Um paradoxo: A breve e eterna busca da felicidade - Por Telêmaco Marrace

Um paradoxo: A breve e eterna busca da felicidade

Por Telêmaco Marrace

Especialista em docência no ensino Superior - UNICESUMAR

A busca da felicidade é breve pela morte, e eterno pela existência, apesar de ser finda, o que também seria breve! Mas o que nos interessa é que não poderia existir um discurso homogêneo sobre a vida, pelo simples fato de sermos de natureza heterogênea! Cada Ser constrói na sua caminhada o seu próprio destino baseado em suas vontades e cotidianamente alimentando seus “heróis” e “monstros” internos. As barreiras que criamos em nosso caminhar nada mais são do que justificativas frente às possibilidades de mudanças! O senhor do destino é você mesmo, decidindo sobre as dores e os prazeres da vida, pautadas com uma “pitada” de razão.

Acostumar-se com a condição a qual estamos inseridos e deixar a mudança ao soprar do vento é verdadeiramente entregar suas vontades às rédeas da ficção chamada destino!

Platão na sua filosofia, sempre deu destaque ao mundo das ideias. O Filósofo grego faz uma diferenciação entre o mundo sensível (esse concreto ao qual vivemos) e o mundo das ideias — eidos, em grego, aquele que existe no plano abstrato. E analisando profundamente seus ensinamentos, chegaremos ao conhecimento de que um se encaixa no outro e as ideias preponderam para o movimento no mundo concreto, ou seja, são elas que farão as coisas acontecerem, modificarem, criarem, etc...

Partindo desse conceito, a busca de estar bem, no mundo concreto, é criado pelo mundo das ideias. A essência apesar das diferentes formas que a vida nos apresenta, no fundo é sentir esse bem estar, criado dentro das necessidades que cada um desenvolve para si, no sentido de estar bem!

Apesar de não dar ênfase ao mundo platônico, Epícuro, cuja filosofia epicurista foi a busca da felicidade (eudaimonia),que se obtém através da chamada ataraxia, que seria a tranquilidade, a calma e principalmente a apatia aos apetites mundanos, valorizando o (hedoné) que apresenta naturalmente, incentivando nossos desejos de forma espontânea, criando o bem estar para nossa saúde e também momentaneamente criando nossa felicidade, mas nunca deixando a razão de lado. Nesse ponto recomendava o uso ponderado da mesma, para que existisse a sincronia!!!

Trazendo isso para o mundo moderno, veremos que somos empurrados cada vez mais para a busca da felicidade em prazeres materiais e as vicissitudes da alma, baldramando no falso concreto que você só pode ser feliz através das conquistas.

Óbvio que não se pode entregar aos prazeres momentâneos sem o uso ponderado da razão, mas tão óbvio também é que não se pode exagerar na busca da vida extremamente regrada!

A “matança” da filosofia epicurista, nos seres humanos está estampada nos casamentos falidos que se ancoram na falta de coragem de atitudes que lhe imprimam realmente felicidade, onde relacionamentos continuam “capengando” por força moral e material, por pena e por sentimentos de culpa. A “matança” da filosofia epicurista se estampam nas pessoas que mesmo infelizes saem para trabalhar no que não gostam, no que não lhe dá prazer...A “matança da filosofia epicurista se emoldura naquele que vive preso ao dinheiro exageradamente e pensa em acumular, na miséria de um café, de um almoço, de uma viagem, deixando a vida passar pelo mesmo, como uma neblina...E quando se vê, perdeu o mapa da volta, criaram-se pedras no caminho do retorno, acabou-se o viço do momento e lhe resta um corpo deteriorado pelo tempo e um cofre cheio de ouro que ficará no plano concreto...A “matança” da filosofia epicurista está escancarada em inúmeros exemplos cotidianos!!!

Em 2009, quando no livro CAFÉ COM O GREGO, escrevi sobre as ágoras virtuais, numa expansão do nosso “eu”, numa espécie de “onisciência” que seríamos submetidos através da tecnologia e das redes sociais, quis emoldurar uma visão futurística de mais interatividade, o que é benéfico, mas ao mesmo tempo, nessa “teia” tecnológica, poder observar mais o “íntimo” de cada um! Aliás, o íntimo que cada um revela... E nesse mundo de revelações, a “matança” da filosofia epicurista está ali na tela de seu computador, de seu celular... Basta ter perspicácia para entender o “íntimo” de cada ser!!!

As ideias de Epícuro estão escassas e a filosofia platônica, está cada vez mais construída...AS IDEIAS CONSTROEM O CONCRETO...O CONCRETO QUE VOCÊ QUER...MESMO NÃO QUERENDO...EIS O PARADOXO!!!

Telêmaco Marrace –

Especialista em Docência no Ensino Superior