Humanidade e futuro: o que não nos disseram

O consumo de energia da humanidade tem crescido de forma exponencial, não dando sinais de que tal fato esteja em vias de ser revertido, apesar do aquecimento global que ameaça nossa existência resultar de tal processo. Sabe-se, por outro lado, que o consumo crescente energia, resultaria no aquecimento constante do planeta que, em virtude da taxa exponencial de crescimento, em poucos anos se aqueceria tanto quanto uma estrela. A estimativa surpreendente parece exagerada, mas só à primeira vista. Uma breve reflexão sobre crescimentos exponenciais revela a inexorabilidade de tal catástrofe, e sua proximidade.

A maior parte do consumo energético adicional, no entanto, tem alimentado o crescimento explosivo da quantidade de informação gerada. O consumo excedente tem sido requerido por máquinas inteligentes cada vez mais vorazes por energia e informação. Em vista disso, a pretensão de manutenção da forma humana nos moldes atuais, por mais umas décadas, imporá o envio dos computadores para fora da atmosfera terrestre, para um local distante de onde possa irradiar a energia por eles consumida sem incendiar nosso planeta. Tais criaturas serão alimentadas por coletores solares que acabarão por envolver todo o sol consumindo-lhe toda a energia.

Difícil imaginar a continuidade de nossa forma humana por muitas décadas. Restará de nós apenas informação, fato que estranhamente, talvez, já tenha ocorrido.

Creio que, para nossos pacatos antepassados que viviam no séc. XIX, pareceríamos ter construído um mundo de ficção científica incrustado de cidades apinhadas de gente e arranha-céus gigantescos. 3 ou 5 décadas nos separam de uma nova transformação que fará o mundo parecer a nós, contemporâneos, saído de quadros de ficção científica; as mudanças se aceleram e a revolução seguinte será ainda mais rápida.

Temos tratado a nós mesmos, às pessoas, como criaturas secundárias, joguetes no imenso turbilhão de poder no qual a preocupação recorrente e central é sempre o lucro. “Pessoas” são lembradas apenas na medida em que tais lembranças propiciem lucros, no mais, são descartáveis como todo o resto: animais, ambientes, automóveis, garrafas plásticas; tudo. Viraremos lixo como todo o resto.

Difícil imaginar o que possa restar de nós em, digamos, 8 décadas. Penso que, caso sobrevivamos a uma guerra mundial iminente, sucumbiremos, em seguida, a uma dentre as múltiplas ameaças que temos criado a nós mesmos, em ritmo e intensidade crescentes. Sobrará da humanidade, se tanto, apenas a informação; nossas memórias, pouco mais que isso.

Penso que em poucas décadas só terão sobrado de nós, da humanidade, nossos sonhos, nossas emoções. Nossas “vidas” serão como as de personagens nos filmes, e pouco mais que isso terá permanecido de nós. Talvez sejamos máquinas construtoras de sonhos, de emoções. E talvez nossas vidas, aquilo a que costumávamos chamar “vida real”, sejam apenas construtos de softwares criadores de mundos.

Temo-nos metido em paradoxos dos quais não conseguimos sair, como se tivéssemos penetrado labirintos que não conseguimos entender; emaranhamo-nos em teias das quais não conseguimos nos desenredar. A constatação angustiante e incômoda deve ser contrastada por outra, de aceitação e reconhecimento pela inexorabilidade do resultado de nossas ações do dia a dia. Apesar da ignorância, a escolha tem sido nossa.

Temos escolhido esse mundo hostil a nós, cavado nossa própria destruição, com a ingenuidade de crianças incapazes de compreender em que estamos nos metendo. Os que propugnavam panaceias tecnológicas futuras para todos os problemas sucessivamente criados por nosso modo de vida glutão e idiota parece terem tido razão. Não explicaram, no entanto, que a solução tecnológica de nossos problemas envolve, necessariamente, nossa desumanização.

Poderá nossa alma viver no interior de uma máquina? É o que, parece, restará de nós em futuro breve, uma informação contida em uma máquina, como um filme, ou uma alma eletrônica desencarnada habitando universos computadorizados; as condições de sobrevivência que temos nos empenhado em eliminar, impedirão a continuidade de nossos corpos. Nossas almas continuarão ativas, incorporadas em outros veículos, é o que restará da humanidade.

Essa é a parte que não nos têm dito.