O Jardim no Coração de uma Mulher

“Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.”

Salomão, em Cânticos 4:12

Cântico dos Cânticos, Cantares de Salomão, ou simplesmente Cantares é, com certeza, o livro mais romântico da Bíblia. Relatando o amor do rei Salomão pela bela mulher de pele morena “como as tendas de Quedar”, é considerado como uma figura do amor de Cristo por Sua Noiva, a Igreja. Mas, além do cunho teológico e escatológico, uma visão mais simples e superficial (ou nem tanto) do livro nos dará uma visão clara do que é o casamento segundo a Bíblia.

Companheirismo, cumplicidade, confiança e, é claro, muito romantismo são a receita de um casamento feliz – feliz, não perfeito. O casal com certeza tinha seus problemas e em 2:15, o frase “apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor” parece ser uma alegoria, onde as “raposas” e “raposinhas” podem ser os problemas grandes e pequenos que um casal enfrenta.

No capítulo 4, porém, está uma declaração interessante, embora não mais digna de atenção que o restante do livro. Mas, por ora, meditemos nesse texto.

“Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.”

Cânticos 4:12

Neste versículo, a mulher é comparada a um “jardim fechado”, numa alegoria um tanto curiosa. Quem conhece um pouco da vida no campo e tem algum conhecimento de agricultura com certeza terá alguma familiaridade com essa metáfora. Um jardim dá uma ideia de um ambiente agradável, onde se pode descansar; um lugar produtivo, onde pode-se colher bons frutos e um lugar onde se pode apreciar beleza.

Mas, para que um jardim seja produtivo e belo, há alguns cuidados a serem tomados. Da mesma forma, deve-se cuidar do coração de uma mulher para que este floresça (ou de um homem, caso uma mulher leia essas linhas; farei alusão ao coração feminino em concordância com o texto em questão, que descreve uma mulher, porém as observações descritas neste pequeno estudo valem para ambos).

O SOLO DEVE SER BEM PREPARADO para se ter um jardim produtivo e belo. Enquanto ervas daninhas (ou “mato”, numa linguagem popular) podem crescer em qualquer lugar, flores e árvores frutíferas só crescem em solo fértil. Caso o solo não possua fertilidade, tais plantas morrem ou crescem deficientes e improdutivas.

Da mesma forma, o coração de uma mulher é um solo que deve ser preparado. As atitudes de um homem para com uma mulher são como o manejo do solo, podendo torná-lo fértil e produtivo ou endurecido e improdutivo.

DEVE-SE REMOVER AS ERVAS DANINHAS, pois, como dito no tópico anterior, estas podem crescer em qualquer lugar. Atitudes negativas são sementes de ervas daninhas que podem crescer no solo de um coração, enquanto atitudes positivas podem arrancá-las. O autor do texto em estudo, o sábio rei Salomão, disse em outro de seus livros, Provérbios: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Provérbios 15:1). Furor ou ira é um tipo de erva daninha que pode crescer em um coração. Uma atitude positiva (a “resposta branda”), pode removê-la, enquanto uma negativa (palavra dura, ou, numa linguagem popular, “má resposta”), pode plantá-la. Isso vale para boa parte dos defeitos que uma pessoa pode ter – embora, é claro, a pessoa em questão também deve cuidar para não deixar que as atitudes negativas de outrem se transformem em ervas daninhas dentro de si.

DEVE-SE ESCOLHER O QUE SE VAI PLANTAR, e quanto de espaço cada planta deve ocupar. Assim, deve-se escolher bem quais as virtudes deseja ver no coração de uma mulher, e quanto investir em cada uma delas. Deve-se investir de forma que as virtudes mais importantes se desenvolvam sem empecilho algum, e floresçam de forma abundante. Afeto, carinho, alegria, bondade são bons exemplos.

É PRECISO CUIDAR DO QUE SE PLANTA, pois uma flor ou árvore que se planta precisa de cuidados para que cresça, floresça e frutifique. Cada planta necessita de um tipo de cuidado, assim como cada virtude. O coração de uma mulher deve ser cuidado, e deve-se investir em cada cada virtude de maneira diferente, de acordo com as peculiaridades de cada uma.

Por fim, a própria mulher deve guardar seu coração, e torná-lo um “jardim fechado”. Ela deve escolher com cuidado quem entra em seu jardim, pois um jardim aberto tem seu solo pisado e endurecido. Não é todo mundo que sabe apreciar um bom jardim. Basta olhar a diferença entre um jardim público (uma praça, por exemplo) e o jardim de uma casa com muros e grades, onde apenas a família residente tem acesso. Em um jardim aberto, pisa-se na grama, joga-se lixo entre os canteiros, plantas são arrancadas e árvores e arbustos são quebrados.

Em um jardim fechado há cuidado com o que está plantado, são respeitados limites onde se pode andar e as flores são fertilizadas para crescerem mais, as árvores são podadas para que haja mais frutos.

Assim, um relacionamento plantado em um jardim como esse sem dúvida crescerá, florescerá e frutificará.

“O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. (2 Timóteo 2:6)

“(...)Quem planta uma vinha e não come do seu fruto?(...)” (I Coríntios 9:7)

“A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa.” (Salmos 128:3)