Saussure, Martinet, Jakobson, Chomsky e Benveniste: pontos de vista sobre a linguagem

Para Saussure, a língua é um objeto suscetível de classificação, sendo tomada como um produto social da linguagem e como um conjunto de convenções necessárias (de maneira arbitrária) adotadas pelo corpo social para que os indivíduos permitam-se o exercício da faculdade da linguagem. É um sistema de signos que obedece às leis de contratos estabelecidos pela comunidade. Ele considera a língua como uma fatia social na medida em que está serve para se comunicar. Saussure focaliza seu trabalho no estudo da língua (langue) e não da fala (parole), por considerar aquela um produto social depositado no cérebro de casa falante, enquanto a fala não é objeto de suas pesquisas por considerá-la um ato individual de combinações feitas pelo falante que utiliza os códigos da língua, isto é, seu interesse foi sistematizar o funcionamento das estruturas estáveis da linguagem (a língua).

Para Martinet, a língua é um instrumento de comunicação, que se dá por meio da articulação de unidades mínimas de significação: som (fonemas) e significado (monemas) e através da relação entre essas unidades. Sobre a função de significação, Martinet específica a língua como meio de comunicação e expressão, em que a comunicação se concretiza através do repertório (fixação de constituintes gramaticais na língua) e do movimento (variabilidade e evolução das línguas pelo uso concreto por parte dos falantes).

Para Jakobson, a língua estabelece-se pela conexão entre os sons que desencadeiam significações na fala. Martinet atribui unidades mínimas de significação para o entendimento da língua. Logo, a aproximação entre ambos os autores se dá em relação ao estabelecimento que ambos dão a língua como união do fonológico e do sentido (significação). Afastam-se pelo fato de que Martinet propõe unidades mínimas de significação, mesmo em monemas e em fonemas; já segundo Jakobson, para que se configure um ato comunicacional faz-se necessário o uso de uma a três funções da linguagem propostas por ele.

Jakobson, então, pensa nas funções da linguagem como uma espécie de causa e de consequência no e do ato comunicacional, assim funcionando a comunicação através de usos nos diferentes processos para se construir uma significação entre locutor e alocutário. Não obstante, Jakobson teve por objetivo referenciar as produções da comunicação verbal segundo códigos de contextualização, estruturando, assim, os fatores e pormenores que cerceiam a fala como invariável. Revelou então as necessidades que comandam o exercício da língua, destacando, pois: a assimilação, a diferenciação, a invariabilidade e a expressividade.

As funções constitutivas da natureza da linguagem propostas por Jakobson vão marcar o papel de cada elemento do esquema de comunicação, em que temos um emissor, um receptor, uma mensagem, um código e um canal. Essas funções são as seguintes:

*Função referencial: centrada na mensagem; quando alguém quer dizer alguma coisa e é norteada pelo referente que representa as minúcias do contexto. Assim quando o emissor diz “São duas horas” ele centra a sua mensagem em um estado de coisas do mundo (referente).

*Função emotiva: tem-se um eu que se expressa de forma a dominar em sua mensagem um sentimento muito específico de seu âmago. Centra-se no emissor e na sua produção de enunciado segundo o que está sentindo no momento. Assim quando o emissor diz “ai” ele salienta sua dor, algo muito específico dele (é a maneira como ele expressa o que sente).

*Função conativa: estabelece-se uma espécie de chamamento, ou apelação. Por isso a função conativa centra-se no receptor, uma vez que o chamamento exige uma resposta. Assim quando o emissor diz “João, ei, você vem na aula?” ele espera uma resposta rápida, portanto compõe a sua fala citando o nome do receptor a fim de evocar o contato.

*Função fática: nessa função o importante é o contato que liga emissor e receptor, logo, centrada no canal. Tem por finalidade enfatizar, prolongar o contato, ou até mesmo iniciar o contato. Assim quando o emissor diz “Oi!” ele privilegia a comunicação, o imediatismo, o estabelecimento de contato com o receptor.

*Função metalinguística: são as informações que se acrescem para referendar e reiterar o que se disse anteriormente; é a explicação da linguagem pela linguagem. Centra-se no código. Quando, por exemplo, eu dá-se um sinônimo, ou explica-se o sentido de uma palavra, ou um emissor diz que a palavra “casa” é um substantivo, está-se usando a linguagem para falar da própria linguagem.

*Função poética: ultrapassa, muitas vezes, o âmbito do real, por significar simbolizando; é a função mais recorrente na Literatura; ela se dá toda vez que privilegia a própria mensagem como meio de persuadir pelo excesso de cuidado ao usar uma palavra, isto é, depende do contexto de uso, do receptor para quem se destina. Pode ser pensada como conviva de um contexto cultural. Por exemplo, quando o emissor quer dizer algo de forma mais apaixonada ao receptor, ao invés de falar seu nome pode diz falar “minha flor”. Ele simboliza, para conquistar o receptor, usando da fala que julga mais adaptável ao momento e em face da personalidade do receptor.

Jakobson prescreve que todo código linguístico é multiforme e livremente escolhido pelo sujeito falante. Sendo que os fenômenos linguísticos se realizam em um contexto variado de acontecimentos e nesses mesmos contextos pode prevalecer a individualidade da fala de cada sujeito, que traz em si uma historicidade própria, podemos pensar que a relação entre Linguística e Poética se dá, justamente, pela ligação entre a palavra e o mundo simbólico contido no discurso poético. Simbolizar é característica do ser humano, então, podemos ter um identitário simbólico coletivo (em comum e fechado), como também um imagético individual (próprio e aberto).

Temos um conhecimento estruturado pela simetria que as noções comuns do todo nos possibilitam. Existe, portanto, uma organização na mente humana que permite reconhecer e interpretar o “todo” solto que nos chega ao pensamento. Entretanto, apesar de certos mecanismos de assimilação do conhecimento, somos, de modo associativo, seres que necessitam de experiências para formular aprendizados mediante as impressões advindas do meio externo. Logo, um conhecimento imediato (construído no ato presente), não se estrutura somente pela notabilidade comum universal, mas também pela sobreposição de experiências anteriores (de contexto, de gênese), que suscitam pontos de apoio e de encaixe para que o eu (o ego) internalize um novo conhecimento.

Segundo Chomsky, é na mente que a linguagem se revela como órgão natural inato, isto é, todo indivíduo tem uma faculdade da linguagem (universalizada e em comunhão de igualdade entre todos). O estímulo são os dados de entrada que conduzem o indivíduo a uma percepção. São pólos entremeados por uma interpretação, sendo essa um sistema de crenças, ou seja, um conhecimento que o falante tem da linguagem, e esse conhecimento se prescreve por meio de regras associativas de representação no nível sintático, morfológico e semântico da língua. Basicamente, podemos descrever o ato de estímulo e percepção como um desencadeamento linear, em que o estímulo é produção do meio externo (logo, físico e material) que se introjeta na mente do falante, e, então, esse estímulo na mente do falante acaba por se organizar e por se estruturar pelo processo latente de linguagem (intrínseco, inato e universal em todo sujeito), e posteriormente, o falante tem uma percepção, atribuída pela faculdade inata da linguagem e pela indução particular da experiência, e com isso, lhe é permitido construir sentenças gramaticais.

Para Chomsky, a linguagem é uma capacidade inata e específica do ser humano, transmitida geneticamente e, portanto, segue propriedades universais da língua. Para o referido linguista, a aquisição da linguagem dá-se por meio de dois processos: competência e desempenho. A competência é a porção do conhecimento do sistema linguístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua, isto é, a competência é a capacidade inerente que todo sujeito falante tem de produzir e de compreender todas as frases da língua, isso evidenciado pela faculdade inata de linguagem. O desempenho corresponde ao comportamento linguístico, ou seja, é a performance do falante, é a construção da sua língua de acordo com convenções sociais, crenças, atitudes emocionais, etc. É o uso concreto da língua, portanto, é um mecanismo adquirido.

Já para Benveniste, a linguagem não é uma fabricação humana, pois ela está na natureza do homem. É dentro da língua e pela língua que o indivíduo e a sociedade se determinam mutuamente (por contraste), dado que ambos somente ganham existência pela língua. Segundo Benveniste, a linguagem não é apenas um ato de comunicação, um processo de transmissão de informações, mas também é a funcionalidade de estabelecer e de manter a reflexão acerca do reconhecimento (o eu que interpela se reconhece pelo reconhecimento que o tu lhe dá). Assim, a linguagem caracteriza-se pela impostação de expressar-se como partícipe do mundo, a partir do enunciar, isto é, com o enunciado conhecemos não somente a identidade do emissor, mas também a sua identificação linguística e as condições da sua situação enquanto bem fisiológico e psicológico como ser humano.

Quando Benveniste afirma que a linguagem é marcada pela expressão da subjetividade entende-se que é no ato da fala que marcamos a nossa pessoalidade, a nossa valoração ideológica e cultural, além da nossa consciência sobre nós mesmos e sobre o nosso falar. A linguagem é a expressão da subjetividade porque estabelece através do discurso a existência de um ego (eu), e, por conseguinte nos insere e nos marca não apenas no ato comunicacional, mas também no papel social que desempenhamos, e, sobretudo, no papel que representa a nós mesmos e aos outros. Além de que o discurso mantém a nossa historicidade enquanto seres constituídos por identificações socioculturais.

Em suma, Saussure importou-se em sistematizar a língua, explicando-a por ela própria, pelo seu valor funcional na estrutura. Martinet tratou a língua pela relação dialógica: estrutura e som unidos para significar, construindo sentenças e dando condições ao discurso (comunicação). Jakobson abarcou os estudos da linguagem priorizando o ato de comunicação verbal enquanto apreensão do contexto, do uso concreto da fala, que estabelece assim um fato heterogêneo, que se mostra variável pelas condições de produção do discurso e mais relevante ainda, seria dizer que variável por estabelecer o individual de cada sujeito falante. Chomsky considerou a língua como uma propriedade estruturada por finitude de sentenças gramaticais produzidas pela gramática internalizada e inata em todo ser humano, mas definiu que o desempenho do falante na língua provém de fatores externos à estrutura inata, aprendido com a experiência social. Benveniste estabeleceu a língua como um traço de comunicação; traço porque individual e subjetiva, entretanto afirmou que a condição para a comunicação se dá pelo uso, pelo contexto e pelas normas, e a priori pela subjetividade do sujeito falante.

Referencial teórico:

BENVENISTE, É. Problemas de Linguística Geral I e II. Campinas: Pontes, 2005.

CHOMSKY, N. Knowledge of language: its nature, origin and use. New York: Praeger, 1986.

JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. Tradução J. Blikstein; José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1992.

MARTINET, A. Elementos de Linguística Geral. São Paulo: Martins Fontes, 1975.

SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Tradução Antônio Chelini, José Paulo Paes; Isidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1999.