Igualdade dos Sexos - Uma Visão Cultural

Historicamente se sabe que nas mais diversas civilizações primitivas homens e mulheres desempenharam papéis diferentes. Nas sociedades patriarcais as mulheres eram submetidas ao controle masculino, ficando sob a autoridade de pais, maridos, irmãos, cunhados e representantes da sociedade organizada. Neste caso, freqüentemente as mulheres permaneciam confinadas ao lar, sem direitos políticos e praticamente igualadas à condição de servos (como na sociedade ateniense).

Por outro lado, nas civilizações onde a descendência seguia a linhagem materna ou nas quais ocorria o afastamento constante dos maridos devido ao envolvimento com guerras e conquistas (como a sociedade espartana), as mulheres alcançavam certa independência, decidindo os negócios familiares e, freqüentemente, procedendo à administração de seus bens. O fato é que em qualquer tempo, a relação entre homens e mulheres foi influenciada pela maternidade de um lado e pela superioridade da força física de outro.

As mulheres assumiram papel de destaque na sobrevivência das famílias ao engravidar, alimentar os filhos, praticar a coleta de frutas e demais alimentos oferecidos pela natureza, ao domesticar animais e desenvolver as primeiras atividades agrícolas. Os homens assumiram papel de igual destaque na sobrevivência das famílias ao praticar a caça, defender seus territórios de tribos inimigas e animais selvagens. Homens e mulheres, embora com papéis diferentes a desempenhar, interagiam entre si e zelavam pela sobrevivência de toda a espécie humana.

Guardadas as diferenças físicas em decorrência de desenvolvimentos hormonais, que podem ser melhor compreendidas por meio de um estudo com enfoque biológico, nas palavras de LARAIA (1997, p. 108), "como nosso sistema nervoso central – e principalmente a maldição e glória que o coroam, o neocórtex – cresceu, em sua maior parte, em interação com a cultura, ele é incapaz de dirigir nosso comportamento ou organizar nossa experiência sem a orientação fornecida por sistemas de símbolos significantes". Compreende-se, portanto, que sistema biológico e sistema cultural (transmitido por linguagens que nada mais são do que sistemas simbólicos), ao longo de todo o desenvolvimento da humanidade, interagiram e influenciaram no comportamento de homens e mulheres.

Assim, diante de papéis diferentes, determinados pela cultural desenvolvida no seio das civilizações e transmitida de pai para filho, homens e mulheres desenvolveram propensões diferentes. LAPLATINE (1989) defende que o indivíduo é o resultado do meio cultural em que foi socializado, enquanto para LARRAIA (1997), instinto de conservação, instinto materno, instinto sexual, instinto filial, entre outros, não se referem a comportamentos determinados biologicamente, mas sim a padrões culturais. Em outras palavras, tudo o que o homem faz, aprendeu com seu semelhante e não decorre de imposições originadas fora da cultura.

Há de se ressaltar que a cultura de qualquer civilização, embora dominada pela ideologia do mais forte, não está isenta da influência dos submetidos, seja por sua reação às circunstâncias, seja pelas emoções e necessidades diversas dos indivíduos em estreita relação.

Embora atualmente exista uma infinidade de especulações sobre a pretensa igualdade entre homens e mulheres, o que se pode dizer sem sombra de dúvidas é que ambos desenvolveram-se em um mesmo ambiente ecológico, sob regras culturais e morais que incidem sobre cada um com efeitos diversos e, juntos, deram origem à novas gerações, uma após outra, complementando-se, embora com papéis diferentes a desempenhar.

Se é verdade que hoje a manutenção das diferenças não é essencial à sobrevivência de toda a espécie, também é verdade que a influência cultural de tempos passados ainda está presente e faz com que homens e mulheres mantenham expectativas de que da combinação de suas diferenças surja a complementação para suas vidas.

REFERÊNCIAS

LAPLATINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1989.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura – Um Conceito Antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.