, explícitas,como nestes versos:”Sou um reles/traficante de/fotogramas/antes fazendo fita/ do que viver sem/Viveca Lindfors/movies não/há mais timing/livre-se deles/do cowboy que fui/restam furtivas/infância e infâmia.”

Fanar:do latim fanare,consagrar,sacrificar no templo,de onde lhe veio o significado de cortar,amputar.A mesma raiz verbal está nas palavras profano,profanar.Aplica-se ainda ao murcho – vegetais fanados pelo sol.Pero Vaz de Caminha (1450-1500),na Carta a El Rei Dom Manuel,em que anunciou o Descobrimento do Brasil,encantado com a falta de vergonha dos índios,utiliza o particípio do verbo para dizer que os índios não eram circuncidados:”Nenhum deles era fanado,mas todos assim como nós.”Registra ainda o viço e o frescor das índias:”Uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima daquela tintura e certo era bem-feita e tão redonda,e sua vergonha (que ela não tinha!)tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra,vendo-lhe tais feições envergonhara,por não terem as suas como ela.”

Homófono: do grego homós,semelhante,e phonos,fala. É a palavra que tem o som de outra,com sentido e grafia diferentes,de que são exemplos censo (dados estatísticos) e senso (juizo,opinião),incerto (duvidoso) e inserto (incluído). Sedo,do verbo seder pronunciado com o “e” aberto,”sédo”.E ceda,imperativo do verbo ceder, é pronunciado com o “e” fechado,como em seda (tecido).Já os homógrafos,do grego homos e graphos,respectivamente semelhante e escrito,são palavras com som e grafia iguais,mas significado diverso,de que são exemplos cedo (do verbo ceder)e cedo (começo do dia).A pronúncia de vogais abertas e fechadas obedece a certas variações dialetais do português falado no Brasil.Por exemplo,gaúchos,paranaenses e catarinenses pronunciam Brasil com o “l” final sem dom de “u”.

Maria-sem-vergonha:de Maria,do latim Maria,radicado no grego María e no hebraico Miriam;sem,do latim sine,exprimindo ausência,falta,exclusão;e vergonha,do latim vericundia,vergonha.Maria-sem-vergonha é nome de uma erva de flores vistosas,abundante na África e no Brasil,alvas,rubras e violáceas, de quatro pétalas cruzadas,um escândalo ornamental. A escritora Elsie Lessa relata numa crônica ter pedido ao jardineiro :”Me respeite as avencas na garagem ,o musgo da escada, o araçá torto,o riso alegre das marias-sem-vergonha.” Sobre as vergonhas do controle de natalidade,escreveu:”Num país que cresce uma suíça cada dois anos,em que as grandes cidades estouram nas costuras com todos os problemas de excesso de população,é tempo de pensar em difundir a idéia de que uma família pode ser planejada --- e bem --- como se planeja uma viagem,um jardim,uma casa,uma vida.”

Profano: do latim profanum,pela formação pro,por,para, em frente, e fanum,lugar sagrado,em frente ao templo mas fora dele.Daí o significado de contrário a sagrado que recebeu ao correr do tempo,como adjetivo.

O escritor Deonísio da Silva é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo,diretor do Curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá,no Rio de Janeiro, autor de De Onde Vêm as Palavras (A Girafa 14ª edição) e Avante Soldados:Para Trás (Siciliano),entre outros 28 livros. E-mail:deonisio@terra.com.br

Revista Caras.

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 28/09/2016
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